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Como um assassinato transforma "Elite" na nova novela viciante da Netflix

Itzan Escamilla em cena de "Elite", da Netflix - Reprodução
Itzan Escamilla em cena de "Elite", da Netflix Imagem: Reprodução

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

11/10/2018 04h00

Um assassinato acontece dentro de uma escola de alta sociedade e os suspeitos são os alunos mais pobres. "Elite", produção espanhola disponível na Netflix, é uma novelona dramática que discute a sociedade espanhola --e, de certa forma, também a brasileira-- nos moldes de "Malhação", deixando de pano de fundo debates sobre preconceito, sexualidade, religião e cultura.

Mas o acerto do projeto criado por Darío Maradona e Carlos Montero é tratar os temas alternando entre o clímax e a leveza, planejados com todo cuidado para os jovens perderem horas seguidas tentando descobrir quem realmente cometeu o crime. E é fácil se identificar, de alguma maneira, com o que você já passou ou está passando na escola.

Há a panelinha dos populares, aqueles que comandam os corredores fazendo bullying. Eles são bonitos, puxam o saco dos professores e, no caso de “Elite”, adoram ostentar a riqueza e a influência da família. Por outro lado, três novatos de uma classe social inferior aos colegas conseguem uma bolsa para o tradicional colégio Las Encinas, e precisam se adequar ao novo mundo.

Personagens

Cena da série "Elite", da Netflix - Reprodução - Reprodução
Cena da série "Elite", da Netflix
Imagem: Reprodução

Samuel (Itzán Escamilla) trabalha como garçom na lanchonete perto da escola, frequentada justamente pelos estudantes arrogantes que agora serão seus colegas. Seu irmão, Nano (papel de Jaime Lorente, mais conhecido por viver Denver em “La Casa de Papel”) acabou de sair da prisão, mas por seu passado ainda paga o preço.

Christian (Miguel Herrán, o Rio de “La Casa de Papel”), diferentemente do amigo, não gosta de estudar, mas sabe que o novo e poderoso mundo pode ser importante para o seu futuro. Ele tem consciência de que não é pelas notas que conseguirá ascender socialmente, mas os contatos são essenciais em seu caso, e de repente uma fama no Instagram pode ser bem possível.

Do grupo, a mais interessante na trama é de longe Nadia (Mina El Bernadeau). A menina de 16 anos vem de uma rígida família muçulmana, dona de um mercadinho em um bairro afastado do Las Encinas. A menina começa a perceber que certos pontos de sua religião e do autoritarismo do pai não condizem com a vida que está construindo no colégio. Isso sem falar em seu irmão, Omar (Omar Ayuso), que guarda um segredo de todos enquanto trabalha como traficante da região.

Muito mais do que uma história boba

Apenas com o núcleo formado pelo trio já daria uma boa história, mas os roteiristas de “Elite” introduzem personagens bem construídos para dar mais vida à série e construir um ambiente de rivalidade. Marína (María Pedraza, que ganhou fama como a Alison de "La Casa de Papel") é diferente do irmão Guzmán (Miguel Bernardeau) em tudo. Chamada de “hippie” pelos alunos da sala, ela não se importa com o status da família, que na verdade está envolvida em corrupção.

Novidades da Netfix em outubro - "Elite" - Divulgação - Divulgação
Cena de "Elite"
Imagem: Divulgação

A menina chama a atenção de Samuel, mas seu coração fica divido entre o garoto e o seu irmão. Já Guzmán combina uma aposta com a namorada Lu (Danna Paola) sobre a muçulmana Nadia, e aos poucos vai percebendo que o jeito "excêntrico" da garota pode ser muito mais atraente do que a bolha em que vive.

“Elite” conta com vários personagens, cada um com personalidades e características marcantes, mesmo que possa não parecer a partir de um olhar desatento. Quebrando a cronologia linear a que estamos mais acostumados, a série tem como presente uma investigação policial sobre um assassinato ocorrido na piscina da escola, e passeia pelo passado para contar detalhes de como o crime foi cometido.

A série da Netflix tem a pegada exata para atrair os jovens, com picuinhas estudantis, muitas cenas quentes de sexo e a proximidade com casos reais pelos quais todos passam. Ao mesmo tempo, atinge um público mais maduro pelos temas sérios, seja na discussão sobre preconceito, tanto de religião quanto de diferenças sociais, quanto na discussão sobre qual o limite que a escola pode impor ao aluno.

O que é comum para qualquer geração é a curiosidade, e "Elite" é impecável neste quesito ao virar uma novela com ares populares de oito episódios em que você fica até o final com a dúvida de quem matou.