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Mostra de SP começa com discurso de resistência e gritos de "ele não"

Rachel Weisz em cena de "A Favorita", filme escolhido para abrir a 42ª edição da Mostra de SP - Imagem/Divulgação
Rachel Weisz em cena de "A Favorita", filme escolhido para abrir a 42ª edição da Mostra de SP Imagem: Imagem/Divulgação

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

17/10/2018 23h31

A cerimônia de abertura da 42ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na noite desta quarta-feira (17), foi marcada pelo discurso de resistência por parte dos apoiadores do evento cultural e também do público convidado.

Diretora da Mostra, Renata de Almeida conduziu a abertura ao lado de Serginho Groisman no Auditório do Ibirapuera. Mas o discurso que mais marcou a noite foi justamente o último, de Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc. A entidade é a que há mais tempo apoia a Mostra de SP, desde sua primeira edição.

“Muito mais importante do que essa materialização efetiva de uma cooperação é o objetivo comum, a afinidade da proposta. No sentido de trazer a linguagem do cinema para a cidade de São Paulo e pro Brasil, mostrar a experiência de todos esses artistas que produzem mundo afora e que trazem visões e perspectivas que são importantes para que a gente sinta, veja, mude, troque e conheça melhor. Isso pra mim é o extraordinário na atividade cultural em geral e a do cinema em particular”, introduziu o representante do Sesc sobre a importância do evento. Ele então continuou falando sobre a ameaça que a cultura enfrenta em um momento em que o país passa pela troca de poderes.

“[A atividade cultural] é algo que a gente vê ameaçada neste momento, não pelo cinema apenas, mas por todas as demais manifestações serem de alguma forma coibidas, dificultadas. Isso é algo que nos coloca em uma situação de uma certa dúvida, mas que nós teremos, exatamente alimentados por momentos como esse, a possibilidade de poder resistir. A palavra resistência - já dita aqui - tem um papel muito especial neste momento e eu gostaria de insistir nela pra que a gente possa enfrentar o que eventualmente venha por aí”, destacou Danilo, sendo interrompido por quase um minuto de aplausos e gritos de “ele não” e “ele nunca” vindos do público.

“A cultura dará respostas também pra isso na medida em que nós teremos a possibilidade de apontar caminhos e continuar resistindo. E certamente o cinema e as outras artes todas terão essa oportunidade. Contem conosco para que isso continue acontecendo”, concluiu o diretor do Sesc.

Resistência

Danilo Santos de Miranda não foi o único a falar de resistência. A palavra já havia aparecido, mesmo que de maneira indireta, nas falas dos apresentadores, de autoridades e de outros apoiadores do evento. “Nesses momentos no mínimo sombrios que a gente vive, poder ter esperança, luz e arte é muito importante”, destacou o secretário municipal de cultura André Sturm ao convidar o público para não só aproveitar o conteúdo da Mostra de Cinema, como também da exposição do artista chinês Ai Weiwei que será inaugurada neste sábado (20) no Parque do Ibirapuera.

“Estamos passando por uma situação complicada, uma situação de ataques às atividades artísticas e culturais. Então apoiar essa mostra e desenvolvimento de programas como esse faz parte de uma ação pra quem pensa mais a longo prazo e pra quem entende que arte e cultura são fatores estruturantes da sociedade contemporânea”, destacou Mário Mazzilli, diretor superintendente do Instituto CPFL, ligado à empresa de energia.

Já o discurso do representante de um dos maiores apoiadores da Mostra, o Itaú, foi o primeiro a estimular alguns gritos de “ele não” vindos do público. Claudinei Ferreira, gerente de audiovisual e literatura do banco, parabenizou “todas as atividades culturais do Brasil. Viver é resistir. É bem importante que a gente fale de cultura de um modo geral. Falamos de pessoas que correm risco todos os dias produzindo suas obras.”

Ao anunciar os agraciados com o Prêmio Humanidade deste ano, que será entregue para o médico e escritor Drauzio Varella e para o diretor japonês Hirokazu Kore-eda, a diretora da Mostra Renata Almeida destacou ainda que os homenageados “com seu trabalho promovem a convivência e tolerância entre as pessoas. Algo bastante indicado nesses tempos conturbados.”

Antes da exibição de “A Favorita”, filme escolhido para abrir a Mostra de SP, o público ainda aproveitou para se manifestar por mais alguns minutos contra Jair Bolsonaro com gritos de “ele não” e “ele nunca”. “Temos poucos dias, gente”, gritou uma das pessoas presentes, ainda que sem citar o nome de Bolsonaro. Vale lembrar que o candidato do PSL defende a extinção do Ministério da Cultura. No lugar dele, seria criada uma secretaria para tratar do assunto.

Restrita a convidados, a cerimônia de abertura da Mostra de São Paulo recebeu atores, produtores, e autoridades ligadas a área do cinema e da cultura, que lotaram o Auditório do Ibirapuera. A Mostra de São Paulo acontece entre os dias 18 e 31 de outubro, com 336 filmes em cartaz. A programação completa está disponível em mostra.org. site oficial do evento.