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Como Murilo Benício foi parar num filme de terror - com direito a atuação arrepiante

Murilo Benício e Luciana Paes em "O Animal Cordial" - Divulgação
Murilo Benício e Luciana Paes em "O Animal Cordial" Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

09/08/2018 06h00

Um ator do calibre de Murilo Benício, com décadas de TV, poderia se dar ao luxo de falar que já fez de tudo. Não é bem assim. Nesta quinta-feira estreia o filme “O Animal Cordial”, que permitiu ao ator e diretor revisitar uma paixão que brotou lá na infância e estrear em um novo gênero: o terror. O longa traz Murilo no papel de Inácio, um dono de restaurante que toma uma atitude sanguinária quando o estabelecimento é alvo de um assalto.

“O Animal Cordial” é um filme slasher – gênero dentro do terror que é conhecido por suas altas doses de sangue e assassinos psicopatas –, mas com uma grande profundidade em seu roteiro. Algo bem diferente do filme que introduziu Murilo a esse tipo de histórias: “Tubarão”.

“Engraçado, eu lembro que na minha infância a gente tinha um vizinho que era muito rico e ele era o primeiro que teve videocassete. Ele tinha duas fitas, uma era “Mulher Nota Mil”, que a gente era proibido de ver, e a outra era “Tubarão”. Eu não entrava mais em piscina! O pânico era tão grande que eu não entrava mais em piscina”, relembra Murilo, ao UOL.

Um detalhe é que “O Animal Cordial” ganhou uma rara classificação 18 anos na classificação indicativa, o que pode ser um chamariz, mas que também limita o público que pode assistir. Nos tempos de Murilo criança, não havia isso, e filmes de terror passavam em horários acessíveis.

“Eu tinha uns 9 anos, mas ver esse tipo de filme não deixou de ser uma curtição, não me gerou um trauma. Eu via filmes com meus irmãos - sou caçula - quando meus pais saíam para jantar fora. Apagava-se todas as luzes pra ver filme de terror, como “Lobisomem”. Eu ia quicando pra chegar no meu quarto, achando que alguma coisa ia me pegar. Acho que a infância foi o começo do meu contato e acho que foi muito saudável”, diverte-se ele.

Chance rara

Murilo explica que foi uma decisão tranquila entrar no filme, após conversar com a diretora Gabriela Amaral Almeida e o produtor Rodrigo Teixeira.

“Eu entendi quem era a Gabriela, assisti aos curtas dela e achei que era importante ter a oportunidade de fazer esse filme. Até porque metade [dos atores] não faria. Exige uma coragem para fazer um filme assim”, disse ele.

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Imagem: Divulgação

Rodrigo Teixeira adicionou: “O pessoal vê no terror oportunidade de fazer um papel que normalmente não vai fazer no horário nobre da Rede Globo. É a oportunidades de fazer papéis que eles não havia antes. E, para o ator, isso é muito instigante.”

A gravação foi curta, durou um mês, e foi toda feita em uma só locação. A trama se passa em um restaurante que é alvo de um assalto armado. Quando o personagem de Murilo, Inácio, consegue render os assaltantes e tomar conta da situação, sua reação com os empregados, os clientes e os assaltantes acaba em muito sangue, em um contexto de discussão de temas fortes e atuais como homofobia, racismo, desigualdade social e empoderamento da mulher. 

Além de curta, a produção teve uma particularidade rara. Foi filmada em ordem cronológica, algo que rendeu elogios dos atores, que sentiram melhor a evolução de seus personagens. “Eu pude experimentar a transformação de uma pessoa, de me transformar. Tinha mesmo essa coisa do animal cordial. Eu fiquei imaginando ele [Inácio] virando um animal por dentro. O que ajudou foi a ordem, senão não conseguiria atingir em tão pouco tempo o progresso dos personagens. Foi um dos maiores ganhos do filme”, explicou ele, que não teve vida fácil.

“Mais do que um esforço físico, lembro sempre que tinha que me preocupar na necessidade forte de permanecer no estado psicológico do personagem”, afirmou ele sobre o desafio, que gerou uma das atuações mais marcantes de Murilo Benício nas telas.

O Animal Cordial estreia nesta quinta nos cinemas, com elenco que ainda conta com Luciana Paes, Irandhir Santos, Camila Morgado e Humberto Carrão, entre outros.