Escândalos de assédio e racismo deixam séries fora da disputa pelo Emmy
O 70º Emmy Awards revelou seus indicados nesta quinta-feira (12) e causou espanto com alguns de seus esnobados – entre eles, a comédia “Modern Family” e o retorno da comentadíssima “Twin Peaks”. Menos surpreendente, porém, foi a ausência de quatro séries envolvidas em escândalos: “House of Cards”, “Transparent”, “Roseanne” e “Arrested Development”.
As duas primeiras sofreram as consequências de terem seus protagonistas envolvidos entre as denúncias de abuso e assédio sexual que se tornaram o principal assunto de Hollywood no final de 2017. A equipe de “House of Cards” já havia começado a gravar a sexta (e última) temporada da série quando seu astro, Kevin Spacey, foi acusado de assediar o ator Anthony Rapp quando ele tinha apenas 14 anos. Seguiram-se uma série de novas acusações, algumas partindo dos próprios funcionários da produção, e todos os trabalhos foram suspensos pela Netflix e pela produtora Media Rights Capital.
Spacey foi afastado definitivamente de “House of Cards”, e os roteiristas correram contra o relógio para reescrever os episódios, colocando a Claire de Robyn Wright como protagonista. A retomada das gravações viria só dois meses depois, no início de janeiro – e seria uma missão quase impossível a série estrear até o dia 31 de maio, a data limite para elegibilidade ao Emmy 2018. Ainda sem uma data de estreia, “Cards” terá sua última chance de competir ao Oscar da TV só em 2019.
“Transparent”, por outro lado, estava perfeitamente apta a competir com sua quinta temporada, que estreou em setembro. Mas a série da Amazon também viu seu protagonista cair em desgraça. O premiado Jeffrey Tambor foi acusado de assédio sexual por sua assistente e uma colega, a atriz Trace Lysette. Após uma investigação interna, a Amazon demitiu o ator e resolveu não submetê-lo como um candidato ao Emmy. Acabou sem nenhuma indicação para a produção, a primeira de um serviço de streaming a ser reconhecida na categoria de melhor série de comédia.
O histórico de Tambor também se voltou contra “Arrested Development”, a cultuada sitcom que ganhou em maio uma quinta temporada pela Netflix. Não pelas acusações anteriores, já que a empresa decidiu prosseguir com a indicação do ator, mas por uma nova: durante uma entrevista ao jornal “The New York Times” para promover a temporada, a atriz Jessica Walters chorou ao recontar uma ocasião em que Tambor foi verbalmente agressivo com ela no set de filmagens. A situação piorou quando colegas como David Cross e Jason Bateman tentaram amenizar o comportamento do colega. As declarações foram fortemente criticadas nas redes sociais e na imprensa, e os atores pediram desculpas publicamente. “Arrested” foi solenemente ignorada pelo Emmy, que já a havia indicado em anos anteriores.
Já “Roseanne”, série mais vista da TV americana na temporada 2017-2018, sofreu por conta do comportamento de sua protagonista, Roseanne Barr. A atriz e humorista publicou um tuíte racista em que comparava Valerie Jarrett, conselheira do ex-presidente Barack Obama, a um macaco. A reação do público e de seus pares, dentro e fora da série, veio com força – e “Roseanne”, que havia sido renovada para uma próxima temporada, acabou cancelada.
Havia, porém, possibilidade da sitcom ser indicada, uma vez que a ABC já a havia submetido para o Emmy. Embora a emissora tenha decidido não investir na campanha da comédia para a a premiação, “Roseanne” acabou com duas indicações: uma de melhor atriz coadjuvante, para Laurie Metfcalf, e uma de edição multi-câmera em série de comédia.
A Academia de TV, que organiza o Emmy, não se pronunciou sobre as controvérsias. Mas é possível afirmar que elas realmente deixaram uma marca na premiação – principalmente quando se considera que, assim como no Oscar, os votantes do Emmy são pessoas da indústria, que votam em seus pares. Em tempos em que cada vez mais se questiona se é possível separar ao artista de sua arte, deve se tornar uma prática cada vez mais comum.
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