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"1 Contra Todos": série brasileira pode tirar o Emmy de "La Casa de Papel"?

Júlio Andrade, o Cadu, em cena da segunda temporada de "1 Contra Todos", série brasileira que concorre ao Emmy Internacional - Divulgação
Júlio Andrade, o Cadu, em cena da segunda temporada de "1 Contra Todos", série brasileira que concorre ao Emmy Internacional
Imagem: Divulgação

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

02/10/2018 04h00

No último dia 27 o cineasta Breno Silveira foi surpreendido por mensagens de "parabéns" pipocando em seu celular. Não era seu aniversário. Um agente da Fox que estava fora do país o informaria logo depois que "1 Contra Todos", seu primeiro trabalho para a televisão, era um dos quatro indicados a melhor série dramática no Emmy Internacional. "Foi uma pu#* surpresa", admite o criador da série, que falou com o UOL em uma pausa das reuniões da quarta temporada.

A produção da Conspiração Filmes, que já tem três temporadas disponíveis na Fox Premium, é centrada na história de Cadu, um advogado pacato que acaba confundido com um traficante e preso após a polícia encontrar uma tonelada de maconha no teto de sua casa. A indicação, no entanto, veio pela segunda temporada, - com direção-geral de Breno e direção de Daniel Lieff - quando o personagem já deixou a cadeia e ingressa na política.

"O problema de ética e política na verdade é mundial. A série fala disso, qual o seu preço? O preço que o Cadu pagou para chegar onde chegou. E esse dilema moral não só é muito do Brasil, como também se repete hoje em dia na política mundial", reflete Breno sobre a repercussão internacional do trabalho.

Disputa acirrada

"1 Contra Todos" disputa o troféu de melhor série dramática em uma cerimônia em Nova York no dia 19 novembro com a indiana "Inside Edge", a britânica "Urban Myths" e a sensação espanhola "La Casa de Papel". Bastante popular, a série exibida pela Netlflix é vista como a maior ameaça à produção brasileira.

Júlio Andrade - Dia Dipasupil/Getty Images - Dia Dipasupil/Getty Images
Júlio Andrade na cerimônia do Emmy Internacional de 2017, em Nova York, quando foi indicado pela primeira vez pelo seu personagem Cadu em "1 Contra Todos"
Imagem: Dia Dipasupil/Getty Images

O criador vê um possível trunfo nas mãos do protagonista, Cadu. Seu intérprete, Júlio Andrade, concorre pela segunda vez consecutiva ao Emmy Internacional como melhor ator por seu papel em "1 Contra Todos". No ano passado, perdeu para o britânico Kenneth Branagh ("Wallander"), e neste ano disputa com Billy Campbell ("Cardinal"), Lars Mikkelsen ("Herrens Veje") e Tolga Saritas (Söz).

"'La Casa de Papel' é um sucesso mundial. A série tem uma coisa genuína que realmente faz dela o concorrente mais forte. Mas temos o carisma do Julinho e uma visão diferenciada. Pois vemos a história pelos olhos do Cadu, o que gera uma identificação com o espectador", diz Breno, apostando todas suas fichas em Júlio Andrade. "Ele merece mais do que qualquer um. Estou torcendo mais para que ele leve [como melhor ator] do que a gente", admite o diretor - que neste ano vai acompanhar o ator na cerimônia em Nova York.

Espectador e fã da série espanhola, Breno Silveira se diz satisfeito com a indicação de "1 Contra Todos" como melhor série dramática. "Temos um personagem mais fundamentado e eles têm um conjunto mais bacana. São diferentes. Se vencer, vou entender. Pois eu gosto de 'La Casa de Papel'. Assisti e é uma série maravilhosa. Dá orgulho de ver que não são só os EUA que estão mandando no streaming. É bom perder um pouco essa hegemonia."

Dá pra bater a Netflix?

"La Casa de Papel" - Divulgação - Divulgação
Elenco principal da série espanhola "La Casa de Papel", que concorre ao Emmy Internacional
Imagem: Divulgação

Apesar do inevitável reconhecimento da série "1 Contra Todos" validado pela indicação ao Emmy Internacional, é inegável a desvantagem dela em relação ao público da concorrente espanhola, exibida no Brasil pela gigante Netflix. Um empecilho que Breno Silveira crê que será solucionado em breve.

"É lógico que eu queria que '1 Contra Todos' chegasse a muito mais gente, mas acho também que em breve tudo isso será repensado. A própria Fox deve se remodelar para que isso aconteça. Outras concorrentes já estão abrindo mercado para concorrer com a Netflix. A própria Globo está entendendo que série é um nicho importante e apostou na Globoplay. É uma questão de tempo."

Para o diretor, que carrega no currículo o fenômeno de bilheterias "2 Filhos de Francisco", o objetivo de sua primeira série para a TV é o mesmo que alcançou no cinema.

"Sempre penso em atingir a maior quantidade de público possível. Quando fiz '2 Filhos', não fiz porque tinha uma relação com o sertanejo. É que eu sabia que aquela era uma história que podia alcançar o Brasil todo. E isso aconteceu. A necessidade de ter contato com o grande público faz parte do que eu escolho para trabalhar", afirma.

Parâmetros de sucesso

Breno Silveira e Júlio Andrade - Divulgação - Divulgação
Breno Silveira (à esquerda) e Júlio Andrade (à direita) em momento de descontração nos bastidores de "1 Contra Todos"
Imagem: Divulgação

Se a Netflix ainda domina o streaming, dentro da distribuidora o cenário é bem diferente. O interesse internacional, especialmente da América Latina, faz de "1 Contra Todos" um fenômeno de audiência na Fox Premium. Segundo o diretor, lá a série só perde em número de espectadores para "The Walking Dead".

"Eu já sabia do sucesso dela fora do Brasil na primeira temporada. Foi uma avalanche de comentários do México quando a Fox abriu o sinal. Era uma série que, a princípio, era só para o Brasil. Hoje ela passa na América Latina inteira. Foi um sinal que estávamos falando algo que interessava também para eles. A história do Cadu é universal."

Mais uma vez o protagonista - que já ganhou comparações com Walter White de "Breaking Bad" - é lembrado. "Cadu é o herói que tenta ser incorruptível, mas acaba caindo numa cilada. E ele corrompe o Congresso Nacional. Nessa série eu estou mostrando como o nosso sistema está podre. A série fala muito sobre ética. O problema do narcotráfico e da política é muito forte na América Latina inteira. Algo parecido está rolando em vários países. Por isso estão assistindo e entendendo", conclui.