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A best-seller que entrou em decadência e voltou ao sucesso após virar criminosa

Melissa McCarthy como Lee Israel em cena de "Poderia me Perdoar?" - Reprodução
Melissa McCarthy como Lee Israel em cena de "Poderia me Perdoar?"
Imagem: Reprodução

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

22/10/2018 04h00

Atração da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, "Poderia Me Perdoar?" é um filme encantador baseado em fatos reais que você se sente até culpado de torcer para a personagem vivida por Melissa McCarthy -- que mira mais uma indicação ao Oscar.

A trama apresenta a vida maluca de Lee Israel, escritora best-seller que recorreu ao mundo do crime para conseguir pagar as contas. E ainda voltou a ficar famosa. A história da autora norte-americana ganhou o mundo quando seu livro de memórias -- que dá nome ao filme -- foi lançado em 2008, relatando os anos em que ficou na mira do FBI.

Nascida em 1939, a norte-americana era uma pessoa amarga que preferia a companhia dos animais às pessoas (já na primeira cena do filme ela manda o chefe para aquele lugar) e que recorria ao álcool sempre que possível.

Richard E. Grant e Melissa McCarthy em cena de "Poderia Me Perdoar?" - Reprodução - Reprodução
Richard E. Grant e Melissa McCarthy brilham como a dupla imperfeita
Imagem: Reprodução

Responsável por biografias de sucesso nas décadas de 70 e 80 -- aparecendo até na lista dos livros mais vendidos do "The New York Times" -- ela se encontrou em um limbo no início dos anos 90. Sentava na frente da máquina de escrever e nenhuma ideia saía.

Sem a ajuda da agente, que via em Lee apenas o lado negativo, ainda mais quando não produzia nada que desse lucro, a escritora enxergou na criminalidade uma forma de ganhar dinheiro para pagar as contas --basicamente seu uísque com soda, a comida do gato e o aluguel. 

A autora, então, passou a falsificar cartas de grandes nomes da literatura mundial, como Dorothy Parker, entregando um trabalho meticuloso para dar aparência antiga às obras e copiando até a maneira de pensar dos escritores. Com uma única cartinha, ela conseguia US$ 60. Com outra, US$ 600. Foram mais de 400 cópias vendidas.

Lee rodava Nova York atrás de lojas diferentes para entregar seus trabalhos, que compravam sem qualquer dúvida para logo vendê-los a colecionadores. Mas não demoraria muito para que a farsante fosse pega e condenada.

A escritora morreu em 2015, aos 75 anos, de mielona múltiplo. Ela vivia sozinha e não teve filhos. Lee sempre admitiu que, apesar de seus livros, o trabalho que ela mais tinha orgulho era suas cartas falsificadas com perfeição.

Torcendo para o inimigo

Segundo filme da diretora Marielle Heller, "Poderia Me Perdoar?" retrata a vida triste de Lee como uma música de jazz. A trilha sonora cadenciada dá o tom solitário e melancólico da protagonista, que odiava o toque das pessoas e que perdeu a única mulher que amou.

Fica difícil não se simpatizar pela personagem de McCarthy, mesmo que a priori a figura rude de Lee deixe o espectador com um pé atrás. Acostumada com papéis cômicos, a atriz mostra versatilidade no drama, marca seu melhor trabalho na carreira e merece uma indicação ao prêmio máximo do cinema.

Para dizer que Lee não tinha amigos, o misterioso Jack Hock (papel do charmoso Richard E. Grant) surge como um braço direito da escritora. Hock é boêmio, das artes e tão amargo quanto a própria companheira.

A ligação entre a dupla salta na tela, incorporando os compassos delicados da trilha sonora e o ambiente confortável de livrarias e bares escuros. Por trás de todo o caso surreal, há uma história triste. O encontro final entre Jack e Lee é um dos momentos mais marcantes do filme, uma despedida de duas pessoas que não se sentem confortáveis com si próprios.

"Você é uma pessoa horrível", diz Hock. "Você também". Os dois dão risada e acenam em tom de despedida.

"Poderia Me Perdoar?" terá três exibições na Mostra de SP: terça-feira (23 de outubro, no Itaú Augusta); sexta-feira (26 de outubro, no Cinearte); e na outra terça-feira (30 de outubro, no Itaú Pompeia).