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Músico do At The Drive-In relembra seu passado: "Sou a definição de refugiado de guerra"

O vocalista Cedric Bixler-Zavala e o baterista Tony Hajjar, em show recente do At The Drive-In - Divulgação
O vocalista Cedric Bixler-Zavala e o baterista Tony Hajjar, em show recente do At The Drive-In Imagem: Divulgação

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

14/11/2018 04h00

Por que a história dos milhares de imigrantes da América Central que estão marchando pelo México em direção aos Estados Unidos interessa ao baterista do At The Drive-In, Tony Hajjar? Porque ele sabe como é ser um imigrante indesejado no país comandado por Donald Trump.

Hajjar é libanês e fugiu para os Estados Unidos no início dos anos 1980. Católico, ele viu de perto a guerra que durou entre 1975 e 1990 e envolveu disputas entre cristãos e árabes que viviam no país. "Se ficássemos no Líbano, morreríamos", contou ele em entrevista ao UOL. "Sou a exata definição de refugiado de guerra". 

Hoje aos 44 anos, o baterista lembra do episódio que viveu quando jovem. "Deixamos tudo sem olhar para trás. É evidente que sou contra a política de Trump. E a política dele nem é uma coisa dos republicanos [partido do presidente]. Já tivemos excelentes presidentes republicanos no passado. Eu não acho que Trump seja um republicano. Acho que ele é uma grande ameaça ao mundo e está destruindo o sistema social. É assustador".

Talvez pela dificuldade que enfrentou nos primeiros anos em que viveu nos Estados Unidos, Hajjar sempre teve um plano B para a vida, caso a carreira com o At The Drive-In não desse certo. E essa alternativa teve que ser colocada à prova quando o grupo entrou entrou em hiato entre 2001 e 2016.

Foi nesta época que Hajjar pagou as contas trabalhando como professor de química, além de esporadicamente tocar em outras bandas. "Sempre cresci sabendo que precisava de um plano B. Quando comecei a estudar química, percebi que eu poderia ser um bom professor. Mas eu gosto mais de estar na estrada com a banda. Não pretendo continuar dando aulas, mas sempre curti ensinar".

Show no Brasil

Tony Hajjar e seu At The Drive-In se apresentam nesta quinta-feira (15) em São Paulo no Popload Festival, no Memorial da América Latina, junto com Lorde, Blondie, MGMT, Death Cab For Cutie, Mallu Magalhães & Tim Bernardes e Letrux.

O grupo, formado em El Paso, no Texas, vai apresentar seu novo álbum "In.Ter A. Li. A" (do latim "entre outras coisas"). O disco marca o retorno da banda, dona de hits como "Invalid Litter Dept.", "One Armed Scissor" e "Pattern Against User", após o hiato iniciado em 2001, quando os integrantes se dividiram e formaram os grupos The Mars Volta e Sparta. Em 2012, eles se reuniram para algumas apresentações especiais em festivais como o Coachella e Lollapalooza, mas foi só em 2016 que eles voltaram definitivamente, porém sem o guitarrista, Jim Ward.

"Não chamaria a nossa reunião de 2012 de retorno. Foi só um reencontro de amigos. Só dá para chamar de retorno a nossa reunião a partir de 2016, quando nos juntamos para escrever um novo disco. A relação agora é diferente. Temos planos para o futuro e estamos realmente empolgados com isso", explicou Hajjar. "Agora, nos sentimos vivos. Voltamos ao rumo, escrevendo, mostrando nossas ideias. Estamos vivendo um grande momento".

At the Drive-In é entrevistado por Jimmy Kimmel - Divulgação - Divulgação
At the Drive-In posa para foto com o apresentador Jimmy Kimmel
Imagem: Divulgação

A falta de Jim Ward, que continuou na banda Sparta, é sentida por todo o grupo. "Fizemos tudo que estava ao nosso alcance para trazer Ward de volta ao At The Drive-In. Mas ele tinha outros planos. Acho totalmente compreensível. Somos adultos agora. A decisão de seguir em frente sem ele foi, obviamente, muito difícil, mas se não fizéssemos dessa forma, não voltaríamos nunca".

Hajjar celebrou ainda a longa vida que seus álbuns ganharam entre os fãs. "Mesmo ficando por um longo período sem lançar nada inédito, nossos discos continuam atuais e ganhamos novos fãs. Sei de muito moleque de 20 anos ouvindo nossas músicas. É muito bom quando isso acontece com uma banda".

No show em São Paulo, o setlist vai privilegiar os clássicos. "Vamos tocar novas músicas também, mas é claro que as mais antigas também são muito importantes. Estou ansioso igual um garotinho para tocar no Brasil".