"Crô em Família" se preocupa em lacrar e esquece de apresentar uma história
"Close errado", "bofe escândalo", "lacre", "falsiane". Não faltam essas e outras gírias similares em "Crô em Família", que estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas. A inclusão dessas frases parece ter um propósito claro: o de aproximar o personagem dos dias atuais.
Para quem não lembra, Crô era o mordomo e fiel escudeiro de Tereza Cristina (Christiane Torloni), grande vilã da novela "Fina Estampa", exibida entre 2011 e 2012. À época, não faltaram críticas ao personagem, que era visto como uma representação estereotipada de um homossexual.
Mesmo assim, Crô fez grande sucesso e foi parar nas telas do cinema em 2013, no longa "Crô: o Filme", que conseguiu atrair mais de 1,5 milhões de espectadores. Por isso, parece natural que uma sequência seria uma aposta certa.
Entretanto, a pergunta permanece: como fazer com que um personagem tão antigo não fique datado. Segundo Cininha de Paula, diretora do novo filme, Crô não será nunca datado. "Ele é um ser humano, ele pode estar velhinho e vai continuar sendo unânime e atual".
O problema é que o esforço para mostrar que o personagem ainda está inserido em uma realidade contemporânea vem em detrimento da qualidade da narrativa. Em termos claros: a história de Crô é extremamente frágil e flerta constantemente com o caos, sobre constante risco de desmoronar em meio à enxurrada de expressões "descoladas".
Em "Crô em Família", o personagem tenta superar o trauma de sua recente separação e procura administrar da melhor forma sua escola de boas maneiras. Porém, tudo muda com a chegada de um grupo de pessoas que declaram ser sua família perdida. Ele procura uma aproximação, pois deseja ser amado, mas ao mesmo tempo sofre com o fato de seus parentes serem tão diferentes dele próprio.
E é nesse andar de círculos que o filme se desenvolve até o final. Os problemas são imediatamente perceptíveis, uma vez que só para chegar nesse ponto o espectador é forçado a esperar alguns minutos de cenas desconexas cheias de gírias de efeito, barracos no tribunal e uma menção a Lady Gaga que levam a questionar: "Afinal, do que fala esse filme?".
Não ajuda que a edição por diversas vezes é rápida demais, pulando de uma imagem para outra em um ritmo frenético, gerando a impressão de o filme, na verdade, se trata de um grande compilado de esquetes.
O texto, que também quer ser do "babado", se mostra raso demais para segurar uma trama coerente. Nos momentos em que os personagens não estão reverberando expressões populares "moderninhas", o que se vê são diálogos por vezes constrangedores, por vezes sem sentido e às vezes apenas incômodos: todos os momentos em que Crô força sua "fluência" no francês são bastante representativos.
Tudo isso gera situações forçadas e sem propósito, como toda a sequência envolvendo o show de Preta Gil e Pabllo Vittar, e também a cena como Jojo Todynho, que parecem todas ter entrado no projeto só para gerar mais identificação com o público.
O que segura o filme de despencar de vez é o carisma e segurança com os quais todo o seu elenco trabalha. Marcelo Serrado mantém os mesmos maneirismos que marcaram o personagem anos atrás, mas consegue transmitir toda a alegria nele contida com uma naturalidade espantosa. Rosi Campos e Arlette Salles também imprimem todas as nuances necessárias a suas Almerinda e Marinalva, as duas figuras maternas de Crô.
Jefferson Schroeder, que ficou famoso por conta das diversas vozes que é capaz de criar, também demonstra muito talento na pele da animada Geni, melhor amiga de Crô.
As atuações energéticas dos atores também combinam com a fotografia do filme, bastante colorida e vibrante, que busca passar um clima alegre e solar.
"Crô em Família" possui uma mensagem sobre a importância das relações familiares e da união, e seria mais interessante se tivesse buscado focar mais nesses temas do que em momentos de catarse com cenas expansivas e gírias "engraçadinhas". Infelizmente, o roteiro parece mais preocupado em "lacrar" do que em contar uma boa história.
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