"A Amiga Genial": adaptação de livro da misteriosa Elena Ferrante é bem recebida
Nem toda adaptação de livros para a tela costuma ser bem-sucedida, mas os fãs da escritora Elena Ferrante podem ficar aliviados quanto à versão de sua obra mais famosa para o audiovisual. A julgar pelos dois primeiros episódios de “A Amiga Genial”, série para a TV inspirada no primeiro livro da chamada “tetralogia napolitana”, sucesso mundial, a adaptação veio caprichada, mantendo o espírito do romance. Os dois episódios iniciais foram exibidos em sessão especial, na noite de sábado, em Veneza, com boa recepção.
A série narra a história da amizade de Lenu e Lila, que se conheceram ainda na infância, em um subúrbio de Nápoles. Como o primeiro volume da tetralogia, a história começa quando Lenu é acordada no meio da noite com a ligação do filho de Lila, dizendo que ela desapareceu. Sem saber muito bem como reagir, Lenu resolve narrar a história de como conheceu essa amiga e o quanto ter convivido com ela marcou a sua própria trajetória.
A direção ficou a cargo do italiano Saverio Costanzo (de “Hungry Hearts”). A opção do cineasta pela fidelidade à história revela-se bastante feliz, ainda que marcada por certa falta de ousadia. Afinal, preserva o essencial da obra de Ferrante, o que já é algo a festejar.
Em parte, talvez isso se explique porque a própria escritora capitaneou a adaptação do roteiro. E hoje, o que já se esperava aconteceu: a reservada Elena Ferrante (pseudônimo de alguém cuja real identidade até hoje permanece um mistério) não apareceu para a conversa com os jornalistas. “Trabalhamos por um ano juntos, mas nem nós sabemos quem ela é”, disse Francesco Piccolo, um dos roteiristas que assinam o script da série. De acordo com ele, as conversas foram todas por email.
Segundo Piccolo, a escritora no começo parecia uma guardiã do material. “Não estava tanto de olho no próprio livro, mas sim em sua transposição para a TV. Aos poucos, porém, foi se soltando, e por fim já não trabalhava mais na defensiva, mas com uma bela ideia de transposição cinematográfica. E com grande confiança no [diretor] Saverio Costanzo”, diz o roteirista.
“Minha ligação com o livro é graças a Elena, que sugeriu meu nome aos produtores”, revela Costanzo. “Eu já tinha lido as obras, mas nunca passou pela minha cabeça que eu poderia leva-las à tela. Mas quando me chamaram, não hesitei. É o tipo de situação que você se lembra depois exatamente onde estava e o que fazia, quando acontece”, conta o diretor.
As atrizes infantis escaladas para os papeis principais são um verdadeiro achado. Elisa Del Genio tem toda a doçura e inteligência da Lenu do livro; é especialmente bem-sucedida quando lança olhares repletos admiração para a amiga, de forma provavelmente muito semelhante com a que Ferrante imaginou ao criar a personagem.
E quando vemos a menina que contracena com ela, é fácil entender de onde vem aquele brilho no olhar: a garota que interpreta Lila é simplesmente fantástica. Ludovica Nasti tem um tipo franzino como o da Lila do livro, mas também a mesma energia indomável; em seu papel, transmite uma atitude raivosa diante do mundo que materializa com perfeição as descrições da obra original. Sem essas duas atrizes, é provável que a série não tivesse a mesma a carga emotiva, mas felizmente elas estão lá.
Um jornalista quis saber como foi a preparação das atrizes-mirins. Tal como a destemida Lila, Ludovica tomou a dianteira e falou antes. “Não fomos preparadas. Chegamos ao set como éramos, então Saverio nos deu uma mão”, disse. “Ele sempre nos disse para sermos nós mesmas, queria agradecer ele por isso”, completou, sendo ovacionada pelos repórteres.
“É como Ludovica disse. Só fomos treinadas mesmo a falar o napolitano”, completou Elisa Del Genio, também muito aplaudida.
A busca pelas atrizes foi difícil; mais de 8 mil crianças foram testadas. “Ludovica surgiu de maneira muito casual. Eu nunca ouvi Elena falar pessoalmente sobre a personagem, mas a descrição no livro é tão precisa que, quando a vimos, soubemos que era ela. Quando descobrimos essas atrizes, vimos que tinham aquilo de que precisávamos. Ninguém aqui era a segunda opção”, diz o cineasta.
“É uma historia que consegue juntar um público diverso, dos mais sofisticados aos mais populares”, diz Eleonora Andreatta, executiva da RAI, uma das produtoras da série, junto com a HBO. “E aborda temas importantes, porque fala do feminino, da emancipação e a importância da educação para alguém se emancipar. E, também, ao narrar esse crescimento dessas duas meninas, revisita a historia de nosso país e a mostra ao mundo”, sintetiza.
“É a historia de alguém, uma professora primária, que pode mudar a vida de duas pessoas. O que nos faz perceber o valor da educação. E entendemos isso por meio de sentimentos, não apenas por meio de uma percepção intelectual”, diz Costanzo.
“A Amiga Genial” tem uma temporada garantida, mas pode ser que, futuramente, os outros livros da tetralogia, “História do Novo Sobrenome”, “História de Quem Foge e Quem Fica” e “História da Menina Perdida”, também deem origem a novas temporadas. A estreia mundial está prevista para novembro.
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