7 motivos para ver "The Gifted", uma das melhores séries de herói do momento
A franquia "X-Men" está passando por um momento de indefinição nos cinemas. Após a venda do estúdio Fox para a Disney a inclusão dos mutantes no Universo Marvel virou questão de tempo. Enquanto isso, "X-Men: Fênix Negra" e "Os Novos Mutantes" são marcados por muitos atrasos e refilmagens.
Na TV, felizmente, a história é outra. De fato, os mutantes nunca estiveram mais em alta no mundo televisivo. O sucesso de "Legion" na emissora norte-americana FX mostrou que histórias não convencionais de super-heróis funcionam na telinha, e "The Gifted" está prestes a estrear o seu segundo ano com o respaldo dos fãs e da crítica.
No Brasil, o canal Fox exibe, nesta quarta-feira (26), a estreia da segunda temporada de "The Gifted". Após a transmissão inicial às 16h, o capítulo ficará disponível no aplicativo de streaming da Fox para os usuários assistirem quando quiserem. Fãs de quadrinhos, dos "X-Men" ou de boas séries de super-heróis definitivamente devem conferir, e nós listamos sete motivos para isso:
1. Construção de mundo
Em "The Gifted", as relações entre humanos e mutantes estão longe da relativa harmonia vista nos filmes de "X-Men". Anos após o grupo de super-heróis sumir sem rastros da face da Terra, os mutantes são alvos de experiências ilegais, aprisionamento em massa e leis discriminatórias.
É aí que entra a família Strucker. Em um momento tenso na escola, os irmãos adolescentes Andy (Percy Hynes White) e Laurie (Natalie Alyn Lind) descobrem seus poderes, o que choca os pais Kate (Amy Acker) e Reed (Stephen Moyer) e os transforma em fugitivos da lei. Para complicar, Reed costumava trabalhar no setor governamental responsável por reprimir os mutantes, acreditando que estava fazendo o melhor para a sociedade.
Conforme os Strucker mergulham na rede clandestina de grupos mutantes de resistência, "The Gifted" constrói com impressionante detalhismo um mundo que esmaga institucionalmente os membros de uma classe social, e os mecanismos que os membros dessa classe encontraram para se defender. Como resultado, o espectador fica sempre querendo saber mais.
2. O tema da revolução
Como deu para perceber pela breve sinopse acima, "The Gifted" toca no ponto principal das histórias de "X-Men": o preconceito contra os mutantes. Metaforicamente, os quadrinhos do grupo e seus muitos spin-offs sempre foram sobre a discriminação enfrentada por grupos reais, das mulheres aos membros de diferentes etnias e à comunidade LGBTQ+.
Os filmes de "X-Men" sempre foram bons em traduzir isso, mas "The Gifted" dá um passo além. Visto que ela se localiza em um mundo de repressão concreta e institucional, ao invés de disfarçada e pontual, a série tem a liberdade e explorar o tema da revolução, ou resistência, frente ao preconceito.
Durante a primeira temporada, "The Gifted" ensaiou sua própria versão da rivalidade Professor Xavier vs. Magneto. Embora sem a presença dos líderes dos quadrinhos e filmes, a série refletiu em seu grupo de mutantes a divisão entre resistência violenta e não violenta, entre se defender e contra-atacar frente à repressão.
O segundo ano começa com os personagens principais divididos em dois grupos que agirão independentemente no universo segregado ao qual a série nos introduziu. "The Gifted" nos apresenta uma fissura ideológica, causada por condições sociopolíticas extremas, que destrói famílias e amizades - nada mais atual, ou mais relevante.
3. Aliados humanos
Outro elemento que "The Gifted" aborda bem mais do que a franquia de filmes é o relacionamento entre os mutantes e seus aliados humanos. Essas figuras são encarnadas principalmente em Kate e Reed na série - os pais dos jovens que são o estopim da trama colocam o seu amor pelos filhos acima de qualquer concepção equivocada que as instituições podem ter enraizado em suas mentes sobre mutantes.
O fato que eles fogem junto com os filhos para a clandestinidade, no entanto, não quer dizer que a relação de Kate e Reed com o grupo social marginalizado ao qual eles se juntaram inadvertidamente é sem suas complicações. A série sabiamente toma momentos para nos lembrar que empatia nem sempre é o bastante para pessoas privilegiadas entenderem os dilemas de pessoas oprimidas.
Mais bacana do que isso, no entanto, é que "The Gifted" mostra o casal Strucker insistindo em sua aliança com os mutantes - por necessidade, sim; por amor aos filhos, com certeza; mas, aos poucos, também por solidariedade humana. Nunca em uma adaptação de "X-Men" esse elemento foi explorado de maneira tão sensível e inteligente.
4. Mutantes obscuros
A indisponibilidade de grandes nomes como Magneto, Professor Xavier, Ciclope, Wolverine e Tempestade fez com que os roteiristas procurassem fundo no arquivo de personagens de X-Men para criar o elenco de "The Gifted". Como resultado, fãs puderam ver pela primeira vez alguns de seus personagens favoritos em carne e osso na tela.
Por exemplo, os protagonistas Andy e Laurie Strucker são uma versão de Fenris, uma poderosa dupla de mutantes que se voltou para a vilania nas HQs. Enquanto isso, Blair Redford interpreta Pássaro Trovejante, outro personagem dos X-Men nos quadrinhos que nunca foi traduzido para a tela.
"The Gifted" também inclui versões de mutantes obscuros como Sábia, a heroína com poderes tecnológicos; o impenetrável Shatter; Dreamer, que é capaz de hipnotizar e alterar memórias; e as malignas Irmãs Cuckoo, que têm poderes psíquicos.
5. Conexões com os X-Men
Por falar nos X-Men, a série não ignora que se passa em um mundo onde o grupo de mutantes já existiu. Vários dos elementos que a série usa para construir o seu universo são retirados dos quadrinhos: o órgão governamental que encarcera mutantes, por exemplo, se chama Sentinel Services ("Serviços Sentinela"), uma referência aos robôs gigantes assassinos que os X-Men enfrentaram no arco "Dias de Um Futuro Esquecido".
Enquanto isso, uma das principais personagens da série é Lorna Dane, a Polaris. Assim como acontece nas HQs, ela é filha de Magneto - algo que é reconhecido em vários diálogos durante a série, e que faz a jovem mutante refletir sobre o legado do "vilão" dos quadrinhos e filmes de "X-Men".
As conexões não param por aí. Grande parte do prazer de "The Gifted", para fãs de quadrinhos, é encontrar as referências e as sutis maneiras através das quais a série e o criador Matt Nix estão subvertendo o cânone dos "X-Men" para se encaixar em sua história.
6. Amy Acker
É verdade que o elenco de "The Gifted" tem alguns elos fracos, mas a série sempre se ilumina quando Amy Acker está em cena. A atriz texana é uma velha conhecida dos fãs de séries de ficção científica e terror: seus papéis em "Angel: O Caça-Vampiros", "Alias: Codinome Perigo", "Dollhouse" e "Person of Interest" não deixam mentir.
A grande habilidade de Acker é encarnar as mulheres dessas séries de gênero de uma forma que transcende os clichês sobre os quais elas foram construídas. Sua Kate Strucker, enfermeira por profissão, poderia ser só mais uma figura materna suave e frágil nas mãos de outra atriz, mas ganha fortitude, idealismo e inspiração nas dela.
Em uma série cheia de super-heróis e supervilões, Acker é responsável por fazer com que o espectador se importe com uma personagem que, na prática, não pode fazer muito para interferir em grandes batalhas e confrontos. A centralidade de Kate na trama mostra que a atriz tem potencial dramático o bastante para isso - e, se a série deixar, para muito mais.
7. Produção
Normalmente, quando emissoras de televisão que não são a HBO ou a Netflix tentam fazer uma série de TV que inclui efeitos especiais e grandes sequências de ação, o resultado é (no mínimo) decepcionante. "The Gifted" claramente não tem montanhas de dinheiro para gastar, mas encontrou um saudável meio-termo que faz com que suas cenas dependentes de efeitos sejam convincentes e impactantes.
Os valores de produção da série não ficam só na recriação digital dos poderes dos mutantes, no entanto. "The Gifted" tem uma equipe de dublês hábil e um design de produção inteligente, que constrói (e destrói, dependendo da necessidade) cenários de forma criativa e realista, sem nunca tirar o espectador da imersão na história.
Este tipo de detalhe pode parecer besteira para o fã casual de TV, mas uma série que não usa bem os recursos que tem a sua disposição sempre falha em envolver o espectador como deveria. A sabedoria técnica de "The Gifted" suaviza os defeitos e realça as qualidades da série, fazendo com que ela seja melhor do que a soma de suas partes.
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