"Estamos do mesmo lado": A mensagem de Donita Sparks, do L7, para os brasileiros
Vinte cinco anos separam a primeira turnê brasileira do L7, quando a banda se apresentou no histórico Hollywood Rock de 1993, dos cincos shows agendados nos país entre este sábado (1º) e a próxima quinta-feira (6), com abertura do Soul Asylum em São Paulo. Tempo demais para um grupo que marcou época e hoje, em plena era da informação e da polarização, soa tão atual.
Considerada a mais politizada da cena grunge, a banda feminina promove desde os anos 1980, em suas letras, músicas e atitudes, o empoderamento, muito antes de o termo reverberar e inspirar movimentos sociais como o #MeToo, que combate o assédio no mundo do entretenimento.
"Nosso foco principal é mostrar nossa mensagem. Nós vamos protestar nos shows, mas da nossa forma. Temos muitas letras com conteúdo político, mais do que qualquer um de nossos contemporâneos", frisa ao UOL a vocalista Donita Sparks, que reativou o L7 em 2014, após mais de 13 anos no estaleiro.
"Vimos outras bandas se reunindo, e achamos que seria legal para os jovens ter a chance de nos ver de novo. Era uma coisa de 'agora ou nunca'. Toda essa experiência tem sido muito divertida e empoderada", explica ela. Enquanto excursiona pela Europa e América, Donita Suzi Gardner, Jennifer Finch e Demetra Plakas também preparam um novo álbum de estúdio, o primeiro em duas décadas.
Como soará o L7 do século 21? A recente música "Dispatch From Mar-A-Lago", que alfineta Donald Trump e seu resort na Flórida, dá a letra. "Sentíamos que tínhamos algo a dizer. Será um disco pesado, pegajoso, com letras diretas, políticas, mas também divertidas. Na real, será como sempre foram nossos discos."
Veja abaixo os principais trechos da entrevista.
UOL - O que o L7 espera desta volta ao Brasil?
Donita Sparks - Esperamos um amor louco, provavelmente (risos). Vindo de nós e retribuído pelo público. A julgar pelos comentários que temos lido no Facebook, as pessoas estão empolgadas com nossa turnê. Estamos realmente superempolgadas com a chance de voltar ao Brasil.
Quais suas melhores lembranças dos shows do Hollywood Rock de 1993?
Eu estive no Brasil duas vezes. Com L7 em 1993 e solo em 2008. Com o L7 foi realmente louco e fabuloso. Foi provavelmente a única vez na nossa carreira que as pessoas nos seguiam para onde íamos. Havia muita coisa acontecendo, porque envolveu um grande festival. Havia uma excitação no ar. O backstage era bem colorido, com muitas bandas transitando. E nós conhecíamos todas elas. Éramos amigos de todos. Foi uma estranha sensação do tipo "uau, estamos aqui nesse festival enorme", e aquilo era bem esquisito.
João Gordo, vocalista do Ratos de Porão, conta uma história do dia em que ele saiu com integrantes do L7 e o casal Kurt Cobain e Cortney Love numa noitada selvagem em São Paulo. Você estava com eles?
Não me lembro. Lembro, sim, de sair uma noite para dançar, e eu até tentei tentar dançar samba. Mas não tenho certeza se o Kurt estava lá.
Por que o L7 resolveu voltar à ativa?
Estávamos conversando há muitos anos sobre como a banda merecia ter algo documentado. Tivemos a ideia de produzir um documentário, e eu tive que entrar em contato com todas as integrantes. Então nós começamos a conversar. Vimos que outras bandas estavam se reunindo e achamos que seria legal para os jovens ter a chance de nos ver de novo. Sentimos que era uma coisa de "agora ou nunca". A experiência tem sido muito divertida e empoderadora. É legal as pessoas terem a chance de nos ver nesses novos tempos malucos.
O que você acha de ser associada ao movimento riot grrrl, do feminismo underground americano?
Acho que o riot grrrl produziu muitas coisas legais, mas essas bandas vieram de um ambiente universitário, e nós somos diferentes. Somos garotas da cidade, sabe? Tínhamos de pagar o aluguel, usar drogas, ser más e fazer tudo funcionar [risos]. Estávamos fazendo isso. Acho que grande parte do movimento riot grrrl usava a música como mecanismo para passar uma mensagem, e as bandas tinham determinado ponto de vista. Nós também tínhamos, mas nosso foco principal sempre foi em ser uma banda de rock muito, muito boa.

Alguns shows recentes no Brasil, como o de Roger Waters, foram marcados por manifestações políticas do público. Como vocês encaram isso?
Se o político criticado for um idiota, tudo bem protestar, desde que não façam o rock and roll parar. Nosso foco principal é mostrar nossa mensagem. Vamos protestar nos shows, mas da nossa forma. Nós temos muitas letras com conteúdo político, mais do que qualquer um de nossos contemporâneos. Queremos que os fãs brasileiros saibam que não estamos contra eles. Estamos do mesmo lado.
Ano passado vocês lançaram "Dispatch From Mar-A-Lago", faixa que alfineta Donald Trump. Que conselho daria a quem quer viver bem neste mundo atual, em que ele é a pessoa mais poderosa?
Conheça bem quem está do seu lado e os apoie. Crie arte e outras coisas que ajudem as outras pessoas, seja da forma que for. Esteja a serviço de algo que seja legal. É isso. Acho que temos que agir para fazer as pessoas se sentirem bem no mundo. É um serviço importante a ser feito nesses tempos malucos. Persevere, contribua, faça algo legal.
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