Topo

Mariana Nolasco vira cantora fora do YouTube em álbum maduro de estreia

A cantora Mariana Nolasco - Tom Rodriguês/Divulgação
A cantora Mariana Nolasco
Imagem: Tom Rodriguês/Divulgação

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

10/09/2018 04h00

Ela começou a gravar vídeos na internet sem pretensão alguma, com covers de músicas que gostava. Aos poucos passou a acumular seguidores. Esses seguidores viraram fãs, não mais de uma youtuber, mas sim de uma cantora profissional que lançou recentemente o primeiro trabalho autoral. "Eu pensei: 'as pessoas estão me acompanhando pelo YouTube, gostam dos vídeos, mas e de verdade? A galera estaria disposta em ir a um show meu?''', lembra Mariana Nolasco em entrevista por telefone ao UOL.

Continua após publicidade

Com a ajuda do namorado Pedro Pascual, Mariana começou a pensar que poderia deixar de lado por um instante as interpretações para explorar mais sua personalidade. E ela garante que não tem segredo, tudo se resume a praticar. "Comecei a tentar compor, porque era uma coisa muito nova para mim, não sabia o que ia sair. Foi uma questão de prática, de pegar meu violão no meu tempo livre e ficar quebrando a cabeça para sair alguma coisa que tivesse a ver comigo".

"Poemas Que Colori" foi a primeira canção que saiu. A métrica complexa entrosada com apenas voz e violão tinha a cara de tudo o que ela gostava de ouvir, ganhando forma do que seria a característica do seu álbum de estreia. "Me dei conta de que eu gravaria um cover dessa música. E eu fiquei impressionada com isso, porque a galera que me acompanhava no canal gostava de covers dos artistas que eu gostava de ouvir."

Acumulando mais algumas composições, Mariana lançou um financiamento coletivo na internet para gravar o projeto de estreia. "Porque é muito vago lançar um CD sendo que a galera que me acompanha só quer ver os covers. Mas eu percebi que eles queriam ver o que eu tinha para oferecer", salienta a garota de 20 anos. Foram dois anos neste processo, enquanto isso já calcando shows pelos Brasil no projeto "Mini-Turnê".

"A gente foi para 10 estados no Brasil, conseguimos lotar algumas apresentações e foi surpreendente para mim. Até o carinho, porque tinha gente que conhecia há anos e falava: 'você existe, que bom'. Era uma curiosidade das pessoas de me conhecerem e me ouvirem", diz.

Entre o folk, o sertanejo, o funk e o hip hop

Mariana costuma fazer covers dos estilos mais variados, sem preconceito. Ela viralizou com uma versão feminista de "Baile de Favela", do MC João, mas passa por Natiruts, Jorge & Matheus, Anavitória e até o hit do último ano, "Despacito". A cantora revela que foi influenciada desde criança pela mãe, que amava Marisa Monte e Chico Buarque. A nova leva da MPB, marcada por Tiago Iorc e Maria Gadú, também fazem a cabeça dela, assim como a norte-americana indie Grace VanderWaal.

Talvez seja por essa variedade de sons que Mariana construiu algo seguro e maduro em seu disco de estreia. Sob a tutela do produtor Rovilson Pascoal, as 10 músicas do projeto lembram a delicadeza de suas interpretações no YouTube, sem exageros adicionais como batidas eletrônicas ou viradas bruscas. A força da garota é justamente a voz e o violão, recebendo toques específicos aqui e acolá.

A cantora Mariana Nolasco - Tom Rodrigues/Divulgação - Tom Rodrigues/Divulgação
A cantora Mariana Nolasco
Imagem: Tom Rodrigues/Divulgação

Versando sobre a natureza, "Fico Só" ganha ares de bluesgrass norte-americano com o ritmo acelerado, usado também em "Constelação", parceria com o grupo Mar Aberto. Ao mesmo tempo, a cadência de "Certeza" brinca com o paradoxo de ter ambientação grandiosa mesmo sendo tão minimalista. A música mais popular de Mariana no Spotify é "Sons de Amor", gravada ao lado do rapper Rael.

"A coisa diferente do Rael é que é um rap mais cantado, mais melódico. Eu o conheci em um show dele quando estava lançando o último disco, 'Coisas do Meu Imaginário'. Aí o Pedro deu a ideia de mandar uma música para o Rael. Eu pensei que nada a ver, estava super insegura. A gente se encontrou no estúdio e ele fez o rap em meia hora. E foi incrível."

Entre o YouTube e o futuro na música

"Eu acho que é uma questão de espalhar mesmo o som. Obviamente pretendo fazer mais músicas, mas agora mesmo é poder espalhar essas músicas pelo país, fazendo turnês e shows", define Mariana sobre os próximos passos na música. Mesmo consolidando cada vez mais a carreira "profissional", a jovem garante que não deixará de lado o YouTube e ainda vai continuar postando seus covers preferidos.

Com quase 4 milhões de inscritos em seu canal e mais 4 milhões seguindo tudo o que ela posta no Instagram, Mariana tem um séquito on-line que quer vê-la se apresentando ao vivo e entregando materiais autorais, passando da tela do celular para o mundo real.

"Quando eu comecei a gravar vídeo, não existia essa coisa de 'youtuber'. As pessoas me encaixaram nele, porque existia toda essa onda. Mas eu acho que é uma transição que precisa ser feita com calma. Eu nunca vou deixar de ser, por exemplo, a Mariana que fazia cover. Acho que é um processo muito natural, das pessoas compreenderem isso comigo, porque eu também estou entendendo agora como é." 

2 Comentários

Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.

Tukantin

Se fosse num desses concursos de novos cantores da tv, não passava nem da primeira audição... assim como Nara leão, Paula Toller, Marisa Monte, Fernanda Takai. Os produtores acham que o público só quer técnica de escolinha, não criatividade ou personalidade. Tudo acaba ficando igual, quando às vezes até uma desafinada proposital pode dar aquele algo a mais num verso. Enquanto nenhum canal de tv der espaço para artistas de verdade ao invés de apenas "vozes", ou para novos compositores, o YouTube vai ser mesmo o melhor lugar para se descobrir coisa boa, apesar da bagunça toda. Já vi a Manu Gavassi e a Bruna Viola antes da Mariana, ainda na década de 2000, agora até instrumentistas como a guitarrista Lorena Braco. Procurando certo tem muito mais por aí sem o preconceito das grandes emissoras.

Valestra

Muito linda.

publicidade