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Japonês da Federal diz que foi espião na ditadura e fala sobre biografia

Newton Ishii, o Japonês da Federal, Pedro Bial e o biógrafo de Ishii, Luís Humberto Carrijo  - Divulgação/TV Globo
Newton Ishii, o Japonês da Federal, Pedro Bial e o biógrafo de Ishii, Luís Humberto Carrijo Imagem: Divulgação/TV Globo

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

16/08/2018 07h55

Newton Ishii é o chefe do grupo de operações da Polícia Federal que é responsável por efetuar as prisões da Operação Lava-Jato, mas acabou ficando conhecido pelo apelido Japonês da Federal e por sua presença e imagens ao lado dos presos. Nesta quarta-feira, ele foi convidado do programa "Conversa com Bial" e falou sobre a biografia que foi lançada há cerca de um mês, além de revelar detalhes de sua carreira na PF, como o trabalho como espião na ditadura militar.

Ishii citou durante o programa diversos personagens como Eduardo Cunha, José Dirceu e Antonio Pallocci, além de bastidores da Lava-Jato, mas um dos principais momentos foi a revelação do que fazia na época da ditadura.

"Quando tinha o Diretório Central Estudantil, trabalhei infiltrado entre os estudantes para obter informações de quem estava participando e do que se tratavam as reuniões", afirmou ele. Sobre a ditadura, ele pontuou: "Tudo tem sua época. A democracia é essencial. Sou contra essa parte de direita e esquerda. Devemos ser governados por homens capazes e honestos".

O biógrafo de Ishii, Luís Humberto Carrijo, falou sobre suas descobertas enquanto escrevia o livro "O Carcereiro, uma biografia autorizada do 'Japonês da Federal'" e descreveu alguns dos casos que lhe foram contados, como o medo da morte que Eduardo Cunha nutria na prisão. 

"O Eduardo Cunha já chegou a chorar. Esse medo deles e dos familiares sofrerem um atentado é muito grande", afirmou Carrijo. "Os presos da Lava-Jato são arquivos vivos. Se eles revelam o que sabem, cai a República. [A prisão] É um mundo muito novo para eles, que saem da situação onde dão as cartas, vão para um ambiente em que têm que obedecer, não têm controle e não sabem como funciona... Passa muita coisa na cabeça deles."

Entre relatos mais específicos, Ishii contou que pode ter salvo a vida de Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobras. "Ouvi falar que ele estava pensando em suicídio e fui conversar com ele. A saúde do preso é responsabilidade nossa". Citou ainda que José Dirceu era o detento mais disciplinado e que Antonio Pallocci, médico, ajudava presos que estivessem com problemas de saúde.

Trabalhando de tornozeleira

Ishii ainda falou sobre a acusação de facilitar contrabando na fronteira entre Brasil e Paraguai. Ele foi condenado, mas se diz injustiçado. O agente não foi afastado da Lava-Jato por conta do caso.

"Trabalhei de tornozeleira", relembrou ele. "Fizeram essa operação e induziram a Justiça ao erro. Foi tudo uma questão de ego."

Outro aspecto pessoal que levou ao programa foi seu drama familiar. Newton perdeu o filho mais velho, por suicídio. Há quatro anos, sua mulher morreu, após um infarto. "Na véspera da morte dela, ela levantou da cama, a peguei chorando na área de serviço. Ela disse que queria ver o Dudu mais uma vez”, contou o agente.