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Quem é o culpado da morte dos pacotes de TV a cabo nos EUA?

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Imagem: Shutterstock

Gerry Smith

Da Bloomberg

08/08/2018 15h55

A cada minuto, seis pessoas rescindem a assinatura de TV a cabo nos EUA. O motivo pelo qual os consumidores americanos estão abandonando as assinaturas de TV a cabo não é mistério: elas são caras e há alternativas online mais baratas em toda parte. Mas quem é exatamente o responsável pelo lento desaparecimento do modo que os americanos pagavam para ver televisão? 

Essa pergunta é bem mais complicada. A resposta pode ser encontrada em algumas decisões tomadas nos últimos anos que prepararam o palco para a dissolução desse modelo de negócios extraordinariamente lucrativo e duradouro: licenciamento de reprises para a Netflix, pagamento de bilhões em direitos de transmissão de esportes, introdução de pacotes com menos produtos e fracasso em promover um assassino da Neftlix chamado TV Everywhere.

O pacote de TV com centenas de canais, que decolou na década de 1990 e era onipresente nos lares dos EUA no começo deste século, caiu de 100 milhões para 95 milhões de assinantes nos últimos cinco anos. Neste trimestre, gigantes da TV paga como Comcast, Charter, Dish e AT&T viram desaparecer mais 744 mil assinantes.

Esse declínio constante é a força motriz por trás de uma série de fusões de sucesso que estão reformulando o panorama da mídia, como a compra da Time Warner pela AT&T, a aquisição da Fox pela Walt Disney e a Comcast perseguindo a Sky. As empresas de entretenimento, nervosas porque o modelo de negócios está se desintegrando como uma geleira derretendo lentamente, estão vendo que precisam se ampliar e se expandir globalmente para competir com concorrentes rivais como a Netflix -- ou vender.

Entrevistamos cerca de 20 executivos, ex-executivos e analistas do setor para entender por que a televisão tradicional começou a desaparecer das salas de estar dos EUA. Alguns culparam os colegas por decisões que tornaram a TV a cabo muito cara ou abriram as portas à concorrência online e muitos preferiram não ser identificados por medo de irritar parceiros comerciais. Na verdade, quase todos contribuíram para comprometer o negócio.

Os suspeitos

Talvez ninguém mereça mais crédito por ameaçar o antigo modelo de negócios da TV do que o CEO da Netflix, Reed Hastings. Como motor do maior serviço de streaming de vídeos do mundo, com cerca de 130 milhões de assinantes, ele deu aos consumidores a possibilidade de terem uma grande quantidade de programas e filmes novos e antigos, sem a chateação de interrupções comerciais, por apenas US$ 8.

Mas se o sucesso de Hastings é o responsável pelo declínio da indústria da TV a cabo, ele teve muitos cúmplices entre os executivos da TV que alimentaram a ascensão da Netflix no começo. Nos últimos 10 anos, as empresas de mídia licenciaram seus antigos sucessos para Hastings, obtendo dinheiro a curto prazo, mas comprometendo a saúde da indústria a longo prazo.

Em retrospectiva, alguns executivos de TV acreditam que a indústria estaria muito melhor agora se todos -- programadores e distribuidores -- tivessem concordado em disponibilizar todos os episódios dos programas para os assinantes de TV a cabo em qualquer dispositivo. Esse era o sonho da TV Everywhere, uma ideia pensada em 2009 pelos CEOs da Comcast, Brian Roberts, e da Time Warner, Jeff Bewkes. Mas naqueles primeiros dias fundamentais, a TV Everywhere teve dificuldades para decolar.

"Assim que a TV Everywhere foi proposta, as empresas de mídia imaginaram formas de cobrar mais por isso", disse Craig Moffett, analista da MoffettNathanson. "O projeto estava condenado desde o início e o resto é história."