Fantasma de Frank atrapalha, mas Claire brilha no fim de "House of Cards"
Em sua última temporada, “House of Cards” não teve outra escolha a não ser enterrar, literalmente, seu protagonista Frank Underwood. Seu intérprete, Kevin Spacey, foi demitido da série após uma chuva de denúncias de assédio e abuso sexual – algumas vindas de funcionários da produção – e a série teve de ser reescrita para que a Claire de Robin Wright pudesse brilhar sozinha.
O resultado, que chega à Netflix nesta sexta-feira (2), é irregular: o fantasma de Frank paira sobre a série muito mais do que deveria, mas Wright se mostra plenamente capaz de conduzir a produção em voo solo.
Quando o sexto ano da série começa, já se passaram cem dias da presidência de Claire e Frank está morto – o que não melhorou a baixa popularidade da primeira mulher presidente dos Estados Unidos. Ainda que o marido esteja já sete palmos abaixo da terra, ela se vê obrigada a honrar acordos que ele fez no passado, sendo o principal deles com Anette (Dianel Lane) e Bill Sheperd (Greg Kinnear), dois irmãos republicanos donos de um império industrial.
É na representação inicial deste conflito que a temporada mais sofre nos cinco episódios já vistos pelo UOL (no total, são oito). O primeiro, particularmente, é o mais assombrado pelo fantasma de Frank; são tantas referências à morte do antigo presidente americano que o texto, muitas vezes, sai artificial. Para alívio do espectador, a situação vai gradualmente melhorando ao longo dos capítulos seguintes, assim como a de Claire.
A nova presidente americana, que desde o início da série provou ser tão interessante quanto seu marido, se não mais, chegou ao posto após um árduo trabalho para sair da sombra de Frank. Foi uma jornada construída pouco a pouco, em uma intrincada teia de manipulações, durante as temporadas anteriores; seu ápice veio no final do quinto ano, quando ela se virou para a câmera e decretou: “Minha vez”.
Por conta disso, não deixa de ser um pouco frustrante que ela, no início do novo ano, seja tratada como um mero peão a ser movido entre os Shepherds e seu vice, o pouco confiável Mark Usher (Campbell Scott). Ainda que haja uma correlação muito real entre a forma como são tratadas as mulheres na política e o desdém conferido a Claire pelos homens ao seu redor, a série parece ignorar o passado de sua protagonista, e certas tramas se arrastam mais do que o necessário. Tampouco ajuda que os roteiristas Frank Pugliese e Melissa James Gibson tentem empurrar Bill e Annette como amigos de infância de Claire, sendo eles sequer foram mencionados ao público anteriormente.
Quando Claire recebe o devido espaço, no entanto, a série se torna muito mais atraente. É um prazer assistir à performance de Robin Wright. Contida, calculista e pouco afeita a rompantes emocionais, ela consegue entregar muito com seus olhares. A atriz tem uma presença magnética quando está em cena, e brilha ainda mais sem ter que fazer o contraponto à interpretação teatral de Spacey.
Seus coadjuvantes não ficam muito atrás. Diane Lane e Greg Kinnear conseguem dar profundidade a seus personagens, que são muito menos complexos do que suas contrapartes, e a atriz se sai bem nas cenas tensas de Anette e Claire. Quem também tem cenas imperdíveis com a presidente é Michael Kelly, que mais uma vez se destaca como Doug, o leal chefe de gabinete de Frank, cuja fidelidade segue inabalável mesmo após a morte de seu antigo patrão.
As atuações e as tradicionais reviravoltas fazem com que “House of Cards” consiga manter seus espectadores entretidos, apesar das falhas . O quinto episódio, o melhor da leva, dá a base para o que promete ser uma reta final recheada de intrigas e reviravoltas – o que a série sabe fazer de melhor.
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