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Monja Coen diz que meditou com Lula na prisão e defende Neymar

Monja Coen participa de bate-papo na Bienal do Livro de São Paulo 2018 - Iwi Onodera/UOL
Monja Coen participa de bate-papo na Bienal do Livro de São Paulo 2018 Imagem: Iwi Onodera/UOL

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

03/08/2018 14h47

Ao participar da Bienal do Livro de São Paulo nesta sexta-feira (3), Monja Coen falou sobre sua visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A monja disse que o ex-presidente, preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, tem todas as segundas-feiras um encontro com líderes espirituais. Foi assim que eles se reuniram no início desta semana.

“Lula meditou comigo. Não falamos de política. Visito prisioneiros, detentos, independentemente do seu pensamento político. Dei livros de presente a ele”, contou a monja, que abriu a programação da Arena Cultural, o principal espaço do evento. Lula recebeu o livro “Zen Para Distraídos”, o último lançamento dela que ensina conceitos simples do budismo para serem aplicados no dia a dia.

Monja Coen falou ainda sobre frases marcantes que ouviu do ex-presidente ao visitá-lo. “Se as pessoas soubessem como é bom fazer o bem, ninguém faria o mal”, disse Lula para ela, após a meditação conjunta. A monja ainda contou que Lula não está com raiva de ninguém e que acredita em Deus.

“Tem pessoas me xingando porque eu visitei o Lula. Eu visitei porque gosto dele e pronto. Falei para ele que transformamos o mundo construindo uma cultura de paz. Se você não gosta de raiva, não construa isso em você”, recomendou aos “haters”.

Não foi só Lula que meditou com a Monja Coen. Antes de iniciar sua palestra ao público da Bienal do Livro, ela fez todos presentes alongarem, juntarem as mãos, apoiarem os pés, inspirarem e expirarem em um claro exercício de meditação.

Público medita antes da palestra de Monja Coen na Bienal do Livro de São Paulo 2018 - Iwi Onodera/UOL - Iwi Onodera/UOL
Público medita antes da palestra de Monja Coen na Bienal do Livro de São Paulo 2018
Imagem: Iwi Onodera/UOL

“Parem de falar mal do Neymarzinho”

Monja Coen ainda lembrou de um recente alvo de raiva coletiva: o jogador Neymar. “Eu adoro o Neymar”, declarou. Ela explicou que sente empatia pelo camisa 10 da seleção brasileira por já ter tido a mesma lesão que ele sofreu antes da Copa do Mundo.

“Eu já quebrei o quinto metatarso. Dói horrores colocar o pé no chão, levei dois meses para me recuperar. [Neymar] é um ser humano. Tem carência, dores e problemas como a gente. Ele tem que se recuperar para seguir sendo um bom atleta. Parem de falar mal do Neymarzinho”, pediu.

“Precisa de talento, mas também de muito esforço. Quem tem talento se esforça muito. Não depende só do talento.”

A Monja disse ainda ter acompanhado toda a Copa do Mundo. “Adoro esporte”, disse. Ela ressaltou o talento e boas ações de alguns atletas e lembrou que o francês Mbappé doou todos os seus ganhos financeiros com o campeonato, vencido pelo seu país.

Monja rock n’ roll

A monja aproveitou o encontro para também contar um pouco de sua trajetória. Nascida em São Paulo em uma família católica, ela acabou virando monja depois de se interessar por meditação.

“Eu fui jornalista por anos. Trabalhava no Jornal da Tarde em meio à Ditadura. Comecei a reparar que todo mundo que eu admirava e fazia sucesso tinha algo em comum: a meditação. Os Beatles, Pink Floyd, The Who, Yes... Todos eles meditavam”, contou sobre bandas de sucesso na época.

Ela então largou tudo e foi para os Estados Unidos. Lá conheceu seu marido, um norte-americano que trabalhava justamente com banda de rock n’roll. “Comecei a trabalhar com ele nos bastidores e ele percebeu que eu me interessava por meditação e começou a me dar livros do assunto”. Foi aí que ela se mudou para Los Angeles e foi estudar no Zen Center, onde finalmente aprendeu a prática. “Nunca mais saí. Fiquei até com medo de voltar ao Brasil, pois eu achava que eu era uma revolução viva”, conta.

Sua trajetória ainda incluiu 12 anos no Japão e 8 meses em um monastério feminino. Ela foi ordenada monja em 1982. Entre o que aprendeu durante todo esse tempo, orientou o público que ouvia suas histórias na Bienal a valorizar a vida.

“Não espere o caixão para apreciar sua vida. Dê valor a cada instante. Não tem antes, tem daqui para frente. Ela ainda falou sobre um tema delicado: suicídio. “Quando eu tinha 20 anos e era jornalista já tive depressão, já tentei o suicídio. Hoje aprendi que não há nada pelo o qual matar ou morrer.”

Apesar de vários temas aparentemente pesados, a aura leve da palestrante predominou durante 1 hora no auditório que reunia um público considerável, mas ainda tímido. O encontro, que começou em meditação, terminou em selfie a pedido da própria.

Serviço:

Bienal Internacional do Livro de São Paulo
Endereço: Pavilhão do Anhembi - Av. Olavo Fontoura, 1209. São Paulo
Datas: De 3 a 12 de agosto
Horário: das 9h às 22h
Ingressos: R$ 12,50 (meia) R$ 25 (inteira)
Site oficial: http://www.bienaldolivrosp.com.br/