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Será que "Venom" vai manchar a carreira de Tom Hardy?

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Caio Coletti

Colaboração para o UOL

03/10/2018 04h00

Poucos atores podem se gabar de ter ganhado o seu primeiro papel da carreira em uma das séries mais aclamadas de todos os tempos: em 2001, Tom Hardy era um desconhecido no elenco de “Irmãos de Guerra”, minissérie produzida por Steven Spielberg que venceu o Globo de Ouro e o Emmy de sua categoria.

Tom Hardy em "Band of Brothers" - Reprodução - Reprodução
Tom Hardy em "Band of Brothers"
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Desde então, o londrino Hardy deu poucos passos em falso na carreira. Entre os deslizes, são memoráveis o seu vilão ridículo em “Jornada nas Estrelas: Nêmesis” (2002) e a terrível comédia romântica de ação “Guerra é Guerra!” (2012). Nestes e em alguns outros filmes, Hardy transparece inconfundível desinteresse e descompromisso.

Em contraste, suas performances concentradas e intensas são o que mais marcaram em uma multidão de grandes filmes dos últimos anos. Ele elevou a ação "Guerreiro" (2011) para além da prisão do gênero, segurou as pontas quase sozinho em "Locke" (2013), disse muito com poucas palavras em "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015), quase ofuscou Leonardo DiCaprio em "O Regresso" (2015), encarnou irmãos gêmeos em "Lendas do Crime" (2015) e foi a parte mais comovente de "Dunkirk" (2017).

Em ?O Regresso?: papel indicado ao Oscar - Reprodução - Reprodução
Em "O Regresso": papel indicado ao Oscar
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Para muitos, no entanto, o auge da carreira de Hardy até agora foi “Bronson”, filme britânico de 2008 onde encarna o personagem real Charles Bronson, que foi preso aos 19 anos por roubar uma agência dos correios e acabou passando mais de 30 anos em regime solitário graças ao seu comportamento excepcionalmente violento. Em meio ao filme estilizado de Nicolas Winding Refn, a performance explosiva de Hardy definiu o que o público espera dele em cada novo papel.

Nova aposta

É aí que entra “Venom”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (4) como o primeiro grande blockbuster holywoodiano em que Hardy interpreta o protagonista. Pelo que dá para tirar dos trailers, ele é Eddie Brock, repórter que descobre um cientista (Riz Ahmed) que está fazendo experiências perigosas com uma entidade alienígena. Brock é eventualmente infectado por um desses simbiontes, que o transforma no poderoso -- e violento -- Venom.

De início, “Venom” tinha verniz de “projeto maldito” em meio aos filmes de super-heróis que lotam os cinemas do mundo todo, e por isso o envolvimento de Hardy não parecia tão bizarro. Para contribuir com essa noção, o ator britânico sempre falou de forma apaixonada sobre o papel, seja sobre o visual “radical” do personagem ou sobre as vozes diferentes e conflitos internos que precisou articular para interpretar Eddie Brock.

Vale lembrar que “Venom” carrega também a assinatura do diretor Ruben Fleischer, conhecido por filmes que, para o bem ou para o mal, são bastante incomuns: vide “Zumbilândia” e “Caça aos Gângsteres”. A prometida classificação indicativa para maiores fechava o pacote que pintava “Venom” como uma alternativa interessante para a linha de produção mais ou menos padronizada da Marvel Studios.

Eddie Brock é “engolido” por Venom - Reprodução - Reprodução
Eddie Brock é “engolido” por Venom
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Acontece que, com o lançamento do material promocional do filme e com a aproximação da estreia, essa personalidade peculiar de “Venom” foi se dilapidando para mostrar uma cria de estúdio com orçamento inflado e decisões criativas grosseiras. O visual do personagem não agradou, os trailers decepcionaram a maioria dos fãs e a classificação indicativa para maiores (nos EUA, “R”) foi substituída pela bem mais comum “PG-13”.

O próprio Hardy confessou, em entrevista ao site “Comics Explained”, que suas cenas favoritas de “Venom” são as que foram cortadas. “Há muita coisa que não está nesse filme. Há 30 ou 40 minutos de cenas que foram cortadas, e elas são incríveis. Cenas de humor ácido, cenas absolutamente loucas. Sabe o que estou querendo dizer?”, contou o frustrado ator.

A Sony segurou as reações críticas à “Venom” para o último minuto. Em um mundo pós-"Liga da Justiça", está mais do que provado que más críticas podem se aliar ao geral desinteresse do público para afundar um filme nas bilheterias. Fãs de longa data das HQs não queriam um filme de “Venom” - o vilão sempre foi mais popular com aqueles que começaram sua vida na cultura pop nos anos 1990 e 2000, e a maioria deles normalmente cresceu para reconhecer as deficiências no personagem.

Tom Hardy se confronta com o simbionte em cena de "Venom" - Reprodução - Reprodução
Tom Hardy se confronta com o simbionte em cena de "Venom"
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No fim das contas, o que poderia ser um pulo bem calculado para o mainstream da parte de Hardy pode se tornar um desastre para a sua carreira. É improvável que grandes diretores deixem de escalá-lo por causa do fracasso de um filme de super-heróis, mas pode apostar que estúdios hesitarão em bancar outro grande blockbuster nas costas do britânico tão cedo.

É claro, sempre existe a possibilidade de “Venom” ser massacrado (justa ou injustamente) pela crítica e, mesmo assim, superar expectativas na bilheteria. Filmes de franquias como “Transformers” e “Piratas do Caribe” fazem isso rotineiramente - mas o que também fazem é prender os seus astros em um looping infinito de continuações e projetos paralelos igualmente terríveis.

Quem acompanha Tom Hardy desde o começo, lá em “Irmãos de Guerra”, ou foi marcado por alguma de suas grandes performances nos últimos anos, sabe que ele merece melhor.