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Troye Sivan coroa uma nova (e ousada) geração de popstars LGBTQ+

Troye Sivan no Teen Choice Awards - Kevin Winter/Getty Images
Troye Sivan no Teen Choice Awards
Imagem: Kevin Winter/Getty Images

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

02/09/2018 04h00

Com uma piscadela marota, Troye Sivan jura que "Bloom", faixa-título de seu segundo álbum de estúdio, é "apenas sobre flores". A palavra inglesa pode ser traduzida como "florescer" ou "desabrochar", mas a resposta em tom de zombaria não impediu a revista Dazed de classificar a canção como "um hino pop para os gays passivos".

No primeiro verso do single, Sivan convida um amante para "dar um passeio por seu jardim". Depois, no refrão, pede que o seu amado lhe avise antes de começar, e "segure sua mão" se ele ficar "assustado". No vídeo, o artista aparece com uma variedade de visuais andróginos. Resta pouca dúvida que se trata de uma história LGBTQ+ sobre perda de virgindade.

Não à toa, a revista OUT descreve "Bloom" como o "álbum de sexo" do cantor e ator australiano. Em "Dance to This", ele e Ariana Grande imploram para que seus amantes se "amassem contra os seus corpos". Na balada "Animal", Sivan admite em um verso que a canção é "uma ode ao menino que ele ama".

O músico de 23 anos, assumido publicamente desde os 18, nunca escondeu o gênero dos namorados e amantes para os quais suas canções eram dirigidas - mas é com "Bloom", que chegou às lojas e aos serviços de streaming nessa sexta-feira (31), que ele se solta e emerge quase como um Boy George para a nova geração.

O disco é também a coroação de um ano em que pelo menos dois outros popstars LGBTQ+ se abriram sobre suas sexualidades em músicas que foram ouvidas no mundo todo.

Hayley Kiyoko, conhecida pelos fãs como "Jesus Lésbica", durante show no Coachella - Frazer Harrison/Getty Image - Frazer Harrison/Getty Image
Hayley Kiyoko, conhecida pelos fãs como "Jesus Lésbica", durante show no Coachella
Imagem: Frazer Harrison/Getty Image

"Jesus lésbica"

É assim que os fãs de Hayley Kiyoko chamam a atriz e cantora americana desde que ela lançou "Girls Like Girls", single de 2015 que impulsionou sua carreira musical. Após anos escondendo sua sexualidade, a "boa moça" que colecionou participações em séries e filmes da Disney e da Nickelodeon surpreendeu ao cantar que - garotas gostam de garotas - e não há nada de novo nisso?.

Quando o disco de estreia, "Expectations", finalmente chegou às lojas (em março), a capa estampava Kiyoko em uma poltrona, aguardada na cama por uma mulher nua. As canções, assim como os clipes, refletiam experiências amorosas e sexuais lésbicas.

"Curious", a primeira música de Kyioko a chegar às paradas americanas, conta sobre o affair da cantora com uma garota que, ainda não assumida publicamente, tem um relacionamento de fachada com alguém do sexo oposto. Cheia de sarcasmo por cima da batida grudenta, Kiyoko pergunta: ?Eu só estou curiosa, isso aí é sério??

Ficção científica gay

Quando a Years & Years surgiu no cenário musical, com o disco de estreia "Communion" (2015), ela já era uma banda pop excepcionalmente gay. As letras usavam pronomes masculinos em contextos românticos ou sexuais, e o vocalista Olly Alexander aparecia se insinuando com homens e mulheres nos clipes.

Olly Alexander, vocalista do Years & Years - Ian Gavan/Getty Images - Ian Gavan/Getty Images
Olly Alexander, vocalista do Years & Years
Imagem: Ian Gavan/Getty Images

Mesmo assim, o segundo disco do grupo, "Palo Santo" (lançado em julho), parece um passo à frente nesse sentido. O primeiro single, "Sanctify", usa simbologia religiosa para falar de encontros sexuais do vocalista com homens que ainda se escondem sob a fachada de heterossexualidade. "Você não precisa ser hétero comigo, eu vejo o que está por baixo da sua máscara", proclama Alexander em certo momento da música.

No vídeo, ele aparece em um mundo futurista que seria revisitado em outros clipes, mais tarde amalgamados em um curta-metragem. Um dos poucos humanos que sobraram em um mundo robótico, ele é sequestrado e vendido como forma de entretenimento para os androides que dominam a civilização. Enquanto se apresenta para eles, se apaixona por um dançarino.

Onde está o pioneirismo?

Ao contrário do público gay, que teve alguns popstars para chamar de seus nas últimas décadas (Boy George, George Michael, Elton John, Adam Lambert, etc), é difícil pensar em uma estrela lésbica que tenha capturado o público como Hayley Kiyoko. Ícones como Lesley Gore e Dusty Springfield revelaram sua sexualidade mais tarde, mas nunca cantaram sobre mulheres em seus discos ou beijaram mulheres em seus clipes.

Mesmo quando falamos de homossexualidade masculina, o sentimento é que a música pop passa por uma nova fase - agora, a mensagem não precisa ser sempre um clamor por aceitação. As músicas de Troye Sivan e do Years & Years não são "Freedom 90", de George Michael. Nelas (e nas de Kiyoko), temas e sentimentos particulares da vida LGBTQ+ podem ser discutidos e ilustrados com clareza, atrevimento e riqueza.

Em 2018, finalmente, o pop deu a chance que seus ícones gays precisavam para se mostrar em todas suas cores, e não só nas do arco-íris.