Topo

A nova "Sabrina" não tem nada a ver com a série dos anos 90, e isso é bom

Kiernan Shipka é a protagonista de "O Mundo Sombrio de Sabrina", da Netflix - Diyah Pera/Netflix
Kiernan Shipka é a protagonista de "O Mundo Sombrio de Sabrina", da Netflix
Imagem: Diyah Pera/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

26/10/2018 04h00

Para quem cresceu entre os anos 1990 e 2000, falar de Sabrina, a bruxa adolescente, é falar da personagem interpretada por Melissa Joan Hart em “Sabrina, a Aprendiz de Feiticeira”, série exibida por aqui pela Nickelodeon. A protagonista e o universo que a cerca, no entanto, ganham uma bem-vinda repaginada em “O Mundo Sombrio de Sabrina”, que estreia nesta sexta-feira (26), na Netflix, prometendo agradar tanto aos nostálgicos quanto àqueles que estão ouvindo falar da personagem agora.

Sabrina (Kiernan Shipka) ainda é a filha de um bruxo com uma mortal, criada por suas duas tias e fielmente acompanhada pelo gato preto Salem; namorando Harvey (Ross Lynch), um mortal, ela precisa equilibrar os dois lados de sua vida. Mas é até aí que as semelhanças vão: a nova encarnação da personagem originária dos quadrinhos da Turma do Archie tem horror, satanismo e um humor levemente mórbido. O criador da série é Roberto Aguirre-Sacasa, o responsável por conferir um tom mais sombrio a Sabrina e companhia nas HQs (ele é, também, o criador de “Riverdale”).

“O Mundo Sombrio de Sabrina” começa a poucos dias do aniversário de 16 anos de Sabrina, data em que ela tem que firmar seu compromisso com a Igreja da Noite e prometer servir ao Senhor das Trevas – o diabo, para ser mais exata. A escolha por uma vida plenamente mágica, porém, significa a renúncia a todas suas conexões com o mundo mortal, namorado e amigos inclusos. A garota, obviamente, não tem interesse em abrir mão dessa parte de sua vida, e começa a questionar o arcaico (e sexista) sistema de regras estabelecido pela igreja enquanto, nos bastidores, é travada uma guerra por sua alma.

Sabrina (Kiernan Shipka) em seu batismo sombrio em "O Mundo Sombrio de Sabrina", da Netflix - Diyah Pera/Netflix - Diyah Pera/Netflix
Sabrina tem que decidir se dedicará ou não a sua alma ao Senhor das Trevas
Imagem: Diyah Pera/Netflix

É difícil não ficar fascinado pelo mundo sobrenatural criado por Aguirre-Sacasa, calcado em uma direção de arte riquíssima em detalhes. A Academia de Artes Sombrias, para onde vão os jovens bruxos, funciona como uma Hogwarts satânica; rituais mágicos ocupam parte significativa dos oito episódios vistos pelo UOL; mesmo informações menores sobre esse universo depois provam sua importância. Só não sobrou espaço para o gato Salem falar, o que provavelmente prejudicaria o clima sombrio da série.

O “sombrio” do título, aliás, não é um exagero. Com referências a clássicos do terror como “O Exorcista” e “O Bebê de Rosemary”, a série traz um clima de tensão constante e é capaz de provocar arrepios, seja pelos eventos de outro mundo, seja por momentos explicitamente sangrentos – que muito provavelmente jamais iriam ao ar caso a produção estreasse pelo canal aberto americano CW, como era a ideia original.

Frente a isso, o mundo dos mortais mal consegue competir. A vida cotidiana de Sabrina em seu colégio se torna infinitamente menos interessante do que sua contraparte mágica, e a série nem sempre consegue equilibrar os dois de uma maneira satisfatória, principalmente no começo. É só do sexto episódio em diante que Harvey e as duas melhores amigas de Sabrina, Roz (Jaz Sinclair) e Susie (Lachlan Watson), começam a ganhar tramas mais interessantes.

Elenco estrelado

As tias Zelda (Miranda Otto) e Hilda (Lucy Davis) em "O Mundo Sombrio de Sabrina" - Divulgação - Divulgação
As tias Zelda (Miranda Otto) e Hilda (Lucy Davis) em "O Mundo Sombrio de Sabrina"
Imagem: Divulgação

Kiernan Shipka, que cresceu diante do público como a Sally de “Mad Men”, se mostra à altura do desafio de nos conduzir entre os mundos de Sabrina. Aos 18 anos, não tão distante assim de sua personagem, ela está segura como protagonista e transita habilmente entre todas as facetas de Sabrina – ingênua, romântica, determinada e, às vezes, maliciosa.

Seus colegas ajudam. Miranda Otto (“O Senhor dos Anéis”) e Lucy Davis (“Mulher-Maravilha”) estão ótimas como as tias Zelda e Hilda, respectivamente – a primeira uma gélida devota da Igreja da Noite, a segunda uma tia carinhosa e sorridente. A relação pouco saudável das duas, divertida e perturbadora, é um dos pontos altos da série.

Quem também se destaca é Chance Perdomo. Como Ambrose, o primo pansexual de Sabrina, ele é carismático mesmo quando não tem muito o que fazer na trama. O mesmo vale para Tati Gabrielle, que vive Prudence, líder de um trio de irmãs que atormenta Sabrina por ela ser meio mortal (alguém lembra dos ‘sangue-ruins’ de “Harry Potter”?).

“O Mundo Sombrio de Sabrina” ainda precisa trabalhar mais no equilíbrio de suas tramas, mas seu início é divertido e muito promissor. E, felizmente, não vai demorar para vermos mais da bruxinha adolescente: a série já está renovada para sua segunda temporada.