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Lady Gaga convence, mas Bradley Cooper é o destaque de "Nasce uma Estrela"

Bradley Cooper e Lady Gaga em cena de "Nasce Uma Estrela" - Divulgação
Bradley Cooper e Lady Gaga em cena de "Nasce Uma Estrela" Imagem: Divulgação

Bruno Ghetti

Colaboração para o UOL, em Veneza (Itália)

31/08/2018 14h00

Poucas vezes Veneza ficou tão agitada à espera de uma estrela. E quando ela apareceu, não decepcionou: Lady Gaga, platinada e sexy, no melhor estilo Marilyn Monroe, esbanjou glamour no tapete vermelho do Lido para apresentar sua estreia como protagonista de um filme, no longa "Nasce uma Estrela", exibido fora de competição. 

Dirigido e também estrelado por Bradley Cooper, o filme é a quarta versão do material que já rendeu outros três filmes de mesmo nome. As de 1937, com Janet Gaynor, e de 1954, com Judy Garland, continuam sendo as melhores, e a de 1976, com Barbra Streisand, parece insuperável como a pior delas. A versão apresentada nesta sexta-feira (31) em Veneza não acrescenta nada ao que as outras já diziam e não tem nada de muito especial. A não ser duas coisas: justamente Lady Gaga e Bradley Cooper.

Ela interpreta Ally, uma garçonete que sonha se tornar uma cantora de sucesso. Ele é Jack, um músico famoso, mas de vida vazia – encontra no álcool e em remédios o que o êxito nos palcos não lhe proporciona. Quando ele conhece Ally, apaixona-se por ela e por seu talento musical. Ajuda-a a se tornar uma estrela, ao mesmo tempo em que vê sua própria carreira ladeira abaixo, por conta do vício.

"Essa história já teve tantas encarnações que é aí que vemos o quanto ela ultrapassa o tempo", disse Gaga aos jornalistas. "É uma história sobre o amor, sobre um vício... Para mim foi uma experiência notável, quero que todo mundo assista", diz, destemida.

De fato, Gaga não tem do que ter medo: sua estreia no cinema se revela bastante boa. Claro, percebe-se que não é uma atriz experimentada, e aqui e ali ela não consegue acertar nas expressões faciais, mas no geral ela faz tudo certo, sem exageros para mais ou para menos. Nas cenas no palco, aí ela de fato cresce – mostra porque é uma estrela na vida real.

Há uma cena divertida no começo, em que ela canta "La Vie en Rose" em uma boate gay, caracterizada de Edith Piaf, mas o ponto alto é uma cena dramática, na primeira vez em que divide o palco com Jack, diante de um grande público. É o melhor trecho do filme.

Mas a grande atuação do longa não é dela: é de Bradley Cooper. Ele sabe que Gaga é um material e tanto a ser explorado, então não poupa cenas com a diva; nunca quer aparecer mais que ela. Mas reserva as grandes cenas dramáticas para si, e nos momentos mais intensos repete o que já havia acontecido com Fredric March, James Mason e Kris Kristoferson nas versões anteriores: rouba a cena.

Mas, quando juntos, a dupla mostra boa química. E o entrosamento parece seguir na vida real, com os elogios mútuos que não param. Bradley Cooper diz que, no set, muitas vezes sentia-se como se estivesse em um show, e não em pleno trabalho. "Durante as filmagens, muitas vezes nós [da equipe] ficávamos sentados e nos esquecíamos de que estávamos trabalhando. Ficávamos só vendo ela cantar. A temperatura do ambiente muda quando ela está presente", diz o ator.

Lady Gaga - Filippo MONTEFORTE / AFP - Filippo MONTEFORTE / AFP
Lady Gaga aparece deslumbrante no tapete vermelho
Imagem: Filippo MONTEFORTE / AFP

"Sempre gostei de me transformar, de virar personagens diferentes. Isso faz parte da minha arte, da minha música. O que foi interessante é que, para o filme, Bradley queria me ver sem nada. ‘Não quero maquiagem nesse rosto’. Aí, ele conseguiu extrair essa vulnerabilidade de mim", diz Gaga. 

O filme mostra Ally como uma moça sem autoconfiança, que acha que nunca chegará longe na carreira por conta da aparência. "Com esse nariz?", ela mesma pergunta. Mas Jack não só vê personalidade em seus traços como percebe que ela tem algo a dizer. Não é apenas uma bela voz; é uma artista com muito a expressar.

"O maior desafio para mim foi que Ally, no começo do filme, já tinha desistido de si. Eu, quando comecei minha carreira, saía arrastando meu piano por aí, tinha crença em mim mesma. Já Ally, não. E é a relação dela [com Jack] que a ajuda a mudar isso", diz Gaga.

Mas o romance de Ally e Jack só vai bem no começo; depois que ela se torna uma estrela, a relação é ameaçada. Ele a ama, mas ao mesmo tempo não suporta ver sua carreira declinar, e, a dela alçar voo. Bebe cada vez mais, faz besteiras – o auge do vexame ocorre durante a premiação de uma entrega do Grammy.

Jack sempre toma conta para que Ally não abra mão de sua personalidade em nome dos imperativos do mercado, mantendo o que tem de mais valoroso: sua essência. Gaga precisou resistir muito ao longo da carreira para manter a dela. 

"Não era a mais bonita. Muitos executivos queriam dar minhas músicas a outras cantoras, mas eu segurava com força e dizia: ‘Não vão tirar minha música de mim’", relembra a cantora. "Sempre queria que as coisas fossem feito do meu jeito, nunca pretendi ser sexy ou bonita como as outras. O que quis foi sempre mostrar a minha visão das coisas. Como a minha personagem".

Mas não é só Gaga que se abre a uma nova área de atividade no filme; Cooper também se arrisca como cantor. Solta a própria voz – segundo ele, graças ao estímulo de Gaga. "Desde o início não me senti nervoso, porque ela sempre me deixou tranquilo. Senti que estava sendo protegido o tempo todo", diz Cooper. 

"Ele é um grande cantor!", comenta a diva. "O que eu mais amei de trabalhar com ele é que foi uma troca: ele me aceitou como atriz, eu a ele, como um músico", diz.