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Saldanha banca R$ 8 mil do próprio bolso para premiar animações brasileiras

O diretor Carlos Saldanha - Divulgação
O diretor Carlos Saldanha Imagem: Divulgação

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

13/07/2018 14h05

Dos R$ 121 mil em prêmios que os filmes do Anima Mundi vão disputar neste ano, R$ 8 mil sairão do bolso de Carlos Saldanha. "Incentivos nunca são demais", disse o cineasta carioca, por telefone, ao UOL ao explicar sua decisão de apoiar o evento por conta própria. "É no momento de crise que temos que remar contra a maré e tentar crescer. Vamos peitar essa crise".

Os dois prêmios bancados por Saldanha, que vão levar o nome do cineasta, estarão divididos em R$ 5 mil para o melhor curta brasileiro e R$ 3 mil para o melhor curta de estudante brasileiro. E os vencedores receberão a honra das mãos do artista indicado ao Oscar duas vezes por suas animações "Gone Nutty" e "O Touro Ferdinando". "Faço questão de entregar o prêmio pessoalmente. Quero encorajar as pessoas a criarem cada vez mais", disse ele, acrescentando que aproveitou uma vinda ao país para participar ativamente do festival. "Com todos os compromissos que tenho no exterior, é difícil eu vir ao Brasil".

A participação de Saldanha no Anima Mundi será intensa. Além de entregar os prêmios, no dia 28 de julho, no Cine Odeon, no Rio de Janeiro, ele participará da exibição de "O Touro Ferdinando" e do making of da animação e conversará com o público sobre seu processo de criação. "Conheço o pessoal do Anima Mundi desde o início, há 26 anos, e ele tem uma importância muito grande ao fomentar a indústria de animação nacional".

A edição 2018 do festival ocorrerá no Rio de Janeiro entre 21 a 29 de julho e em São Paulo entre 1º e 5 de agosto. O maior prêmio individual será de R$ 15 mil para o melhor curta-metragem, nacional ou internacional. Ao todo, foram selecionados 405 títulos de 40 países, sendo 108 produções nacionais de 13 estados.

Série brasileira na Netflix

A vinda de Saldanha ao Brasil tem outras razões: ele vai produzir e dirigir a série nacional "Cidades Invisíveis" para a Netflix. E é com esse trabalho que ele vai sair da zona de conforto, trocando sua característica animação por encenação de atores reais. "Adoro trabalhar com atores. Nas animações, eu falo muito com os atores, mas não é uma interação dentro do set de filmagem. Este é um novo desafio e quero dirigir o máximo de episódios que conseguir", contou.

A série, que será produzida no final deste ano, terá oito episódios de 1h de duração e vai contar a história um detetive que se envolve em um mundo habitado por criaturas do folclore nacional. Saldanha comparou a série com o universo fantástico de Neil Gaiman em "Deuses Americanos" e acredita que também terá interesse de espectadores fora do Brasil. "Eu tinha essa história para contar e apresentei para a Netflix. Eles adoraram. Não é uma série infantil e acho que esse contexto de mitologias modernas é muito bem recebido no exterior também".

O elenco ainda não está fechado, mas o diretor confirmou que o ator Marco Pigossi vai interpretar o personagem principal, o investigador Eric. "A série vai ter efeitos especiais, drama, enfim, todos esses elementos".

"O Oscar ainda vai chegar"

Enquanto isso, nos Estados Unidos, a produtora de Carlos Saldanha, a Blue Sky, está tocando três projetos simultaneamente. O projeto mais adiantado é a animação "Spies in Disguise", que conta a história do "melhor espião do mundo" e tem previsão de lançamento para 2019.

O segundo projeto será a adaptação para os cinemas da graphic novel "Nimona", de Noelle Stevenson. "Ainda estamos bem no começo desse projeto e não posso adiantar muita coisa".

O terceiro projeto, "Foster", em fase embrionária, é o que terá a maior participação de Saldanha e será um musical animado. O filme contará a história de um leitor de livros de fantasia viajando por um mundo místico. "No filme 'Rio' tinha muita música, mas não era um musical. Em 'Foster', vamos fazer um filme pensado desde o início como musical".

Sobre a indicação ao Oscar pelo filme "O Touro Ferdinando", Saldanha disse que uma hora ele vai chegar. "Esses reconhecimentos continuam nos motivando, mas não é o nosso objetivo final. O importante é brigar por novas ideias, novos desafios. Para mim isso é o mais emocionante. O Oscar ainda vai chegar".