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Paulinho Moska deixa de lado as baladas românticas e lança álbum político

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

21/09/2018 04h00

"Não quero mais cantar meus versos mais amenos, a menos que antes seus direitos sejam plenos", canta Paulinho Moska na música "Nenhum Direito a Menos". Depois de 25 anos compondo baladas românticas "amenas", o cantor e compositor extravasou seu descontentamento político no novo disco "Beleza e Medo" (o primeiro de inéditas em oito anos), que chega repleto de músicas politizadas.

Capa do disco "Beleza e Medo" de Moska - Divulgação - Divulgação
Capa do disco "Beleza e Medo" de Moska
Imagem: Divulgação

"Sempre fui um compositor metafórico e romântico. Mas eu também sou brasileiro e estou me sentindo igual a vocês ao ver tudo isso que está acontecendo na política", diz o cantor ao UOL. "Eu ia gravar mais um disco romântico, mas fiquei constrangido. Eu precisava me manifestar".

O resultado dessa indignação poderá ser conferido em São Paulo nesta sexta-feira (21), quando ele apresentará o show da sua nova turnê "Beleza e Medo" na Casa Natura Musical. No repertório, o público poderá esperar os sucessos do passado ("Pensando em Você", "A Seta e o Alvo", "A Idade do Céu", "Somente Nela", "Namora Comigo"), mas também as novas músicas em que ele critica a atual política brasileira.

"Não sou militante. Nunca fui de briga. Não sou esse artista que fica na infantaria das redes sociais. Eu vejo radicalismo dos dois lados, embora eu penda para a esquerda. Todo mundo perde com a falta de diálogo honesto", diz.

Medo do medo

Paulinho Moska lança novo disco "Beleza e Medo" - Divulgação/Flora Negri - Divulgação/Flora Negri
Paulinho Moska lança novo disco "Beleza e Medo"
Imagem: Divulgação/Flora Negri

Das dez faixas do disco, cinco são composições individuais de Moska. A outras cinco são co-criações feitas com Zeca Baleiro ("Pela Milésima Vez"), Zélia Duncan ("Medo do Medo") e Carlos Rennó, que assina com Moska três faixas: "Em Você Eu Vi", "Megahit" e "Nenhum Direito a Menos".

E foi para Carlos Rennó que Moska pediu ajuda ao compor suas músicas políticas. "Em uma conversa com o Rennó, manifestei minha insatisfação com as letras que tinha. Pedi a ele que escrevesse uma canção-manifesto. Eu queria uma música humanista".

Dessa parceria, surgiram contundentes versos com críticas ao Congresso Nacional. "Nesse momento de gritante retrocesso / De um temerário e incompetente mau Congresso / Em que poderes ainda mais podres que antes / Põem em liquidação direitos importantes", canta Moska em "Nenhum Direito a Menos".

Com Zélia Duncan, em "Medo do Medo", o tema foi a dualidade entre a beleza e o medo, que inspirou o título do álbum. "Eu percebi que beleza e medo são gêmeos siameses. Se não existisse o medo, não teríamos a necessidade de produzir a beleza. O contrário também existe. Se não existisse a beleza, não sentiríamos o medo de perdê-la".

América Latina

O desejo de Moska em manifestar publicamente suas opiniões políticas foi despertado também ao perceber que outros países da América Latina enfrentam os mesmos problemas que os nossos. "Em 2017, eu visitei 12 países da América Latina para a série 'Tu Casa es Mi Casa', encomendado pelo canal americano NBC".

Na série, composta por 12 episódios de 52 minutos, Moska conversa com cientistas locais sobre os problemas do país onde está visitando. Depois, a partir da ideia desse cientista, um artista visual faz um desenho e Moska o tatua no braço. Na sequência, ele compõe com algum músico local uma faixa sobre essa ideia científica. "Quando eu conversava com as pessoas sobre seus problemas, os assuntos eram sobre a bancada evangélica, a bancada ruralista, o lobby da indústria farmacêutica, presidentes vendidos, congresso dominado. Igual ao Brasil", lembra.

A influência latino-americana se deu também na gravação do videoclipe de "Nenhum Direito a Menos", feita em uma prisão de Montevidéu, no Uruguai. No vídeo, diversos rostos diferentes são projetados em cima do rosto de Moska. "Precisamos aprender a admirar a diferença. Precisamos entender que o mundo é feito da diversidade das pessoas. Temos um caminho longo e difícil até que isso aconteça e é por isso que faço o que eu faço".

A América Latina também estará no roteiro de shows de Moska. Depois de São Paulo, ele se apresentará em Montevidéu e em diversas cidades do interior da Argentina, além de Buenos Aires.

"Atrás da palavra e da música, tem o cidadão com sua personalidade. Eu acho que toda arte é política e, ao invés de ficar discutindo na internet, eu preferi criar uma obra que poderá ser ouvida por milhares de pessoas", afirma o cantor.

Paulinho Moska lança novo disco "Beleza e Medo" - Flora Negri/Divulgação - Flora Negri/Divulgação
Imagem: Flora Negri/Divulgação

Serviço:

Paulinho Moska em São Paulo
Turnê "Beleza e Medo"
Quando: Sexta-feira (21 de setembro)
Horário: 22h (abertura dos portões às 20h30)
Onde: Casa Natura Musical (Rua Artur de Azevedo, 2134 - Pinheiros)
Quanto: Pista: R$ 80 e R$ 40 (meia) / Camarote: R$ 200 e R$ 100 (meia) / Bistrô superior R$ 160 e R$ 80 (meia)

Ouça o novo disco: