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Caetano Veloso relembra experiência com ayahuasca e fala de falta de talento

Caetano Veloso no "Lady Night" - Divulgação/Multishow
Caetano Veloso no "Lady Night" Imagem: Divulgação/Multishow

Jonathan Pereira

Colaboração para o UOL

27/11/2018 07h11

Caetano Veloso falou de sua experiência ao tomar ayahuasca e elogiou Anitta no "Lady Night" de segunda-feira (26), com Tatá Werneck. Além disso, o cantor fez uma autocrítica sobre o seu talento musical e sua carreira.

"Eu sou muito insatisfeito. Acho que ainda não fiz um negócio que eu diga: 'valeu'. Eu nem ia fazer música porque eu não tenho muito talento para música. Muitos amigos meus músicos sabem do que eu estou falando. Não tenho ouvido musical e eu tenho arrependimento de não ter estudado. Poderia ter desenvolvido mais isso se tivesse estudado", disse Caetano, deixando Tatá atônita.

O cantor também relembrou o que passou durante a Ditadura Militar (1964-1985) e criticou quem pede o retorno do período. "Sou da geração que foi jovem nos anos 60, bebi muita cerveja e cachaça, depois abandonei a cachaça, mas as outras drogas eu nunca me liguei. Nunca tomei ácido, tomei ayahuasca em 1968. Realmente eu vi umas coisas", disse, descrevendo sua experiência.

"Vi corpos de pessoas indianas, homens e mulheres todos nus, e que dançavam formando também mandalas. Essas mandalas iam aos poucos desenhando um rosto que era o centro de tudo, o Deus. Fiquei horas sofrendo, muito consciente que estava mal", recorda.

Ele falou de suas preferências musicais. "Gosto de estilos muito diferentes. Gosto de Anitta muito. Sabe que Anitta me impressiona? O ensaio parece que já é um disco. E ela é afinada, uma segurança de nota". 

Prisão e exílio

Veloso contou o que passou na mão dos militares. "Durante a ditadura fui preso, fiquei dois meses na cadeia. Uma semana na solitária deitado no chão com uma porta de ferro, sem que ninguém me dissesse por quê. Não fui interrogado, havia desorganização, desrespeito pela pessoa humana. Não sofri tortura como algumas pessoas que morreram, foram assassinadas dentro de locais. Durante a prisão fiquei meio como se a vida real tivesse sido um sonho, que a verdade era aquela solitária. Um momento que sofri demais foi quando cheguei em casa e a família não estava. Fiquei mais doido que no dia do ayahuasca. Eu olhava no espelho e não sabia quem era. Meu pai bateu o olho em mim e disse: 'não me diga que você deixou esses filhos da p*** te deixarem nervoso?'". 

O cantor precisou deixar o país. "A imprensa não podia dizer nada, era censura prévia. Quando fui para Londres, a única solução era me exilar. Fiquei muito triste, não gosto de viver fora do Brasil. Fiquei dois anos e meio lá e, quando pude voltar, voltei. Não saio daqui, só se for obrigado".

Ele tem pavor daqueles tempos. "Tem gente que fica elogiando achando que é bom. Não é bom, isso eu não admito. O respeito aos direitos de casa pessoa é uma coisa que, quando se conquista, não se deve abrir mais mão, sob nenhum pretexto. Tem acontecido no mundo inteiro e está acontecendo no Brasil. É uma neurose".

É preciso combater os problemas sociais, aponta. "Somos um país gigante, de tamanho continental, no hemisfério Sul, altamente miscigenado e ainda horrivelmente desigual. A distribuição de renda no Brasil é uma tragédia, é a doença da desigualdade. Vem da escravidão e precisa haver a segunda abolição".