Viggo Mortensen pode deixar de ganhar um Oscar por usar uma palavra racista?
Forte candidato a concorrer ao Oscar por "Green Book - O Guia", Viggo Mortensen entrou em um ponto perigoso de sua carreira. No dia 10 de novembro, em evento de perguntas e respostas para promover o longa em Los Angeles (EUA), o ator foi questionado se o filme discutia a questão racial no país e um trecho de sua resposta foi: "Por exemplo, ninguém mais diz crioulo hoje".
O ator usou o termo "nigger", que pode ser traduzido como "crioulo" e tem conotação racista. A palavra, que começou a ser usada no século 18, foi banida do Conselho da Cidade de Nova York em 2007, entretanto, mesmo que não exista penalidade para quem a usa, vem desaparecendo do vocabulário popular por ser extremamente agressiva.
Algumas horas após usar o termo e o caso viralizar na internet, o norte-americano pediu desculpas em comunicado: "Eu estava tentando deixar claro que o extremo e desumano horror que essa palavra evoca, e a atitude odiosa por trás dela, não desapareceu apenas porque as pessoas brancas geralmente não a usam mais como um insulto racista".
Seu colega de elenco, Mahershala Ali, vencedor do Oscar por "Moonlight: Sob a Luz do Luar", também divulgou um comunicado aceitando as desculpas de Viggo, mas reiterando que o uso da palavra é equivocado.
Mesmo após a controvérsia, Viggo seguiu promovendo o filme, que fala sobre um ítalo-americano que transforma-se em motorista de um pianista negro em turnê pelo Sul dos Estados Unidos na década de 1960.
"Eu acho que há um tipo de memória curta", disse um consultor do Oscar em entrevista para o site da revista "Variety". "Caso contrário, toda esta indústria iria desmoronar. O que pode mais atrapalhar as chances dele [Viggo] no evento é um fraco desempenho nas bilheterias". Para saber se a fala do ator afetará ou não suas chances na 91ª edição da cerimônia, teremos que esperar até o dia 24 de fevereiro de 2019, data da premiação.
O filme, por enquanto, estreou em poucas salas de cinema, mas a repercussão entre as críticas especializadas pode dar novo fôlego a "Green Book - O Guia".
Recentemente, a indústria cinematográfica e televisa tiveram inúmeros casos de racismo. Dois grandes executivos da Netflix e da Paramount foram demitidos por discursos de ódio contra negros; Roseanne Barr foi demitida da própria série, "Roseanne", por afirmar que uma ativista negra era filha da "Irmandade Muçulmana" e do "Planeta dos Macacos". A jornalista Megyn Kelly também perdeu o emprego por concordar com o blackface no Halloween.
"As pessoas que trabalham com Viggo realmente gostam muito dele, ele é experiente. Ele estava obviamente tentando fazer uma declaração em uma conversa e é difícil nesta atmosfera carregada dizer o que é perdoável e o que não é", argumenta um veterano executivo de cinema, que também é um eleitor do Oscar e não teve seu nome revelado, à Variety.
Alguns críticos apontaram que "Green Book" passa uma mensagem negativa sobre o preconceito racial, buscando humor onde não há e mostrando em alguns pontos o racismo como uma tolice. Cate Young, em sua crítica para o site The Muse, analisa que o filme foi feito para os brancos e ficou incomodada em particular com uma cena em que Viggo, interpretando Tony Lip, ensina Mahershala Ali a comer frango frito. "Don Shirley é retratado como um negro 'excepcional'. Distinto dos outros negros em virtude de seu talento, educação e refinamento. Lip ainda insiste que ele é o mais negro dos dois por causa de sua origem na classe trabalhadora", diz o texto.
Viggo terá concorrentes de peso na principal categoria masculina da Academia, pela qual já foi indicado duas vezes: "Senhores do Crime" (2008) e "Capitão Fantástico" (2016). Christian Bale engordou mais de 20 kg para viver Dick Cheney em "Vice". Por outro lado, Bradley Cooper imediatamente conquistou público e crítica por sua atenção dramática em "Nasce Uma Estrela" e, correndo por fora, Rami Malek se transformou em Freddie Mercury com perfeição na cinebiografia do Queen, "Bohemian Rhapsody".
A 91ª cerimônia do Oscar acontece no dia 24 de fevereiro de 2019 no Dolby Theatre, em Hollywood.
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