Gilberto Gil explica homenagem a Andréia Sadi e Maria Ribeiro em novo disco
Gilberto Gil lança, nesta sexta-feira (10), o seu novo álbum, "OK, OK, OK". Nele, seu médico Roberto Kalil, a atriz Maria Ribeiro e a jornalista Andréia Sadi são alguns dos homenageados.
A canção "Lia e Deia" foi um pedido delas. "Estávamos em um jantar na casa de Jorge Bastos Moreno [jornalista morto em junho do ano passado] que sempre reunia muita gente do mundo dele, suas musas, as meninas que ele adorava na TV. Passei a fazer parte do círculo. Mostrei a música que fiz com ele para a Roberta Sá e elas estavam e adoraram. Maria disse que queria uma também. A Sadi olhou e disse 'também queria' então Maria contemporizou: 'Uma música para as duas'", contou Gil.
"Quando estava hospitalizado me mataram duas vezes. 'Gil morreu', 'ainda bem que já foi'", contou Gil aos risos, que apontou que o ódio a ele vai além de ele ter sido ministro da Cultura do governo Lula - de 2003 a 2008. "Tem a ver com tudo, tem a ver com o fato de eu ser negro. É bom que se diga isso", frisou o músico.
Os ataques e menções a sua morte via redes sociais não abalaram Gil na época. Ele afirma que encara a morte como parte da vida e nem nos momentos em que esteve doente isso o abalou.
"Sempre pensei [na morte] antes desses episódios que desafiaram minha saúde e vitalidade. Walter Smetak [músico e filósofo suíço] um grande homem que migrou para o Brasil e se instalou na Bahia era pesquisador das religiões exotéricas e me tornei apreciador desse modo de especular sobre a existência. Um dia ele me disse "Gil, pense na morte todo dia". Passei a pensar todo dia desde então. A morte faz parte da vida, se vale a pena viver então morrer vale a pena. É um trecho de uma das minhas músicas", contou Gil.
O título do álbum e da música que o abre, explicou o artista, é sobre a constante solicitação de posicionamentos a que ele é submetido desde quando começou a se destacar na carreira, nos anos 1960.
"Essa questão de sermos solicitados a opinar, dar pitaco, dizer coisas com as quais a gente se alinha ou não se alinha é uma coisa que já vêm de muito tempo por força da geração. Pertenço a uma geração que foi obrigada a fazer isso. Vem desde o tempo da ditadura. Muito por ímpeto, mas muito por responsabilidade social, pelo fato de nos tornarmos figuras públicas, ídolos, gente querida", explicou Gil, que usou como exemplo a recente apresentação dele no Rio, no dia 28 de julho, com Chico Buarque, no Festival Lula Livre.
"A música 'Cálice' que cantei com o Chico agora na manifestação a qual aderimos em favor da libertação do Lula foi a que tínhamos feito lá atrás [1973] falando da questão da censura na ditadura. É uma demanda que vem historicamente se dando ao longo desses anos todos para a minha geração. Gente como eu, Chico, Caetano e tantos outros", disse.
Apesar de ter se apresentado no festival, Gil afirmou que não votaria no ex-presidente. "Fui por questões de princípios em relação à defesa dos direitos democráticos, de pluralidade, de manifestação, de uso da palavra. Se o Lula fosse candidato eu talvez nem votasse nele. Já votei na Marina [Silva] duas vezes. Não estava ali defendendo a ideia da candidatura dele, mas me colocando em relação às dificuldades que temos em compreender os aspectos de lisura de seu processo e condenação", explicou.
Entrevistador
No primeiro episódio de sua série de entrevistas, Gil conversa com Caetano, amigo e parceiro de mais de 50 anos, sobre essa solicitação constante para os artistas darem opinião e também sobre envelhecimento. A série faz parte das comemorações dos 20 anos do Canal Brasil e estreia dia 21 de agosto às 21h30.
"Eu disse que ia usar uma das frases famosas de Dona Canô [mãe de Caetano]: 'Quem não morre envelhece'. Uma frase muito simples, natural e sábia, que denota essa necessidade que temos que é estabelecer um diálogo profundo entre a finitude e a plenitude do viver, que em geral está muito associada à juventude, momentos que não se pensa na morte. É um tema interessante a nossa conversa sobre como é que se vive antes de morrer", explicou Gil, que também conversa no programa com Fernanda Torres, Drauzio Varella, Maria Ribeiro, Renata Loprete, o médico Roberto Kalil Filho, o chef Alex Atala, Juca Kfouri, o cineasta Fernando Grostein, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Lázaro Ramos.
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