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"Narcos" vai ao México e consegue se dar bem com a mesma fórmula

Diego Luna em cena de "Narcos: México" - Carlos Somonte/Netflix
Diego Luna em cena de "Narcos: México"
Imagem: Carlos Somonte/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

16/11/2018 04h00

Você já conhece a fórmula: um chefe do tráfico implacável em algum país latino-americano, agentes americanos frustrados em um jogo de gato e rato que parece fadado à derrota, a violência crua que só cresce ao longo dos episódios. “Narcos: México” traz todos esses elementos já explorados nas três temporadas anteriores da série da Netflix, mas consegue se sair bem apesar da mesmice, trazendo uma história interessante e bem contada, ancorada nos talentos de Diego Luna e Michael Peña.

O quarto ano da produção, que estreia nesta sexta-feira (16), é quase um reboot. Após duas temporadas com o Pablo Escobar de Wagner Moura e uma com o Cartel de Cali, “Narcos” troca a Colômbia pelo México, que nos últimos anos viu a brutalidade de seus cartéis se tornar pauta do noticiário internacional. Sai de cena Pedro Pascal, protagonista dos três anos iniciais da série, e entra Peña, na pele do agente da DEA Henrique ‘Kiki’ Camarena. O DNA da série, porém, continua lá – e há coerência no universo que ela vem construindo nas telas desde 2015.

O ator Michael Peña em cena de "Narcos: México" - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Michael Peña é Kiki Camarena em "Narcos: México"
Imagem: Divulgação/Netflix

Kiki, assim como seu predecessor, é um agente expatriado. Tentando progredir em sua carreira, ele pede transferência para Guadalajara, no México. São os anos 1980, marcados pela política de combate às drogas do governo Reagan, e não demora para um obstinado Kiki notar que o trabalho conduzido por seus colegas consiste em enxugar gelo enquanto algo muito maior se desenrola nos bastidores, com a plena conivência das autoridades mexicanas.

Em oposição a ele está Miguel Ángel Felix Gallardo (Luna), policial e pequeno comerciante de maconha na esquecida província de Sinaloa. Mais controlado do que Escobar e mais visionário do que os colegas de Cali, Felix tem um plano ambicioso: criar o primeiro cartel do México, unindo o tráfico para sistematizar e produção e o transporte da erva aos Estados Unidos. Aos poucos ele sobe na hierarquia do crime, auxiliado pelos conhecimentos técnicos de seu primo Rafa Quintero (Tenoch Huerta) e pelos conselhos do veterano Don Neto.

“Narcos: México” é a história desses dois homens – um determinado a construir um império, e o outro, a derrubá-lo. Ao longo dos cinco episódios da série que o UOL já viu, o embate entre Felix e Kiki vai se desenhando em um crescendo, em meio a um intrigante pano de fundo que destrincha os meandros da política externa americana e dos jogos de poder que entrelaçam a política e o crime organizado. O conjunto mantém o espectador em um estado permanente de tensão, e mal dá tempo de sentir saudades dos atos espetaculosos de violência de Escobar e companhia.

Como protagonistas, Michael Peña e Diego Luna cumprem muito bem suas respectivas missões. Peña cria um Kiki que é “família” e carrega em si uma certa ingenuidade, mas se mostra obsessivo e manipulativo quando necessário. Já Luna dá atenção aos detalhes ao encarnar Felix, um chefe do crime muito mais contido do que estamos acostumados a ver na cultura pop.

A guerra às drogas não acabou, então “Narcos” ainda tem muitas histórias para contar. Uma das próximas já está indicada no novo ano, com um jovem Joaquin “Chapo” Guzmán escalado entre os capangas de Félix. O futuro, porém, depende da capacidade da série de reinventar sua fórmula antes que o público se canse.