Cartunista Laerte critica Bolsonaro e prevê nova ditadura no Brasil
A primeira exibição da animação "A Cidade dos Piratas" na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo contou a participação da cartunista Laerte Coutinho e do diretor Otto Guerra em um debate neste domingo (21).
O filme, que brinca com personagens clássicos da cartunista, principalmente os Piratas do Tietê, explora de forma ácida o Brasil de hoje, ironizando a "temida ditadura gay", criticando a onda conservadora do Brasil e mostrando as dificuldades para montar a produção, em desenvolvimento desde 1993.
"A gente vive ciclos. E agora vamos entrar em um ciclo horrível com nosso futuro presidente", afirmou Otto sobre Jair Bolsonaro. "É muito premonitório, parece que a Laerte adivinhou muitas coisas", completou o cineasta, falando especificamente de Azevedo, personagem criado por Laerte que é conservador, odeia pobres e aos poucos sofre com a “ditadura gay”.
"O Azevedo vem de várias histórias e personagens diferentes e você mesclou tudo muito bem", disse Laerte a Otto. Esta foi a primeira vez que a cartunista viu o filme completo.
"Esse filme não é um pé quente", brincou a artista sobre os 25 anos que durou a produção, contabilizando 14 roteiros até chegar à versão final. "Esse filme passou por duas ditaduras e vamos para a terceira agora. Mas vai que ele [Bolsonaro] faz um bom governo", ironizou.
Abraço no Brasil de hoje
A animação "A Cidade dos Piratas" conta com as participações do próprio Otto e de Laerte, que explica na tela por que demorou tanto tempo para se vestir publicamente com roupas femininas e fala sobre como o preconceito com as travestis ainda é forte no país .
O longa abraça o Brasil atual, provando a relevância que ainda hoje têm os Piratas imaginados por Laerte em 1983 e que ganharam tirinhas na “Folha de S. Paulo” a partir dos anos 90.
A riqueza da produção contrasta com a dificuldade que Otto e sua equipe tiveram ao montar o projeto, seja na escolha da trama ou em qual história contar, já que a mãe dos Piratas abandonou a criação dos personagens nessas últimas décadas.
Imaginado de forma livre, o argumento final é um fluxo de imagens surrealistas e intertextualidade, além de críticas sobre a São Paulo pós-invasão dos Bandeirantes no século 16, culminando em uma homenagem ao legado de Laerte.
"A Cidade dos Piratas" ainda terá mais duas exibições na Mostra de SP: nesta segunda (22) e no sábado (27).
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