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Como o coletivo de rappers 1Kilo quer revolucionar a música brasileira

Integrantes do grupo, coletivo e também gravadora 1Kilo  - Divulgação
Integrantes do grupo, coletivo e também gravadora 1Kilo Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

19/09/2018 04h00

Em menos de dois anos, eles foram de cem mil para quase 5 milhões de seguidores, só no YouTube. Já fizeram “feats” com Projota, Hungria e Lucas Lucco e desbancaram Anitta, Pabllo Vittar e Alok nas paradas. Eles são em maioria cariocas e respondem pela alcunha de 1Kilo, um coletivo de rappers que também funciona como grupo e gravadora independente. E os planos deles são tão grandiosos quanto os números.

Impulsionados por "Deixe-me Ir" (270 milhões de views) e “Você Vai Entender” (110 milhões de views), os integrantes querem mudar a forma como a música brasileira é pensada, produzida e consumida. A fórmula passa pelo rap acústico, uma salada pop salpicada de violões, flows, MPB, pop, trap e letras frugais, por vezes românticas e também engajadas. Quase tudo vale para o grupo 1Kilo.

Nesse novo conceito, inspirado em coletivos americanos como Wu-Tang Clan e A$AP Mob, mais de 20 integrantes se revezam em músicas individuais, parcerias e faixas em conjunto. O esquema vai além da música: MCs, produtores, designers e profissionais do marketing podem entrar e eventualmente sair do projeto, tratado pelos integrantes como uma comunidade, uma escola de música dos novos tempos.

Longe das gravadoras, a "banca" --termo usado no rap para designar coletivos-- criada por Pablo Martins, DJ Grego, DoisP e Felipe RastaBeats planeja agora se profissionalizar, expandindo a marca 1Kilo na internet e diversificando produtos e serviços. Eles já prestam, por exemplo, consultoria musical e já começaram a investir na própria coleção de roupas.

Também estão nos planos a primeira grande turnê nacional e a divulgação do projeto "Alma de Favela", mixtape menos pop e mais alinhada à cultura rap/cypher da quebrada. Para que os números (e cifras) continuem em ritmo de expansão, um novo grupo de rappers deve se juntar ao coletivo em 2019. A renovação é fundamental para o 1Kilo, que já esteve em atrações globais como "Encontro com Fátima Bernardes" e "Só Toca Top".

Para entender melhor quem eles são, como trabalham e para onde estão indo, o UOL bateu um papo com Pablo Martins, uma das cabeças pensantes do projeto, que vem ficando cada vez mais nacional, com integrantes de diversas partes do país.

Pablo Martins, cofundador do 1Kilo - Divulgação - Divulgação
Pablo Martins, cofundador do 1Kilo
Imagem: Divulgação

O conceito do 1Kilo

“Eu trato como novo sistema de gravadora virtual, que está surgindo com toda a liberdade que a internet nos dá. Somos uma gravadora, uma escola de música, uma banca que representa o rap nacional, e estamos conseguindo expandir isso para todos os lados. Hoje, a gente disponibiliza serviços para artistas nossos e de outras bancas. De tudo, de motorista, a segurança, de designer, marketing.”

Razão do sucesso

“Tem sido um momento muito especial para nós, como foi desde o início há dois, três anos. Acho que agora, por um movimento do universo, algo especial está acontecendo. A 1Kilo e todas essas outras bancas estão podendo aparecer para se estabelecer. Não desmerecemos nenhum estilo, muito pelo contrário, mas acho que as pessoas estão carentes de mensagens. E agora elas têm um rap nacional forte para se identificar. Podem escutar, bater no peito e dizer ‘isso aqui é minha verdade também’."

Grana

“Mano, temos a internet do nosso lado, mas hoje em dia ganhamos mais fazendo show. Não vou revelar valores, mas diria que é uns 70% com show e 30% com internet. Mas, apesar disso, a internet é nosso foco porque fazemos música mirando o grande público, em grande escala. Ela é fundamental. Fortaleceu muito nosso caixa.”

Propostas de gravadoras

“Chegam bastante propostas. Mas não é meu objetivo nem começar a conversar sobre isso. Nosso objetivo é consolidar a gravadora e fazer tudo ao redor crescer. Esse é o nosso plano. Nem parei para ouvir proposta, para falar a verdade.”

Lucas Lucco posa com integrantes do 1Kilo - Reprodução - Reprodução
Lucas Lucco posa com integrantes do 1Kilo
Imagem: Reprodução

Valores defendidos

“Eu tenho uma posição particular sobre as drogas [Pablo costuma aparecer em fotos e vídeos fumando baseado], mas todo mundo aqui é muito livre para ter suas decisões. A gente prega muito um princípio básico que é o respeito a todos e a liberdade. Todo mundo deve ter direito igual. É algo muito difícil de acontecer, mas é bom a gente já começar a pensar nisso. Somos muito pouco impulsivos em questões sérias, que podem ter consequências ruins para nós. Mas isso não significa que somos totalmente apáticos com as coisas que acontecem.”

Política

“A gente tem que preparar o público para o que será colocado. A gente ainda está no momento de pegar a atenção das pessoas, para elas abrirem o olho e prestarem a atenção para o que vamos falar. Depois, quando sentirmos temos credibilidade e confiança, vamos falar sobre coisas mais sérias, como já está sendo com o ‘Alma de Favela’ agora. Este ano, sem ficar totalmente comercial, já conseguimos puxar a atenção das pessoas para isso.”

Política 2

“Eu tenho um problema com política, com a forma como as coisas são construídas, como estão sendo feitas. Não acredito em mudanças imediatistas. Acredito na construção, e tem muito disso nas músicas que estamos trabalhando agora.”

Rap acústico

“Eu venho de uma carreira anterior de MPB e rock. E o RastaBeats, que é um dos meus sócios, também vem de uma escola de música mais erudita, mais para a MPB. Isso acabou vindo como uma grande influência. Foi natural. Todo mundo aqui gosta de música brasileira, música orgânica, música latina. Também queremos fazer um rap muito nacional, entende? Queremos representar muito a diversidade do rap do Brasil.”

Por que deu certo o formato coletivo

“Porque, quando se trata de uma cena, de um movimento de pessoas, é sempre mais fácil fazer em conjunto. Isso vale para qualquer coisa. Até para empurrar um carro. Foi isso que eu tentei mostrar ali no nosso começo. Se a gente dividisse um miojo, dividisse um apartamento como dividimos, uma casa, a gente conseguiria fazer coisas especiais.”

Integrantes do 1Kilo se apresentam no Rio Grande do Sul - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Integrantes do 1Kilo se apresentam no Rio Grande do Sul
Imagem: Reprodução/Facebook

Outros coletivos/grupos relevantes

O Damassaclan, o pessoal do Ceia Ent, A Banca Records, Medellin, Novo Egito, 3030. Todo esse pessoal que está vindo. Eles nos dão orgulho de participar da cena. São caras que estão botando a cara, fazendo som e abrindo o caminho para nós e para muito mais gente.

Futuro do gênero

“Nossa intenção é sempre ter mais parceria. Expandir e valorizar o mercado do rap, da música brasileira. Acho que o futuro é esse. Todo mundo vai se estruturar cada vez mais. Estou vendo várias bancas muito bem montadas. Gosto muito do que tenho visto. Para nós, é um orgulho. Ver que o que estamos fazendo está motivando as pessoas a fazer outras coisas, eles gostando ou não da gente.”

Planos

“Este ano foi um ano de muita erupção. Agora a gente quer estabilizar e administrar da melhor forma. Queremos ter uma gravadora com um nome que dure anos e anos no mercado. Vamos continuar a produzir mais músicas de voz e violão, para galera que gosta de coisa mais calma, pra viajar. Resumindo, estamos com mesma estratégia do ano passado: fazer música e alcançar as pessoas na maior quantidade de momentos possíveis.”