"Sharp Objects" deixa "quem matou?" de lado em favor do drama psicológico
Um dos grandes lançamentos da HBO para 2018, "Sharp Objects" recebeu, antes mesmo de estrear no último domingo (8), uma alcunha incômoda: a de "nova Big Little Lies", em referência à minissérie de 2017 que trouxe muitos prêmios para a emissora.
Assim como sua predecessora, "Sharp Objects" tem uma estrela hollywoodiana (Amy Adams), traz mulheres como protagonistas e é dirigida por Jean-Marc Vallée. Mas a comparação não é totalmente justa, já que a nova minissérie tem méritos suficientes para se sustentar por si própria.
Amy Adams é Camille, uma jornalista que viaja a Wind Gap, uma cidadezinha esquecida do sul dos Estados Unidos, para investigar o assassinato de uma menina e o desaparecimento de outra. Acontece que Wind Gap é a cidade natal da protagonista, cheia de recordações traumáticas que ela deixou para trás há muitos anos.
Por conta disso, "Sharp Obejcts" não é um suspense convencional: importa menos o "quem matou?" do que a exploração profunda e detalhada da psicologia de Camille. Assombrada pelas feridas do passado, ela tem pequenas garrafinhas de vodca como companheiras inseparáveis, e mantém o hábito de se cortar --daí o título da minissérie e do livro do qual é baseada, "Objetos Cortantes", de Gillian Flynn (a mesma autora de "Garota Exemplar").
A trama lembra, de certa forma, o que a mesma HBO fez na primeira temporada de "True Detective", também mais interessada na bagagem psicológica de seus personagens. Mas, em "Sharp Objects", isso acontece a partir de uma perspectiva feminina, potencializada pelo fato de Camille conviver intimamente com duas personagens tão interessantes quanto ela: sua neurótica mãe Adora (Patricia Clarkson), que não está exatamente feliz com seu retorno, e sua meia-irmã Amma (Eliza Scanlen), que dentro de casa é uma garota inocente, e fora mostra seu lado mais rebelde.
Cuidadosamente construída, a história tem um ritmo mais lento, a ser digerido aos poucos --como pede sua grande carga dramática. E isso está longe de ser um demérito: nos dois episódios aos quais o UOL assistiu a convite da HBO, o espectador se sente instigado a continuar o mergulho na vida de Camille, em uma atuação fascinante de Amy Adams, mesmo quando ela se torna muito sombria. Clarkson e Scanlen também mostram grande competência em seus papéis, o que é essencial para a história.
A direção de Jean-Marc Vallée traz uma aura onírica à série, com belas sequências em que passado, imaginação e realidade confluem. E fora da luxuosa mansão da família de Camille, o mundo construído pelo diretor passa longe do luxo de "Big Little Lies": Wind Gap é uma cidade decadente, que não esconde que há algo de muito errado por lá. O pacote é arrematado por uma trilha sonora que se torna parte indissociável da jornada da protagonista.
Em um ano que já teve tantas séries, "Sharp Objects" é uma que definitivamente merece atenção.
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