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As animações adultas tomaram o lugar das sitcoms e os criadores querem mais

"(Des)Encanto", "BoJack Horseman" e "Rick e Morty" - Reprodução
"(Des)Encanto", "BoJack Horseman" e "Rick e Morty" Imagem: Reprodução

Osmar Portilho

Colaboração para o UOL

18/09/2018 04h00

Se nos anos 90 as sitcoms reinavam na TV a cabo, quando nem se pensava em ter serviços de streaming, os assuntos dos fãs giravam em torno de "Seinfeld", "Mad About You", "Cheers", "Married With Children" e outros, hoje o formato perdeu espaço para as animações. A reta final de "Big Bang Theory" é um exemplo de como gênero caiu no esquecimento. No lugar, uma onda expressiva e em franca ascensão de animações com humor adulto e ácido vem tomando conta das TVs. E eles querem mais.

No caminho pavimentado por "Os Simpsons" e "Family Guy", hoje vemos uma oferta jamais vista de títulos que miram o público adulto. "Rick e Morty", "BoJack Horseman", "Bob's Burguers" e "(Des)encanto" são só algumas animações que têm despertado interesse e ganhado fãs fiéis.

Raphael Bob-Waksberg é criador de "BoJack Horseman" - David Livingston/Getty Images - David Livingston/Getty Images
Raphael Bob-Waksberg é criador de "BoJack Horseman"
Imagem: David Livingston/Getty Images

Raphael Bob-Waksberg, showrruner de BoJack Horseman, vai além ao mudar o rótulo geralmente dado para o segmento. "Eu não sei nem se animação é um estilo. É um formato. Dizer que alguém é fã de animação é tão bobo quando dizer que alguém é fã de live action. Isso pode dizer qualquer coisa", disse ao Hollywood Reporter.

O próprio criador de BoJack Horserman se diz influenciado por sitcoms como "Seinfeld" e "Larry Sanders Show". Daí a vontade de cutucar constantemente assuntos quentes e polêmicos.

Embora a safra de animações seja rica e tenha muito conteúdo de qualidade, o crescimento também tem um impulso importante: dinheiro. Os serviços de streaming, que adquirem títulos aos montes para apostar em várias frentes, encontram mais facilidade para comprar animações do que sitcoms. O custo de um desenho é muito menor do que a estrutura exigida para um sitcom ou um especial de comédia de stand-up.

"Você verá mais e mais animações nos próximos cinco anos. Incluindo uma diversidade muito maior do que podemos chamar de animações adultas", explicou Bob-Waksberg. "Há emissoras interessadas em se arriscar para buscar novas audiências que eles nunca buscaram. Eu espero que isso seja o estopim para novas oportunidades. Eu farei o possível para ter certeza de que estamos contando histórias diferentes. Torço para que essa onda continue".

Loren Bouchard, criador da animação "Bob's Burger" - Emma McIntyre/Getty Images - Emma McIntyre/Getty Images
Loren Bouchard, criador da animação "Bob's Burger"
Imagem: Emma McIntyre/Getty Images

Criador de "Bob's Burgers", Loren Bouchard, que acabou de renovar seu contrato com a Fox, já havia feito empreitadas do tipo nos anos 90 com a animação "Dr. Katz". "Nós trabalhávamos em um orçamento muito, muito menor. Parecia com o começo da internet. Era algo bem livre. Você podia cultivar mesmo que uma pequena audiência e tomar conta dela para você sobreviver", contou.

O tom é diversidade e abrangência

Embora as animações adultas sempre buscassem satisfazer seus nichos, o tom agora é dominar temas mais abrangentes e falar com mais gente. Prova disso vem do sucesso de "Rick e Morty". A série de Dan Harmon e Justin Roiland contratou quatro mulheres para integrar seu time de roteiristas.

"Há muitas mulheres que não tinham uma animação focada para elas. A audiência está lá", disse Bob-Waksberg.

Em "(Des)encanto", criada por Matt Groening --responsável por "Os Simpsons" -- temos um exemplo claro deste foco. A Princesa Tiabeanie é o oposto do conto de fadas, uma garota empoderada, alcoólatra e que literalmente vive com seu demônio pessoal.

Enquanto nos 90 as animações adultas cuidavam de sua audiência segmentada e viam as sitcoms invandirem as casas em todo o mundo, os criadores que cresceram assistindo "Seinfeld" e "Friends" agora riem à toa em Hollywood, mesmo que seja só em desenho.