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Os novos filmes de terror serão um dia tão importantes quanto "O Exorcista"?

Cena do filme "O Exorcista" (1973) - Reprodução
Cena do filme "O Exorcista" (1973) Imagem: Reprodução

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

07/08/2018 04h00

Ganhando mais espaço na Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, o terror virou tema de debate no painel "Pós-horror: O Novo Terror" nesta sexta-feira (03). Os escritores Santiago Nazarian, Gabriel Tennyson e Marcos DeBrito analisaram como a nova leva de filmes e livros do gênero se diferenciam das produções "jump  scare" -- aquelas de susto fácil que inundaram o mercado nos últimos anos -- e vem ganhando destaque.

"Para mim, o pós-terror teria um descomprometimento com o gênero, ele utiliza convenções para trazer questões mais profundas do que o medo e o arrepio", disse Santiago, que lançou "Neve Negra" em 2017 pela Companhia das Letras. "Acho que a questão é além do terror. Leitores mais jovens de gênero acham que eu faço um terror chato. Eu acho bom ter um terror 'chato' e outro mais comercial, convencional. As pessoas podem acabar se interessar por isso".

Da esquerda para direita: Gabriel Tennyson, Marcos DeBrito, Antonio Carlos Sartini (mediador) e Santiago Nazarian - Iwi Onodera/UOL - Iwi Onodera/UOL
Da esquerda para direita: Gabriel Tennyson, Marcos DeBrito, Antonio Carlos Sartini (mediador) e Santiago Nazarian
Imagem: Iwi Onodera/UOL

Diretor e roteirista de "Condado Macabro" e "Mesa Pra Dois", Marcos não gosta da alcunha por dar a entender que "nega" o que veio antes, mas entende que o pós-terror vem em um momento positivo. "[O termo] Acabou sendo criado para ir contra o 'jump scare', tipo [o da franquia] 'Sobrenatural', que é um estilo que vem sendo usado muito. A gente está retornando à origem. A gente tem que reeducar o público para além do susto fácil".

Gabriel, autor de "Deuses Caídos" (Companhia das Letras, 2018), por sua vez, inseriu um novo tema para análise. Os filmes recentes que cativaram a crítica e não necessariamente o público, como "Um Lugar Silencioso" e "Corra!", terão o mesmo apelo que alguns clássicos do cinema que uniram o modelo comercial, feito para as massas, com situações criativas e que fugiam do senso comum?

"Lembro quando relançaram 'O Exorcista' no cinema, com o corte do diretor. Quando vi o filme ainda pequeno, fiquei com tanto medo que dormia com o cobertor na cabeça, mas na sessão que fui a galera estava rindo. O horror precisa dessa renovação constante. Mas tenho dúvida se esses filmes serão lembrados como 'O Exorcista' foi lembrado naquela época".

Cena do filme "A Bruxa" - Reprodução - Reprodução
Cena do filme "A Bruxa"
Imagem: Reprodução

A questão levantada é válida, afinal "O Exorcista", lançado em 1973, foi indicado a 10 Oscars (inclusive o de melhor filme) e entrou para a cultura pop como um dos mais assustadores da história do cinema.

Santiago crê que algumas produções atuais, que carregam a marca do "terror psicológico", podem sim ficar tão marcantes quanto o filme dirigido por William Friedkin. "Eles estão sendo indicados ao Oscar, e isso já eterniza o filme de uma certa forma".

Terror nacional sem olhar para Hollywood

Entre tantos temas debatidos pelo trio, o terror brasileiro tanto na literatura quanto na sétima arte também ganhou destaque, principalmente a necessidade de criar uma identidade própria para falar do que é palpável ao brasileiro.

"Eu escrevo sobre Egum em 'Deus Caídos', por exemplo. O brasileiro é um público conservador ainda, com paradigmas. O essencial seria filmes mais complexos, mas que atingisse a mensagem clara de entretenimento. É uma responsabilidade nossa [escritores, roteiristas e diretores]. É natural uma emulação do que vem de fora, mas eu creio que aos poucos vamos dar uma noção nacional e exportar isso."

Marcos completou a ideia. "Precisamos criar mundos da nossa realidade. Não fazer [filmes e livros] porque estamos mais acostumados [com o que está sendo feito lá fora]. Estamos trazendo a nossa verdade com pitadas de comercial para um público que está começando a ler".

O diretor, roteirista e escritor usou como exemplo seu livro "O Escravo de Capela", em que muda a imagem popular do Saci. "Peguei as lendas africanas e criei um novo saci. Em vez de ser da natureza, peguei um escravo que cortaram a perna e voltou dos mortos para se vingar. É uma imagem real que reflete mais a nossa cultura. O saci original era tenebroso, e virou algo mais comercial com o tempo".