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Show de Nicki Minaj em SP tem música de Anitta e VIPs que só querem canapé

Ronald Rios

Colaboração para o UOL

27/09/2018 09h28

Com quatro discos muito bem sucedidos lançados sob a tutela dos chefes Birdman e Lil Wayne, não é difícil pra Nicki Minaj montar um setlist que sirva para dar uma boa festa pra todo mundo. De fãs antigos dos dias de "Pink Friday" ao pessoal que a conhece só dos singles de alta rotação nas rádios - na real, playlists de serviços de streaming hoje em dia - tipo "Feeling Myself" e "Chun-Li"; todo mundo consegue curtir o show numa boa sem se preparar muito.

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Nicki não inventa muito no espetáculo. Não tem pirotecnias, nem ela mergulhando em super coreografias. Ela abraça a ideia de que, apesar de hinos de pista de dança, a atração principal é ela no microfone, o que me agrada pois é mais um sinal de que por trás do ícone global tem alguém que gosta muito do ofício simples do MC, mesmo consciente de que sua linha de trabalho precisou virar a música pop. A única concessão que ela faz é um cenário com esculturas de uns felinos, um trono e uns 10 dançarinos ao seu redor. O resto é com ela. Acredite, hoje, isso é pouco.

Lógico que ela sabe o lugar dela no coração dos fãs e o que eles querem: música pop para mexer o quadril. Isso fica evidente quando o povo pira em demasia num daqueles momentos de "a festa vai durar para sempre", em "Starships", um som dela eurodance da época do "Roman Reloaded"; mas reage tímido ao boom bap de "Barbie Dreams", uma das músicas que a Nicki lançou recentemente que a exibe melhor como uma MC de sagaz capacidade lírica para gastar em linhas apesar da embalagem pop que veste todo dia. Cantou só o primeiro verso dessa.

E ela faz o show com essa paz em mente. Não parecer ser alguém querendo enfiar seus raps mais "rap de verdade" para o público - ela sabe que esses raps estão seguros ali nos discos, escondidos em meio às pancadas pop feitas para as pistas porque ela sabe que na hora do show, é isso que o povo quer. E tudo bem, esse é o jogo.

Nicki veio dar uma festa e uma festa ela deu. Fez seus hits e tocou várias novas - os fãs sabiam todas do disco "Queen" decoradas. A rapper também jogou fácil pra torcida. Mandou o DJ soltar um funk e lá veio "Vai Malandra" - a resposta foi razoavelmente boa, mas algo me diz que essa não é a melhor época pra evocar a Anitta para um público tão progressista como o que frequentava a casa nessa noite. Outras opções do catálogo do nosso funk teriam gerado um êxtase menos comedido. Foi agridoce a sensação. O povo tava feliz dela puxar um funk carioca, mas você quase conseguia ouvir a plateia pensando "Miga, então..."

A verdade é que MC Loma e as Gêmeas Lacração teria sido 10/10.

Uma coisa que não me desceu bem: Nicki tocou tipo umas 4 músicas seguidas sentada lá no seu trono. Eu entendo: Trono. Rainha. Álbum "Queen". Mas me ajuda a te ajudar, Nicki: eu estou em pé assistindo ao show. Faz o mesmo.

De mérito, vale mencionar que ela não se apoiou em quase nenhum hit alheio em que ela faça feature, prática muito comum nos shows de música pop, onde todos os hits de hoje em dia são "feat fulano". Sejam bem-vindos à música do século XXI, onde tudo é uma joint venture. Mas a Nicki tem na sua discografia o bastante pra não ter que tocar música dos discos dos outros. Abriu só uma exceção. Ela cantou seu imortalizado ápice lírico: o verso em "Monster", do Kanye West. É de 2010 a música, do "My Beautiful Dark Twisted Fantasy". O que para mim está muito justo, pois, sinceramente, a música virou dela. Não é do Kanye nem do Jay-Z.

Falando no segundo, o show era uma festa fechada do TIDAL, empresa de streaming do marido da Beyoncé, que está tentando colocar os tentáculos no Brasil. Acho que começaram bem, dando uma festa com uma artista de frente do pelotão. A organização do evento podia ter só dividido a área VIP dum jeito melhor: deixa esse pessoal que quer saber de canapé, Instagram e pinga de graça num espaço mais pro fundo e põe os fãs reais* - que conseguiram ingresso na promoção online - mais próximos ao palco, mais pertinhos da Nicki Minaj. Teria sido melhor pra artista que ia fazer um show com uma resposta mais quente, pro público ter uma melhor experiência, e não fica parecendo que metade da festa é fã da Nicki e metade tá na festa da Vogue.

* Um salve pro Raffa Moreira, (o original).