Série "Impuros" humaniza criminosos e policiais em tempo de extremos
"Impuros", série que estreia nesta sexta-feira (19) na Fox Premium, se passa em meio ao narcotráfico do Rio de Janeiro nos anos 90, mas não pense em "Cidade de Deus" ou "Tropa de Elite". A ideia é se distanciar dessas produções ao humanizar criminosos e policiais: entre boas cenas de ação, a prioridade é entender o passado para estudar o presente e chegar à conclusão de que o bem e o mal andam juntos.
Na história, Evandro do Dendê (Raphael Logam) completa 18 anos de idade sem expectativa de garantir uma vida melhor para a mãe. Morador do morro, o protagonista é convocados para o exército e começa a trilhar os passos na vida militar. Seu irmão, por outro lado, foi dispensado e precisa arranjar a grana necessária para pagar o aborto da namorada.
Um cara de atitudes corretas, Evandro se encontra em um beco sem saída quando a polícia mata seu irmão por dívida do tráfico. Seu objetivo agora é se vingar pela família, entrando na criminalidade para cumprir a promessa que fez para a mãe: justiça.
Criador da série, Alexandre Fraga sai dos clichês que estamos cansados de ver nas produções sobre o tema. Tanto que é fácil identificar que o policial Victor Morello (Rui Ricardo Diaz) e Evandro têm muito em comum. "Essa é a verdade de todo mundo, todos têm seu lado ambíguo. O bom e o mau andam juntos", analisa Zico Goes, vice-presidente de produções originais da Fox.
"Boa parte do que a indústria fez sobre tráfico de drogas é focada no enredo. Quem pegou a droga, como que fez e quem que levou. [O que fizemos] Foi tirar da invisibilidade personagens que vivem por trás desse tipo de evento", completa o diretor René Sampaio, que dividiu o cargo com Tomás Portella. "As antagonistas de cada um [dos personagens principais] são mulheres que vão tomar uma força incrível na trama e mudarão o rumo, como acontece na vida real e como é nas comunidades."
Lorena Comparato, o par romântico de Evandro na série, aponta ainda que a série também discute o racismo, começando na escalação do elenco, incomum na televisão e no cinema. "A gente tem brancos e negros na favela, brancos e negros policiais, tudo misturado. A gente não vê isso normalmente. Estamos mudando, mas eu, como uma mulher branca, sei que a dramaturgia brasileira sempre foi majoritariamente branca. Fico também feliz pela minha personagem ter um filho negro, que não é explicado ou questionado. Só é. E assim eu acredito que seja a maioria do Brasil."
Os anos 90 dialogando com o presente
"Impuros" tem como pano de fundo a crise econômica brasileira que assustou o país no início da década de 90, com a imposição do Plano Collor. Mas a impressão que passa é de que, tirando as roupas, os carros na rua e a nostálgica trilha sonora, o Brasil continua parado no tempo: a violência tem índices gigantescos, a economia está mal das pernas e o jeitinho brasileiro não é mais tão útil.
Com lançamento tão próximo de um momento decisivo da política, quando teremos que escolher mais um presidente, a série entra em um túnel temporal para explicar o hoje. "Eu tenho certeza de que, quem for assistir à série, vai tirar as próprias conclusões sobre o material e vai ver como que, pelo bem e pelo mal, somos muito parecidos com os anos 90", aponta René.
Zico ainda acredita que o momento turbulento da política nacional possa até ser influenciada pela produção. "Talvez esta série, que não tem nada de maniqueísta e quer misturar o branco e o preto para dar cinza, mude as pessoas. Não existe o bem e o mal. O que existe é fazer escolhas acertadas."
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