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Quais são as apostas do Facebook para concorrer com a Netflix nas séries

Cena de "Sacred Lies", do Facebook Watch - Divulgação
Cena de "Sacred Lies", do Facebook Watch Imagem: Divulgação

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

29/08/2018 04h00

Uma jovem é encontrada pela polícia nos arredores de um grande incêndio florestal que destruiu o acampamento de um culto religioso, após atacar um rapaz sem-teto que se aproximou dela. Ela se chama Minnow Bly e teve as duas mãos decepadas.

Se a premissa de "Sacred Lies" parece saída de uma produção sombria da HBO ou da Netflix, não se engane: ela é na verdade um dos lançamentos de maior destaque do Facebook Watch, aposta da rede social na produção de séries originais.

Lançado em agosto de 2017 nos EUA e disponível no Brasil a partir desta quarta-feira (29), o Watch permite que qualquer usuário do Facebook tenha acesso aos episódios de graça, acessando as páginas das séries (algumas com legendas em português).

Um dos diferenciais que o Watch oferece é a possibilidade de interação entre criadores de conteúdo e espectadores, através de comunidades no próprio Facebook. Para Raelle Tucker, criadora de "Sacred Lies", a plataforma sempre teve grande potencial.

"Eu nunca vi uma comunidade como essa online. A profundidade das discussões que estão acontecendo, e a forma respeitosa com que dezenas de milhares de fãs estão interagindo, quase restaurou minha fé na humanidade. Da perspectiva de um criador, [...] é um sonho se realizando", diz a showrunner em entrevista para o UOL.

Olsen - Divulgação - Divulgação
Elizabeth Olsen em imagem de "Sorry For Your Loss"
Imagem: Divulgação

Com um currículo que inclui "Supernatural", "True Blood" (pela qual foi indicada ao Emmy) e "Jessica Jones", Tucker tem uma experiência de vida única que faz dela "a pessoa certa" para contar a história de Minnow e de "Sacred Lies", que é baseada em um livro de Stephanie Oakes.

"Eu passei um tempo em um culto quando era criança", revela. "No caso, o culto Rajneesh, visto na série ?Wild Wild Country?, da Netflix. Embora minha experiência lá tenha sido largamente positiva, eu consigo me conectar com a jornada de Minnow, no sentido de que ela cresceu nas margens da sociedade. Eu consigo entender o que faz pessoas inteligentes e ?normais? tentarem construir um mundo utópico".

Tucker comprou os direitos do livro de Oakes com dinheiro do próprio bolso e escreveu o piloto da série em seu tempo livre. "Foi uma aposta enorme para mim, mas essa se tornou a melhor experiência criativa da minha carreira", conta.

Mesmo com seu verniz adolescente, "Sacred Lies" lida com uma série de questões sociais "do momento": de cultos religiosos ao sistema prisional (Minnow vai parar em um centro de detenção juvenil após ser encontrada pela polícia), passando pelo racismo e, é claro, a deficiência física de sua protagonista.

Ao invés de fugir desse conteúdo polêmico em seu primeiro ano de atividade, o Facebook Watch o abraçou - segundo Tucker, nenhuma outra emissora queria produzir uma série sobre uma garota sem mãos, porque seria "algo difícil demais para o público ver todas as semanas".

"Eu acho que esses temas foram exatamente o que atraiu o Facebook Watch para a nossa série", contrapõe a criadora. "Nessa era de ?peak-TV?, você tem que ser ousado para se destacar, tem que ter algo a dizer. O Facebook estava procurando fazer isso, estava procurando algo único. Nossa série foi desenhada para encorajar o público a questionar o que eles acreditam, para inspirar discussões. O Facebook Watch é a plataforma perfeita para isso".

O que ver no Facebook Watch?

Os maiores sucessos do Watch até agora se encontram no filão do reality show, apoiados no nome de celebridades como Jada Pinkett Smith e Willow Smith ("Red Table Talk", que frequentemente bate 20 milhões de visualizações por episódio) e LaVar Ball ("Ball in the Family", acompanhado por uma média de 5 milhões de usuários).

Em comparação, apostas ficcionais como "Sacred Lies" marcam números mais modestos - o último episódio da série foi visto por pouco mais de 500 mil usuários. "Strangers", comédia sobre uma jovem alugando um quarto em sua casa para vários inquilinos, já está em sua segunda temporada, e dificilmente bate a marca de 300 mil visualizações por capítulo.

Uma pesquisa recente da "Variety" indicou que 50% dos usuários norte-americanos do Facebook nem mesmo sabem da existência do Watch. No entanto, a base de usuários da rede social é tão grande que, mesmo cortada pela metade, ainda rende um público significativo para as séries da plataforma, que no final das contas já conquistou cerca de 50 milhões de usuários só no eixo EUA/Canadá - como medida de comparação, a Netflix tem 57 milhões de assinantes norte-americanos.

"Eu entendo que a indústria está saturada de conteúdo neste momento", comenta Tucker. "Talvez todo mundo fique um pouco desconfiado quando mais uma plataforma começa a lançar novas séries. Mas eu espero que as pessoas tomem um tempo para encontrar ?Sacred Lies? e deem a ela uma chance. No fim das contas, acredito em uma espécie de meritocracia - algo feito com tanto amor e boas intenções vai encontrar seu público".

Para dar um "empurrãozinho" nesse processo, o Facebook Watch planeja estrear, em 18 de setembro, a comédia de humor negro "Sorry For Your Loss". Criada por Kit Steinkeller ("Z: The Beginning of Everything"), a série traz Elizabeth Olsen, a Feiticeira Escarlate de "Vingadores", para o time da rede social.

Na trama, Olsen interpreta Leigh Gibbs, que acaba de perder o marido. O processo de luto a leva a se reconectar com pessoas do seu passado e descobrir que o homem com quem era casada escondia muitos segredos.

No ano que vem, será a vez de "Queen America", com Catherine Zeta-Jones no papel de Vicki Ellis, uma ex-rainha da beleza que ajuda jovens a se prepararem para o prestigiado concurso de Miss America. Trata-se de uma criação de Meaghan Oppenheimer, autora do filme "Música, Amigos e Festa", estrelado por Zac Efron.

Quanto a "Sacred Lies", Tucker não quer entregar o jogo sobre uma possível renovação. "No momento, estamos focados em lançar a primeira temporada e divulgar a série. Eu ainda estou finalizando a pós-produção do último episódio, é muito cedo para discutir qualquer plano para uma segunda temporada", diz.

A série lança novos capítulos na sua página oficial todas as sextas-feiras, às 22h do horário de Brasília.