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Ricky Martin: "Quando me assumi, minha carreira melhorou"

Ricky Martin em cena da série "The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story"  - Jeff Daly/AP
Ricky Martin em cena da série "The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story" Imagem: Jeff Daly/AP

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

21/08/2018 10h55

Ricky Martin conversou com o "The Hollywood Reporter" sobre alguns dos momentos cruciais de sua longa carreira no mundo do entretenimento, do sucesso meteórico com "Livin' La Vida Loca" ao momento, em 2010, quando finalmente assumiu sua homossexualidade para o mundo.

Sobre o grande hit de sua carreira musical, Martin relembra que "Livin' La Vida Loca" quase ficou de fora de seu primeiro e autointitulado álbum em inglês. Foi uma visita de Madonna ao estúdio que mudou isso. A rainha do pop compareceu às gravações do disco para registrar sua participação especial em outra faixa, "Be Careful".

"Três dias antes de Madonna chegar para sua sessão, tínhamos finalizado 'Livin' La Vida Loca', então eu mostrei a ela a faixa", comenta Martin. "Ela realmente amou. Depois de ouvir a música, ela disse: 'Eu definitivamente estou mais animada para trabalhar com você!'. É um momento lindo, que sempre relembro".

O sucesso sem precedentes para o jovem porto-riquenho ("Ricky Martin", o álbum, vendeu mais de 15 milhões de cópias mundialmente) levou rapidamente a questionamentos sobre sua sexualidade, incluindo uma infame entrevista em que a jornalista Barbara Walters perguntou diretamente a ele se era gay.

"Eu estava vivendo com medo", relembra Martin. "Eu nem posso te dizer quantas vezes pensei comigo: 'Por que não respondi a Barbara Walters que era gay e fim?'. Hoje em dia, penso que não era o meu momento. Eu estava vivendo com muita homofobia internalizada. Eu nem sabia o que era isso na época, é claro. [...] Eu não tinha problemas em 'me aceitar', porque vivia abertamente na minha vida privada, mas sim em ter isso publicamente revelado sobre mim".

Pessoas próximas ao cantor, incluindo amigos e empresários, também o aconselhavam contra se assumir. "Eles diziam que a minha carreira ia acabar, que o mundo não estava preparado para um ícone pop assumidamente homossexual", relata Martin. "Nessa época, eu só amava estar no palco - escrever músicas era difícil, porque não podia falar da minha vida pessoal. Fazer entrevistas, então, nem se fala".

Pausa e retorno

Foi após lançar o seu segundo álbum de estúdio em inglês, "Sound Loaded" (2000), que Martin resolveu levar a sério sua necessidade de dar uma "pausa" na carreira. "Eu me sentia muito confuso. Então, sempre que podia, ia para a Índia. Comecei a meditar muito", comenta. "Passei meses nas montanhas do Himalaia, comecei a fazer ioga, cavei fundo dentro de mim para entender meus problemas. [...] Foram três anos de uma intensa busca espiritual".

Em 2003, ele retornaria ao espanhol com o disco "Almas del Silencio". "Eu gosto de misturar as coisas. Eu cresci em Porto Rico, sou hispânico e sou latino, mas a influência inglesa na minha música é muito clara, e eu adoro ela. Eu não sou purista de nenhuma forma", define o cantor.

Em 2008, ele se tornou pai de gêmeos, através de uma barriga de aluguel, o que ele chama de "o maior projeto de sua vida". Em 2010, aos 38 anos, finalmente se sentiu confortável o bastante para se assumir, em um post no seu blog pessoal. "Eu estava chorando enquanto escrevia. Foi tão catártico e libertador, nunca me senti melhor na minha vida. Eu estava preparado para qualquer resultado que isso pudesse ter", relembra.

"A verdade é que minha carreira melhorou quando eu me assumi", diz ainda, surpreso. "Por um momento pensei que aquilo era o fim de tudo, mas o que aconteceu foi que, dentro de dois dias, ganhei em torno de um milhão de seguidores [no Twitter]. Tenho certeza que muita gente me abandonou quando postei aquilo, mas ao mesmo tempo muita gente voltou ou começou a me acompanhar".

Agora, Martin se vê indicado ao Emmy pela primeira vez, pela performance em "The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story", minissérie do amigo Ryan Murphy em que o popstar interpreta Antonio D'Amico, companheiro de longa data do estilista Versace (Edgar Ramirez) na época de seu assassinato.

Nas filmagens, Martin finalmente pôde visitar a famosa mansão de Versace na Flórida - embora tenha sido convidado para muitas festas lá na época em que o estilista era vivo, o cantor nunca conseguiu comparecer a uma. Ao mesmo tempo, a história de uma celebridade que se manteve "no armário" por anos, apenas para depois se assumir publicamente na imprensa, era familiar para o cantor.

"A cena em que Gianni resolve se assumir em uma entrevista, e pega na mão de Antonio, o apresentando para o repórter como seu companheiro, foi muito emocionante", assegura Martin. "Eu me lembro como eu escondia meus relacionamentos na minha própria vida. Foi um momento especial gravar aquela cena".