Topo

Jim Carrey: "Nunca quis fazer parte de Hollywood, queria destruí-la"

Jim Carrey em cena do documentário "Jim & Andy: The Great Beyond" - Reprodução
Jim Carrey em cena do documentário "Jim & Andy: The Great Beyond" Imagem: Reprodução

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

15/08/2018 11h46

Jim Carrey se abriu sobre sua infância difícil, sua carreira em Hollywood e seu afastamento dos blocksbusters em entrevista ao "The Hollywood Reporter", publicada nesta quarta-feira (15).

Refletindo sobre sua época de maior sucesso, após o lançamento de "Ace Ventura: Um Detetive Diferente", de 1994, Carrey insiste que nunca quis fazer parte do panteão de astros e galãs de Hollywood. "Meu plano nunca foi me juntar a Hollywood, e sim destruí-la", comenta. "Eu queria demolir a noção do protagonista masculino e toda a sua seriedade".

Carrey reconhece na entrevista, no entanto, que seu estrelato nos anos 1990 e 2000 prejudicou até aqueles mais próximos dele, como a filha Jane, hoje em 30 anos de idade. "Ela escreveu em seu diário, acho que na primeira série: 'Eu sei que as crianças mais velhas querem sair comigo por causa do meu pai'", relembra Carrey. "Quando eu ia buscá-la na escola, o pátio todo se reunia em torno de mim, porque eu era o personagem favorito de todo mundo. Pensando sobre isso hoje em dia, deve ter sido terrivelmente difícil para ela".

O ator permanece próximo a Jane e ao neto, Jackson, de 8 anos. Com exceção da continuação "Débi & Lóide 2", lançada em 2014, Carrey não estrela um grande filme de Hollywood desde "Os Pinguins do Papai" (2011), que chegou após um período de gradual desaceleração em sua carreira. "Não houve um ponto de quebra, um momento em que eu disse 'chega'. Eu só comecei a trabalhar menos e menos, até não trabalhar mais", explica.

"Eu não queria mais fazer parte desse negócio. Eu não gostava do que estava acontecendo [com Hollywood], as corporações estavam assumindo o controle. Eu me sentia mais atraído por outra forma de expressar minha criatividade, a pintura ou a escultura - não queria ter um comitê de executivos me dizendo que eu tinha que apelar para tal e tal público", diz ainda. Carrey tem feito sucesso no Twitter com caricaturas do presidente Donald Trump e seus associados na Casa Branca.

Infância e retorno

Em outra parte da entrevista, Carrey reflete sobre sua infância, onde desenvolveu as habilidades na comédia com a ajuda dos pais e dos irmãos. A mãe, que lutou a vida toda contra a depressão e era viciada em analgésicos, tratava as piadas e imitações do filho como "algo especial". "Minha mãe nunca nos abandonou, ela sempre esteve por perto. Mas, quando você está cheia de remédios para a dor, não é uma presença de verdade. É abandono involuntário", comenta o ator, sublinhando que não quer a solidariedade de ninguém. "Eu acho que é normal, todos nós fomos abandonados de alguma forma e isso nos molda".

Com o pai, Percy, Carrey tinha uma relação bem diferente. "Eu só queria ser ele. Ele podia entrar em qualquer sala, em qualquer festa, e dominar o ambiente. Ele era um ser humano incrível", relembra. "Quando ele perdeu o emprego, eu deveria ter uns 12 anos, fiquei com muita raiva. Eu não parei para considerar que ele talvez odiasse o trabalho dele, e por isso fosse um mau funcionário. Para mim, a culpa era de todo mundo, menos dele".

Após deixar a escola antes do ensino médio, Carrey começaria a visitar clubes de comédia canadenses com o pai, onde encontraria sua vocação. Ele ganhou destaque entre os jovens que se apresentavam no circuito por suas experiências malucas no palco: "A maioria dos comediantes encontra algo que faz bem e aperfeiçoa isso para sempre. Jim não, ele tentava algo diferente todas as noites. Às vezes ele ia muito bem, às vezes muito mal", define Judd Apatow, que trabalhou com Carrey em "O Pentelho".

Por fim, Carrey fala ao "The Hollywood Reporter" sobre o seu retorno aos holofotes com "Kidding", série da emissora norte-americana Showtime que estreia no dia 31 de agosto. Na produção, ele interpreta um apresentador de programas infantis que vê sua vida desmoronar no âmbito pessoal, mas tem que manter a imagem amigável na frente das câmeras.

"Como ator, você sempre está esperando por aquela oportunidade em que sua vivência real pode se aplicar ao personagem. Foi isso que aconteceu aqui", comenta Carrey. "Eu passei por muitas perdas e muitos problemas, mas ainda cheguei do outro lado de tudo isso e posso olhar nos olhos de qualquer pessoa para tentar me entender com ela. Eu entendo como um rio de pesar e tristeza pode te afogar em certo ponto de sua vida".

28 Comentários

Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.

Luciano Pita

Quantos bilhões de dólares ele faturou pros estúdios? O que ele recebeu é uma pequena fatia de tudo o que ele fez e ganhou. Se ele está insatisfeito com os estúdios, é um direito dele. Algusn trabalhadores ainda tem direitos, sabiam?

Ronan Mendes

Se todo mundo tivesse que devolver tudo o que ganhou só porque mudou de vida, o mundo estaria em pobreza extrema. Para, gente, de misturar as coisas "falar é fácil com o bolso cheio", uai, na proporção da maioria de nós, então se por toda a minha vida eu tivesse minha aposentadoria integral, mudei de trabalhador para aposentado, mudei de vida e agora vou pegar toda a minha aposentadoria e devolver pra quem? Se é uma recompensa por anos de trabalho. A diferença é que ele trabalhou num meio que gira muito dinheiro. A gente não tem coragem de abrir mão de pouco dinheiro, pra que meter a língua pra falar do que tem muito? Basta que a consciência do rico seja pra que ele faça do seu dinheiro uma obra para ajudar os outros e não guarde pra si só. E nós? A mesma coisa, não fiquemos pensando que só os ricos tem que abrir mão da suas regalias. Quem tem pouco as vezes é até pior.

publicidade