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Jonathan Wilson, o guitarrista de Waters que lançou um dos melhores discos do ano

O cantor, guitarrista e produtor Jonathan Wilson, que entrou para a banda de Roger Waters em 2017, na turnê "Us + Them" - Divulgação
O cantor, guitarrista e produtor Jonathan Wilson, que entrou para a banda de Roger Waters em 2017, na turnê "Us + Them" Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

23/10/2018 04h00

O visual de cabelos castanhos e escorridos, com a barba por fazer, chega a lembrar o de David Gilmour nos anos 1970. Mas o americano Jonathan Wilson, o caçula da dupla de guitarristas que acompanha Roger Waters ao vivo, é muito mais que um cover de luxo, reprodutor das bases do Pink Floyd e vocal de "Time" e "Dogs".

Aos 43 anos, o guitarrista e produtor é um dos talentos de sua geração, com seis discos solos no currículo e uma farta coleção de parcerias com nomes de várias gerações. De David Crosby a Elvis Costello. De Father John Misty a Johnathan Rice.

Wilson é ex-integrante do alternativo Muscadine, de Los Angeles, e tem um estilo que costuma ser enquadrado como "folk psicodélico", com alguma influência country, mas sua música não se limita aos contorno do rótulo.

Exemplo disso é "Rare Birds", seu disco de estúdio mais recente lançado em março, que ganhou uma chuva de elogios da crítica internacional e que vem sendo considerado um dos melhores trabalhos de 2018, mesclando melodias, neopsicoldelia e referências espertas do rock atual.

Se você ama os clássicos e não tem preconceito com novidades, escute "Rare Birds" sem pensar duas vezes. Bem produzido e estilisticamente diverso, o disco traz participações de Lana Del Rey, Father John Misty, Lucius e Laraaji. 

"É a primeira vez que estou lançando um álbum com o meu som de verdade, com uma mistura das coisas que amo e minha experiência de estúdio. Eu o considero uma 'tour de force' pelo meu trabalho. Não é um álbum aleatório. Ele é extenso e abarca coisas complexas", diz ao UOL Wilson, que é tímido, com voz embargada, e ligeiramente gago, o que não atrapalha em nada shows e gravações.

Ficou curioso? Ouvidos atentos às faixas "Me", com seus ecos de Van der Graaf Generator; "Loving You", cuja levada remete a "Dream", do Fleetwood Mac; e "Living with Myself", que certamente te levará a algum lugar dos anos 1980 repleto de boa música. O álbum funciona como um lustroso e bem diagramado cartão de visitas.

"Acho que tocar e produzir discos são trabalhos similares, porque o objetivo final é o mesmo. Viajar mostrando meu trabalho, ou acompanhando artistas grandes como Roger Waters, é muito especial, pois permite compartilhar alegria com o mundo. Mas sempre chega a hora de voltar ao estúdio e me concentrar em outros aspectos, além da performance", entende ele.

O rock tem futuro

Na opinião de Wilson, não há segredo para se produzir um bom álbum de rock, mas, se existe algo próximo disso, não passa por aspectos técnicos. "A música está mudando o tempo todo. O importante é você ter honestidade no trabalho e tentar mostrar quem realmente é. No meu caso, gosto de explorar um lado mais artístico."

Sobre a cena do rock atual, que vem perdendo cada vez mais espaço no mundo para o pop, o hip-hop e outros estilos regionais, o músico demonstra otimismo.

"O formato de guitarra, baixo e bateria ainda continua muito poderoso, principalmente quando ele traz certa poesia. Acho que o rock pode voltar a ser grande como era, especialmente se ele apresentar como uma alternativa à cultura do som de baixo computadorizado, que vem dominando os outros estilos."