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"Estamos vivendo momentos tenebrosos", diz Elza Soares

Elza Soares em entrevista ao "Programa do Pochat" - Antonio Chahestian/Record TV
Elza Soares em entrevista ao "Programa do Pochat" Imagem: Antonio Chahestian/Record TV

Jonathan Pereira

Colaboração para o UOL

30/10/2018 06h52

Elza Soares falou sobre sua trajetória e o momento atual do Brasil no "Programa do Porchat" de segunda-feira (29). Sem citar o presidente eleito Jair Bolsonaro - que deu sua primeira entrevista exclusiva para a Record TV e é apoiado publicamente por Edir Macedo - a cantora e o apresentador conseguiram demonstrar o receio que têm do futuro.

"Acho que o mundo estava indo mais ou menos bem, de repente deu um revertério. Estamos vivendo momentos tenebrosos", disse. Porchat quis saber sua opinião sobre quem exalta os militares e diz que "na ditadura que era bom". "Que horror, ninguém pode dizer isso, não. Ouço Cazuza falando: 'eu vejo o futuro repetir o passado...'. Nada mudou. A gente tem que ter muita coragem para passar por esse momento. A gente pede a Deus para que esse momento seja rápido". O apresentador concordou. "O futuro é perigoso".

Durante a ditadura (1964-1985), Elza precisou deixar o país. "Tomaram nossa casa, foi metralhada e a gente foi embora para a Itália. Eu brincava com as crianças, entrei, começamos a ouvir barulho de tiroteio. O Botafogo [clube em que Mané Garrincha, então seu marido, jogava] mandou um guarda tomar conta da casa que morávamos no Jardim Botânico, ele foi baleado no braço. Fiquei completamente apavorada por causa dos filhos. Eu tinha um piano na sala, ele foi aberto no meio", recorda.

A família então se mudou para a Itália, onde contaram com a ajuda de Chico Buarque. "Chico soube que eu cheguei na Itália e foi um grande amigo, aquele companheiro. Fiquei feliz nesse período".

Vida de luta

Aos 81 anos, Elza recorda as batalhas que travou. "Eu era uma criança que sofria mas não sabia que era sofrimento. Minha mãe era lavadeira, tinha 25 lavagens de roupas por dia. A gente não tinha água, não tinha nada. Eu carregava muita lata d'água na cabeça e achava aquilo incrível".

Com o tempo, abraçou causas. "Brigo muito pelas mulheres, pelos gays, ninguém tem culpa de ser o que é. Fui muito ajudada pelo mundo gay e tenho um respeito e um carinho imensos por eles". A negritude também é exaltada.

"Esse Brasil é branco? A maioria é mestiça. Eu sou neta, bisneta e filha de escravos. Faço parte dessa escravidão ainda desse país. Sou uma das escravas com muito orgulho, muito respeito. Somos privilegiados com a cor que a gente ganhou. Ame esse país! Viajo esse mundo todo e não vejo país melhor que o Brasil".