Com técnica revolucionária, "O Senhor dos Anéis" chegava aos cinemas há 40 anos
Há 40 anos, um anel muito poderoso chegava às mãos de um certo hobbit nas telonas. Muito antes de Peter Jackson entregar a trilogia definitiva baseada na obra de J. R. R. Tolkien, uma animação de "O Senhor dos Anéis" estreava nos cinemas com uma tecnologia primitiva de captura de movimento.
O projeto foi um sucesso de bilheteria, mesmo não agradando os críticos, e ganhou o status de cult com o passar dos anos. O filme, que ainda contou com um jovem Tim Burton como animador, foi o primeiro desenho a ser exibido em som Dolby Stereo nos cinemas e teve grande influência para Peter Jackson criar os seus filmes vencedores de 16 Oscars.
Os bastidores
O responsável por se arriscar na adaptação do mundo fantástico de Tolkien foi Ralph Bakshi, um animador experiente apaixonado por "O Senhor dos Anéis" que tentava convencer os estúdios, desde a década de 1950, a contar a história de Frodo e Gandalf. Mas o cineasta não estava sozinho nesta jornada. John Booman, de "Amargo Pesadelo" (1972), também estava, em paralelo, tentando conquistar algum executivo a financiar uma versão do livro.
A ideia de Booman era condensar os três livros em um filme, com um roteiro de "apenas" 700 páginas que mudava diversos personagens clássicos --e que ainda tinha uma propaganda de tênis no meio. Ninguém comprou a ideia. Foi quando viram em Bakshi, responsável por "O Gato Fritz" (1972), um nome para adaptar o épico de Tolkien.
Bakshi negociou com a distribuidora United Artists para adaptar a trilogia em dois filmes e recorreu ao produtor Saul Zaentz, que havia trabalho com ele em "O Gato Fritz", para tirar do papel sua ideia. O diretor ainda conversou com Priscilla, filha de Tolkien, sobre o projeto e conheceu o estúdio onde o escritor costumava trabalhar.
"Minha promessa para ela foi ser fiel aos livros. Eu não iria dizer: 'Vamos jogar fora o Gollum e esses personagens'. Meu trabalho era falar: 'Isso é o que o gênio disse'", relembra Balkshi em entrevista ao site A.V. Club.
Processo de animação
"O Senhor dos Anéis" usou a técnica de rotoscopia para criar as animações do filme. Bakshi filmou o projeto inteiro com atores reais e transformou as cenas em ilustrações para criar um tom mais realista. A técnica permitia que momentos épicos da história de Tolkien ganhassem vida sem ter que arcar com custos excessivos caso fosse exibido diretamente em live-action.
O rotoscópio não era um dispositivo novo, mas fora utilizado com exagero para dar um tom cartunesco em projetos anteriores. A forma era inédita por quebrar o padrão das animações e tentar buscar o realismo, desta vez na Terra Média. A equipe do diretor pegou cada frame filmado com atores reais e tirou uma ilustração, assim é visível observar a fluidez dos personagens principalmente nas cenas de ação. A ideia era semelhante ao que conhecemos hoje sobre captura de movimentos, em que expressões e gestos são recriados digitalmente.
"A rotoscopia permitiu um realismo diferente de tudo que já tinha sido visto. Foi realmente uma coisa única para animação", analisou Ralph Balkshi.
Anunciado como "o primeiro filme ilustrado", "O Senhor dos Anéis" demorou dois anos para ser feito. "Era tão complexo que às vezes um artista conseguia entregar apenas uma sequência por semana. A maioria dos diretores, quando termina de editar, encerra o trabalho; a gente estava apenas começando".
Sem Led Zeppelin
A animação conta o primeiro livro, "A Sociedade do Anel", e metade do segundo, "As Duas Torres". A sequência, que apresentaria o final da jornada em "O Retorno do Rei", acabou sendo cancelada. Seguindo o tom épico, o diretor Ralph Bakshi planejou usar diversos temas do Led Zeppelin para criar a trilha sonora do filme. Mesmo com os integrantes da banda sendo fãs de Tolkien, o cineasta não conseguiu os direitos de usar as canções.
Durante a produção, os executivos da United Artists demoraram para ficar convencidos de que os espectadores iriam entender que Saruman e Sauron não eram a mesma pessoa. Chegou-se a cogitar uma mudança no nome do poderoso mago --sugeriam "Aruman"--, mas a decisão foi revertida, apesar de no corte final haver algumas referências a "Aruman".
Muitos nomes importantes na indústria de entretenimento começaram justamente na animação de "O Senhor dos Anéis", entre eles Tim Burton, que depois ficou conhecido por dirigir os filmes "Edward Mãos de Tesoura " e "Batman", além das animações "A Noiva Cadáver" e "Frankenweenie".
Outro que também esteve na equipe de animação foi Paul Smith, que depois ganhou fama por trabalhar em quadrinhos de Batman, Doutor Estranho e X-Men.
No elenco, alguns nomes conhecidos. John Hurt, famoso por seu trabalho em "O Homem Elefante" e "Alien, o Oitavo Passageiro", dublou Aragorn. Já a voz de Legolas foi dada por Anthony Daniels, conhecido pelo grande público por ser o C3PO da franquia Star Wars.
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