Sob supervisão, João Gilberto não pode falar ao telefone e vive nômade
"É só tristeza e a melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai". Nesta semana se completou 60 anos da gravação de "Chega de Saudade", considerada a pedra fundamental da bossa nova. O herói da efeméride, no entanto, vive uma insólita situação. Aos 87 anos, João Gilberto está sem endereço fixo e sem poder sequer usar o telefone
Ele está sob interdição parcial, ou seja, não pode viver a plenitude de seus atos e direitos. A filha mais velha do músico, Bebel Gilberto, move desde o ano passado um processo de interdição do pai, motivada pela idade avançada e pela precária situação financeira em que vive –ele chegou a ser despejado do apartamento em que vivia no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, por dever anos de aluguel.
"João Gilberto continua interditado parcialmente, o que não funciona para ele já que não está tendo sua dignidade de volta. O que ele precisa é poder falar ao telefone com liberdade e ter as pessoas de quem gosta ao lado dele para se sentir seguro e finalmente fazer um check-up", diz Claudia Faissol, mãe da filha mais nova do músico, Luíza, de 13 anos.
No processo de interdição, o juiz avalia o nível de compreensão de uma pessoa adulta e decide se ela pode ou não praticar seus atos sozinha ou se precisará de apoio para isso. De acordo com o Código Civil, pessoas que não tiverem o discernimento necessário para praticar algum ato da vida civil, principalmente o que põe em risco suas finanças e patrimônio, poderão ser interditadas.
Parte fundamental do processo é uma perícia feita por uma equipe multidisciplinar que deve avaliar a situação da pessoa alvo da interdição. João se recusou a fazê-la. Por isso a interdição do músico ainda é considerada parcial, de acordo com a assessoria de Leonardo Amarante, advogado de Claudia.
Durante anos Claudia foi companheira e administrou a vida financeira de João. Atualmente, de acordo com as palavras dela, não tem mais o controle do dinheiro do músico e acusa Bebel e o irmão, João Marcelo Gilberto, de não pagarem um plano de saúde para o pai.
"Ele não precisa de interdição, sobretudo quando a pessoa que a pede não convive com ele e nem está por perto para ver como é difícil cuidar dele. Não é verdade que pagam o seguro saúde. Eu paguei por 15 anos e ele me reembolsava. Mas, há quatro anos arco sozinha com os custos de minha filha e não consegui manter o pagamento do seguro", afirmou Claudia.
No mês de abril, de acordo com reportagem do "Estadão", a Justiça autorizou o arrombamento do apartamento onde João vivia, no Leblon, na zona sul do Rio, acatando requerimento de Bebel para verificar o estado de saúde do músico e para que ele pudesse ser citado formalmente no processo de interdição. A ação movida pelos filhos também tem o objetivo de afastar Cláudia do controle da vida de João. O caso corre em segredo de Justiça na 5ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio.
No mês seguinte, também no "Estadão", uma reportagem dizia que Paula Lavigne e Caetano Veloso se uniram a Chico Buarque, que já foi cunhado de João, que foi casado com Miúcha, mãe de Bebel, para ajudar o músico.
Na mesma reportagem, a advogada de Bebel, Simone Kamenetz, disse que o músico está em estado de penúria financeira. Procurada pelo UOL, a defensora disse que não poderia se pronunciar por conta do segredo de Justiça.
A ex diz que ele ainda não decidiu onde vai morar. "João está nômade. A verdade é que ele gosta de morar sozinho, mas no momento isso é inviável. Tenho medo que aconteça alguma coisa e ele não tenha o devido socorro a tempo. Ele ficou o mês de junho com a minha filha. Chegou muito fraco e com a saúde debilitada. Minha filha não quer que eu deixe o pai dela ser interditado pela Bebel", afirmou Claudia, sem explicar como foi essa estada do cantor com a filha. A entrevista ao UOL foi concedida por e-mail.
A reportagem também procurou João Marcelo Gilberto, que não respondeu aos questionamentos até a publicação deste texto.
Empréstimo
Em 2013, João Gilberto assinou um empréstimo de R$ 10 milhões com o banco Opportunity, após passar por dificuldades financeiras desde o cancelamento de sua turnê de 2011, quando completou 80 anos. O músico não fez os shows e tampouco devolveu o pagamento adiantado.
Na assinatura do empréstimo, o músico recebeu metade do valor e ainda não usufruiu da segunda parte. Como garantia, o banco ficou com 60% dos direitos autorais dos quatro primeiros discos de João.
Terceira pessoa
No ano passado, uma ex de João voltou a fazer parte de sua rotina. A moçambicana Maria do Céu Harris, de 54 anos, namorou o músico por cerca de 20 anos, até ele conhecer Claudia. A estrangeira sempre orbitou a vida do músico, que pagava o aluguel do apartamento onde ela morava, também no Leblon. Segundo o jornal "O Globo", ela foi despejada no meio do ano passado por falta de pagamento e foi morar com o ex.
Atualmente, a moçambicana ainda tem influência e pode estar ainda morando com o músico. "Só sei que ele tenta impedir João de falar comigo, com minha filha e até com pessoas da família dele. Isso não saudável. Minha filha é a mais prejudicada com essa história toda", diz Claudia, sem especificar se Maria está vivendo com o músico.
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