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Joni Mitchell, 75 anos: Como o seu disco "Blue" mudou a história da música

A compositora Joni Mitchell toca violão no Canadian Songwriters Hall of Fame Gala, em Toronto, no Canadá - Aaron Harris/AP Photo
A compositora Joni Mitchell toca violão no Canadian Songwriters Hall of Fame Gala, em Toronto, no Canadá
Imagem: Aaron Harris/AP Photo

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

07/11/2018 17h27

Joni Mitchell, voz de clássicos como "Big Yellow Taxi" e "Both Sides Now", completa 75 anos de idade nesta quarta-feira (7). A artista canadense, considerada uma das maiores cantoras, compositoras e instrumentistas vivas, ostenta um legado de 50 anos em atividade: foram 19 álbuns de estúdio lançados, sendo o mais recente deles, "Shine", de 2007.

De sua vasta obra, vale destacar "Blue", seu quarto disco, lançado em 1971 com dez canções, grande parte delas escritas durante uma viagem pela Europa. Para o "New York Times", este é um dos 25 álbuns que representaram "um ponto de virada para a música do século 20". Para a "Rolling Stone", é o segundo melhor disco feminino de todos os tempos, atrás apenas de uma gravação histórica de Aretha Franklin. Em 1999, entrou no Grammy Hall of Fame, reservado para álbuns de "significância histórica e qualitativa".

"Blue" envelheceu muito bem, e hoje ainda soa único. As letras descritivas de Mitchell, suas melodias alongadas e seus agudos surpreendentes ainda são artigo raro de se encontrar no cenário musical. Mitchell é gigante no violão, tirando dele harmonias e melodias inesperadas. No piano, influências clássicas se misturam com o jazz. Desses experimentos técnicos nascem as emoções complicadas, e ainda assim mundanas, de "Blue".

O álbum reflete o fim de um relacionamento da cantora, com Graham Nash. Sobre ele, Mitchell escreve tanto a doce "My Old Man" ("Não precisamos de um papel no cartório/ Para nos manter juntos e verdadeiros") quanto a melancólica "River" ("Eu fiz meu bebê chorar/ Ele tentou muito me ajudar/ Ele me acalmava, sabe"), que conta como ela própria terminou o romance.

"Blue" também é sobre o nascimento de outra paixão. Mitchell teve um breve e arrasador caso com James Taylor, e escreve no disco sobre as alegrias do novo amor ("Tudo o que quero que o nosso amor faça/ É trazer o melhor em mim e em você", diz em "All I Want") e as complicações do temperamento explosivo do amado e seu vício em heroína --a faixa-título, "Blue", faz referência a "seringas, armas e ervas" que "preenchem o espaço embaixo da pele".

Nas entrelinhas ainda é possível detectar um discurso maior: "Blue" fala também sobre a morte da contracultura. Embora Mitchell nunca tenha se aliado ao movimento hippie, como artista, ela sentiu que o fim desta era produziu uma geração de jovens sem esperanças.

Na faixa de fechamento do disco, "The Last Time I Saw Richard", canta: "Todos os bons sonhadores passam por aqui um dia/ Escondendo-se atrás de garrafas em cafés escuros". É uma balada sobre acreditar ou não no amor, que reflete uma desilusão muito maior, ainda que não definitiva. A canção acaba com Mitchell prometendo "criar asas e voar para longe".

Mitchell criou, especialmente com "Blue", o culto à cantora-compositora. Se os ícones femininos de décadas anteriores eram mais reconhecidos como intérpretes, ela abriu caminho para Carole King, Patti Smith, Tracy Chapman e companhia. Em reflexos modernos, é possível encontrar seu estilo confessional em artistas tão diferentes como Fiona Apple, Taylor Swift e KT Tunstall.

Ouvir "Blue" hoje é testemunhar uma artista que continua vital para entender a história da música.