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Erros sobre o catolicismo e enredo fraco: Uma freira analisa "A Freira"

Cena do filme "A Freira" - Reprodução
Cena do filme "A Freira"
Imagem: Reprodução

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

19/09/2018 04h00

A freira Rose Pacatte é jornalista, roteirista e acumula prêmios dentro da indústria cinematográfica. Integrante da Daughters of St. Paul desde 1967, Rose é fundadora do "Sister Rose at the Movies" e analisou para o site católico "Ncronline" o blockbuster "A Freira", que vem arrebatando as bilheterias mundiais desde sua estreia em 06 de setembro.

Irmã Rose admite, logo no começo de seu texto, que a produção acerta apenas em dois aspectos do catolicismo: que o Diabo existe e que Maria, a mãe de Jesus, vai nos mostrar o caminho para a salvação. "'A Freira' é um festival de sustos com um enredo fraco, personagens unidimensionais e uma premissa que mostra pouca familiaridade com o catolicismo atual. Na verdade, fiquei mais chateada com isso do que pelas freiras possuídas infestando a noite com terror", escreveu Rose.

A freira Rose Pacatte - Reprodução/Facebook/SisterRoseGoesToTheMovies - Reprodução/Facebook/SisterRoseGoesToTheMovies
A freira Rose Pacatte
Imagem: Reprodução/Facebook/SisterRoseGoesToTheMovies

Apesar de crítica, a freira é racional em seu texto ao apontar que algumas soluções simplesmente funcionam melhor dentro da temática de horror na qual está inserida "A Freira" e a franquia "Invocação do Mal". "No filme, a única forma que você pode mostrar um portal é visualmente, mesmo que seja difícil de entender a doença espiritual que o criou como um convite para o demônio entrar no monastério. A solução também é algo que nenhum exorcismo católico usaria, mas sem isso você não conseguiria ter uma franquia".

A irmã Rose indica que nos dias atuais um portal espiritual pode ser aberto com astrologia, cartas de tarô, horóscopo e a famosa tábua Ouija. Ela ainda garante que a Igreja Católica trata o exorcismo com extremo cuidado, incluindo uma avaliação mental da pessoa antes de executar a perigosa prática de esconjurar demônios. 

Faltou pesquisa sobre a área?

Rose conversou com os protagonistas Demián  Bichir (Padre Burke) e Taissa Farmiga (Irmã Irene) durante a divulgação do filme para saber como eles se prepararam para o papel. Demián vem de uma família católica, na qual aprendeu muito com sua avó, e pensou em seu personagem como um "lutador competente, que conseguiria combater o Diabo". Já Farmiga admitiu que teve apenas um dia para entrar no mundo assustador imaginado pelo diretor Corin Hardy.

A atriz revelou que sua pesquisa foi basicamente passar horas no YouTube vendo vídeos para aprender como se comporta uma freira e assistir a "Uma Cruz à Beira do Abismo", filme de 1959 protagonizado por Audrey Hepburn. "Ela preenche seu papel com muita competência, mesmo com o desafio de ter em mãos um texto raso e defasado", analisa a freira sobre a atuação da jovem atriz.

Cena do filme "A Freira" - Reprodução - Reprodução
Cena do filme "A Freira"
Imagem: Reprodução

Por outro lado, o papo com Corin foi mais natural e ela teve a oportunidade até de conhecer a mulher e os filhos do cineasta. O responsável por "A Freira" mostrou um dos seus inúmeros caderninhos de anotações durante a pré-produção e ainda contou que pediu para um padre abençoar o set de filmagens. 

Rose deu a Corin um anel abençoado na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, no México. "É muito difícil criticar duramente um filme quando você conhece o diretor e ele se mostra um cara tão legal e com uma família incrível. Consultores teriam feito o filme melhor -- estou certa disso. A imagem de uma freira é icônica e era óbvio que o medo popular sobre elas iria expandir eventualmente. 'A Freira' faz isso muito bem, a qualidade da produção é de alto nível".

"Lamento que eles usem o suicídio como um dispositivo de enredo", lamentou Rose no texto. "Suicídio é tão prevalente hoje na vida real e, como qualquer outra coisa, pode alimentar a fragilidade de alguém".

A freira ainda revela que benzeu a sala de cinema quando viu o filme, justamente pela produção versar sobre o Diabo. "Não tenho muita certeza se os produtores entendem com o que estão realmente estão lidando. Mas, se as pessoas saírem [do cinema], acreditando que o Diabo é real, pelo menos isso é uma coisa importante", concluiu Rose em sua análise.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que estava escrito, o "National Catholic Reporter" não foi fundado pela Rose Pacatte, ela apenas escreveu uma crítica para o site.