Das drogas aos amigos famosos, filme mergulha na mente de Robin Williams
Quando algum artista se suicida, chovem análises de todo tipo tentando explicar os motivos que o levaram a querer dar fim à vida. Não é isso o que faz o documentário “Robin Williams: Come Inside My Mind”, que estreia na HBO nesta segunda-feira (6), às 22h.
Dirigido pela norte-americana Marina Zenovich (que também filmou as trajetórias de Roman Polanski e Richard Pryor), o filme opta por tentar explicar a vida do comediante, morto em 2014, aos 63 anos, sem ter pretensões de desvendar sua morte (em parte relacionada ao diagnóstico de um tipo de demência).
Narrada principalmente pelo próprio Williams, por meio do áudio de entrevistas gravadas ao longo de toda sua carreira, o longa não faz revelações bombásticas sobre o ator, mas tenta entender um pouco de sua mente e personalidade, com a ajuda de familiares e de alguns de seus muitos amigos famosos, como Billy Crystal.
Ainda assim, há muitas coisas ali que devem surpreender principalmente os fãs mais jovens, que conheceram Williams já na fase de “Uma Babá Quase Perfeita” (1993) e “Hook, a Volta do Capitão Gancho” (1991).
O rei do improviso
O público brasileiro lembra de Williams principalmente por seus trabalhos no cinema, mas ele começou a carreira como comediante stand-up e logo impressionou gente como o apresentador David Letterman, de quem se tornaria amigo, que no documentário relembra a energia inigualável que o ator tinha. O teatro de improviso entrou na vida dele ainda na faculdade (exclusivamente masculina), pois era a única aula em que era possível encontrar as meninas de outra instituição, e nunca mais saiu. Ao longo da carreira, Williams fez inúmeras turnês com seus shows de comédia e se apresentou inclusive na prestigiosa Metropolitan Opera, em Nova York.
Homem do espaço
Foi o stand-up que também rendeu a Williams sua chance de ouro. O criador da série de comédia “Happy Days” Gary Marshall ficou preocupado quando seu filho de 8 anos parou de assistir ao programa porque não tinha nenhum “homem do espaço” (“Star Wars” havia acabado de sair) e resolveu introduzir um personagem assim. Para o papel, a encarregada do elenco sugeriu um comediante que se apresentava na rua e estava “com um chapéu bem cheio (de dinheiro)”. O episódio foi um enorme sucesso e logo a ABC colocou o alienígena interpretado por Williams em uma série própria, “Mork & Mindy” (1978-1982). Acontece que, como ator de improviso, ele não obedecia as marcações de cena e muitas vezes suas interpretações não eram captadas pelas três câmeras então usadas para filmar sitcons (séries de comédia filmadas com plateia). A solução foi introduzir um quarto cinegrafista, com uma câmera de mão, o que acabou se tornando o padrão para o gênero até hoje.
John Belushi e a cocaína
“Mork & Mindy” também foi um sucesso e Williams passou a fazer parte da lista de nomes mais quentes de Hollywood. Logo ele estava circulando entre as estrelas, que queriam conhecer e estar na companhia daquele novato cheio de energia, e a vida do ator e de sua primeira mulher, Valerie Velardi, virou uma festa constante. Um dos companheiros de noitada de Williams era o também comediante John Belushi, que apresentou a cocaína ao ator. Williams esteve com Belushi na noite em que ele sofreu uma overdose fatal, e a morte do amigo teve um grande impacto no ator, que vinha consumindo álcool e drogas em grandes quantidades e decidiu ficar sóbrio.
Verdadeiro vício
Williams se manteve sóbrio por mais de 20 anos e voltou a ter problemas com álcool nos anos 2000, quando resolveu passar por uma reabilitação, mas seu verdadeiro vício era a risada dos outros. “É uma coisa muito poderosa para muitos comediantes. Essa risada é uma droga. Essa aceitação, essa excitação, é muito difícil de ser substituída”, diz o ator Billy Crystal, amigo próximo de Williams. “Quando ele não estava fazendo rir e entretendo, sentia que estava falhando como pessoa, e isso era muito difícil de assistir”, conta o filho mais velho de Williams, Zak, único a participar do documentário (Williams ainda teve Zelda e Cody, do segundo casamento). Tanto que o ator precisava descarregar essa necessidade nos intervalos quando estava interpretando papéis mais sérios. “Quando ele fazia as pessoas rirem muito, ele tinha uma espécie de barato”, conta o diretor de “Câmara Indiscreta” (2002), Mark Romanek.
Os amigos famosos
Apesar de esconder seus problemas e fragilidades através da comédia em sua vida pública, Williams também foi capaz de criar laços duradouros com alguns de seus colegas de profissão – como Letterman, Crystal, Whoopi Goldberg, Eric Idle (Monty Python) e Christopher Reeves, que foi padrinho de Zak. Crystal era um dos mais próximos e os dois criaram uma conexão em uma noite em Nova York, quando Williams o convidou para ir a sua casa após uma apresentação e ele conseguiu fazer Zak, que era um bebê, parar de chorar. “Todo mundo queria algo dele. Eu não, eu não tinha uma agenda. Eu apenas gostava dele”, relembra Crystal. Williams costumava deixar recados hilários na caixa postal do amigo, criando personagens e fazendo imitações, mas os papéis se inverteram quando ele passou por uma cirurgia em 2009, e Crystal deixou uma série de mensagens como se fosse o mecânico que estava substituindo uma válvula no coração de Williams. Quando acordou da cirurgia, ainda fraco, o ator ligou emocionado para agradecer o amigo.
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