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"Slender Man" conta com atriz filha de brasileira que tem medo de filme de terror

Julia Goldani Telles, atriz norte-americana que tem mãe brasileira e morou no Rio - Reprodução/Youtube
Julia Goldani Telles, atriz norte-americana que tem mãe brasileira e morou no Rio Imagem: Reprodução/Youtube

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

23/08/2018 04h00

Há um leve tempero brasileiro no terror teen “Slender Man: Pesadelo sem Rosto”, que chega às salas de cinema do país nesta quinta-feira (23). Uma das protagonistas do filme tem sotaque gaúcho, foi criada no Rio e gosta de novelas: é Julia Goldani Telles, de 23 anos, que interpreta Hallie, o seu maior papel na carreira.

Julia é filha de uma brasileira com um mexicano e, apesar de ter nascido nos Estados Unidos, morou entre seus 2 e 6 anos no Rio. “A gente morava em Copacabana, e eu me lembro de brincar na calçada de lá; só podia pisar nos espaços em branco”, ri a atriz ao falar em português claro, mas com um sotaque único que mistura inglês e “gauchês”.

Foi ainda no Brasil que começou sua vida nas artes, mas como bailarina. Enquanto também aproveitava o sol – com muito protetor, já que tem a pele muito clara, destaca ela -, os passeios de barco com uma amiga e festas de Réveillon, a tímida garota começou a dançar e o balé virou algo sério, do tipo de atividade extracurricular que parecia se encaminhar para uma carreira.

Julia - Reprodução/IMDB - Reprodução/IMDB
Julia em Bunheads, bem próxima de sua vida adolescente - dançando balé
Imagem: Reprodução/IMDB

Isso seguiu quando ela voltou aos Estados Unidos, para morar em Los Angeles. “Eu gostava muito de fazer, mas com 16 para 17 anos fiquei lesionada e tive que parar por um longo tempo para me recuperar. Enquanto isso, comecei a fazer aula de teatro, que sempre gostei. Eu achava que ia seguir como bailarina, que era o que eu deveria fazer da vida, mas essa lesão acabou funcionando a meu favor.”

Durante a recuperação, ela foi fazer um teste para uma série. Julia foi aprovada de primeira -- para sua própria surpresa. Curiosamente, ela passou para fazer um papel em que precisava dançar balé, em “Bunheads”. Depois disso, esteve com mais destaque em “The Affair” e algumas outras participações mais pontuais "Blue Bloods" e "Nurse Jackie", entre outros.

A vaga em 'Slender Man'

Para “Slender Man”, Julia soube do roteiro e foi atrás, mesmo com um porém. “Eu não assisto filme de terror, tenho muito medo, não aguento”, admite ela. O longa conta a história de quatro amigas que veem o vídeo que invoca o Slender Man, uma criatura sem rosto e de longos braços, que surgiu na internet no fim da década de 2000, como um “bicho papão” ou um “homem do saco” das eras digitais.

Julia - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Julia já tem 23 anos, mas em "Slender Man" figura como adolescente em um grupo de quatro amigas
Imagem: Reprodução/Instagram

A atriz foi atrás dos produtores e chegou a fazer teste para quatro personagens. Joey King (“A Barraca do Beijo”) tinha a preferência na escolha. “Eu falei: ‘Qualquer papel que ela não quiser, podem me dar’”. Julia se deu bem e acabou como protagonista da trama. “Ter um filme como esse, que chega aos cinemas, é super importante para minha carreira e fico feliz que vai chegar ao Brasil e meus familiares vão poder ir até uma sala para vê-lo”.

“Slender Man” tem tido resultado misto nas críticas, com algumas menções pouco afáveis da imprensa norte-americana. Mas, em comum, as resenhas têm destacado elogios ao trabalho das atrizes, inclusive a “meio-brasileira”, que já tem mais quatro trabalhos para serem lançados em um futuro próximo, entre cinema e televisão.

Medo na gravação?

Apesar de ter medo de filmes de terror, Julia admite que as gravações costumam ser mais leves e dá para dar muita risada com as colegas e a equipe.

“O difícil é que fisicamente foi puxado. Tem cenas em que estou na floresta e que fui amarrada e puxada pra lá e pra cá, às 2h da manhã. Filmamos muito à noite, no meio do nada. Foi puxado, mas divertido, durou uns dois meses”.

A atriz conhecia pouco da lenda da internet, mas disse que entender sua história a fez notar porque ele faz tanto sucesso. “O Slender Man tem uma razão para assustar, como o fato de não ter um rosto e você poder projetar nele o que quiser. Na gravação foram poucas vezes em que deu medo, tinha horas, de noite, que tinha muita neblina na floresta, e eu ficava sozinha no meio das árvores, isso deu um pouco de medo”, admite ela.

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As atrizes Joey King e a filha de brasileira Julia Goldani Telles em Slender Man
Imagem: Divulgação

Novelas e “Porta dos Fundos”

Julia Goldani Telles diz que tem uma característica bem brasileira. Nos Estados Unidos, se você marca de encontrar uma pessoa às 16h, será criticado se não for pontual. Ela é um pouco mais solta, do tipo que fala: “Vamos nos ver umas 16h” e não ligar para uma variação maior do horário.

“Eu gosto muito das pessoas no Brasil, elas são mais abertas e espontâneas, são mais simpáticas. Eu sou superbrasileira em alguns sentidos, gosto dessa espontaneidade, gosto do Carnaval, me identifico com o ritmo mais fácil que tem por aí. Eu ter crescido aí realmente teve um impacto grande”, conta ela.

Julia segue visitando o país anualmente, para visitar familiares no Rio Grande do Sul ou para fazer algumas outras viagens pelo país - e vez ou outra posta imagens de seu passado (veja abaixo).

A atriz ainda conta que gosta de novelas e que sempre assiste ao “Porta dos Fundos” no Youtube. E que gostaria de trabalhar no Brasil.

“Eu tive contato com o [diretor] José Padilha e falei pra ele: ‘Qualquer coisa que você fizer no Brasil, me manda o roteiro, quero fazer teste!’. O Brasil tem muitos trabalhos bons, seja em filmes ou novelas, e eu adoraria trabalhar aí”, concluiu Julia, que hoje mora metade do tempo em Los Angeles, metade em Nova York, e prepara uma volta para a Columbia University, para se formar em alguma área ligada a cinema.