Topo

Beyoncé e Jay Z, Elza Soares e Arctic Monkeys: os melhores discos de 2018 (até agora)

Arctic Monkeys, Elza Soares e o álbum do casal Beyoncé e Jay Z foram o que de melhor tocou na primeira parte de 2018 - Divulgação
Arctic Monkeys, Elza Soares e o álbum do casal Beyoncé e Jay Z foram o que de melhor tocou na primeira parte de 2018 Imagem: Divulgação

Tiago Dias*

Do UOL, em São Paulo

04/07/2018 04h00

O ano de 2018 já está pela metade e é hora de fazer um balanço. Na música, o ano pode até ter demorado a engrenar, mas a quantidade de bons discos que saíram nos últimos meses por aqui e lá fora é grande.

De Beyoncé e Jay Z dando voltas no Louvre ao retorno nada roqueiro do Arctic Monkeys, não faltou trilha sonora para o primeiro semestre. Selecionamos o que de melhor tocou na nossa playlist – e o que você ainda não ouviu, mas precisa dar o ‘play’.

The Carters, "Everything is Love" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
The Carters, "Everything is Love"

A trilogia “terapia de casal” chega ao fim como uma espécie de testamento do amor reconstruído e da conquista do poder em mãos negras, o que fica evidente no clipe-acontecimento de “Apeshit”, gravado no Museu do Louvre, em Paris. Não se trata em trazer o melhor de cada um dos mundos, o álbum é criação única desse clã que já é um dos mais famosos do entretenimento. Sem enrolação, eles emendam beats de forma dinâmica, com clara inspiração no rap seco e minimalista feito atualmente nos Estados Unidos, como em “Nice” e na já conhecida música de trabalho, e o melhor R&B que o casal pode oferecer, em “Summer” e “Boss”.

Arctic Monkeys, "Tranquility Base Hotel + Casino" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Arctic Monkeys, “Tranquility Base Hotel + Casino”

Era alta a expectativa pelo novo disco dos britânicos, principalmente para os roqueiros, que aguardavam um petardo cheio de riffs como o antecessor, “A.M.”, mas Alex Turner não quer facilitar. Sem tesão de voltar a compor com guitarras, o líder deita canções de estrutura bastante conhecidas (e sempre boas) em um cama de piano e teclados, o que causou certa ira nos mais xiitas. Mas não é só a aventura por outros mares que faz o disco ser tão sedutor. Há um ambiente decadente dos anos 1970 – que Turner faz questão de emular e atualizar para a era das redes sociais. Deixe de caçar guitarras escondidas e se entregue para canções quase soul, como “Science Fiction” e a faixa-título.

Djonga, "O Menino Que Queria Ser Deus" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Djonga, "O Menino Que Queria Ser Deus"

O rapper mineiro faz barulho há algum tempo, mas é com seu segundo disco que ele aponta um amadurecimento. Entre o complemento e a ruptura em relação ao trabalho anterior, “Heresia” (2017), o jovem amplia seu domínio nas rimas tortas e agrega ritmos e melodias. O resultado é um material superior sobre a jornada de um personagem errático em um cenário caótico: “Tirei várias pessoas da depressão mas não consigo dar um só riso / Seu reflexo é mais cruel que a imagem de qualquer um / Disso aí morreu Narciso”, Djonga rima em “Julho de 94”.

Father John Misty, "God’s Favorite Customer"  - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Father John Misty, “God’s Favourite Customer”

O que esse americano tem feito há quatro discos (todos assinados como se ele assumisse a persona de um padre), é um verdadeiro retorno à tradição clássica da canção. Sua ode à melancolia, após o fim de um relacionamento e um momento de depressão, atinge rara beleza. Além de muito violão e piano, os arranjos são costurados com orquestras e sintetizadores, resgatando os bons momentos do soft rock, sem nunca parecer preso ao passado. O interessante nas letras de Josh Tillman, seu verdadeiro nome, é a ironia e a sinceridade que ele usa para criar canções pungentes, como “Just Dumb Enough to Try” e a faixa-título. Os brasileiros podem conferir de perto o talento do americano em agosto, quando ele se apresenta no Rio de Janeiro (dentro do Queremos! Festival, no dia 25) e em São Paulo (show solo no Memorial da América Latina, no dia seguinte).

Cavala - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Maria Beraldo, “Cavala”

Conhecida por seu trabalho no grupo Quartabê, a cantora se descobriu compositora recentemente e fez de seu disco de estreia um dos momentos mais interessantes da música brasileira este ano. Espécie de autobiografia, “Cavala” não é só um disco de intenções e se destaca ao ampliar os limites de uma canção, indo da batida eletrônica de "Da Menor Importância" à releitura soturna de "Eu Te Amo", de Chico Buarque. A música de trabalho, “Tenso”, traz uma batida que remete ao art rock. É forte, dançante e a letra preenche cabeça, corpo e coração: “Tenso/ Tão desavisado meu tesão/ Vive um momento tenso/ Livre, leve, solto/ De coração/ É gostoso/ É tenso”. 

Kali Uchis, "Isolation" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Kali Uchis, “Isolation”

Há uma pitada de Amy Winehouse nessa americana-colombiana de 24 anos. Mas a maquiagem no olho e o soul que vem fácil na voz suave é só um tempero a mais no panelão de sabores que a estreante entrega em “Isolation”. Na introdução do álbum (“Body Language”), uma bossa-nova eletrônica é a porta de entrada para uma pista nova, brilhante e desconhecida, a ser desbravada. De produção esmerada (com participações de Thundercat e Damon Albarn), o talento versátil da cantora costura fórmulas, ritmos e vozes com leveza e naturalidade, indo da homenagem à música latina “Nuestro Planeta” ao delicioso soul de “After  the  Storm”.

Elza Soares, "Deus é Mulher" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Elza Soares, “Deus é Mulher”

Não há no mundo uma cantora da terceira idade com a potência e a ousadia de Elza Soares. Após a viagem profunda de “A Mulher do Fim do Mundo” (2015), já um clássico da nossa música, Elza volta cantando pra fora e para o mundo, embora sua viagem ainda seja tão forte e agressiva quanto o antecessor. A voz de Elza ainda se rasga e derrama em um relicário – bastante barulhento e enérgico – dedicado à mulher como força e potência transformadora. Após anunciar o fim do mundo, ela canta para purificar em “Dentro de Cada Um”: "A mulher vai sair / E vai sair de dentro de quem for / A mulher é você / De dentro da cara a tapa de quem já levou porrada na vida”.

Kids See Ghosts - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Kids see Ghosts, “Kids See Ghosts”

É difícil desassociar Kanye West de suas opiniões sobre a escravidão e Donald Trump. Mas felizmente o mesmo dom que o rapper tem em entrar em polêmicas, ele ainda mantém nos beats. Enquanto estampava os sites e tabloides em todo o mundo, o rapper se trancou em um rancho em Wyoming para trabalhar em uma série de cinco discos– incluindo aí seu 8° álbum, “Ye”. Durante cinco semanas, a cada sexta, Kanye lançou um disco curto para cada artista, com duração média de 20 minutos.
Entre o rap sem freio de Pusha-T e o R&B sedutor de Teyana Taylor (dois dos melhores discos da safra), “Kids See Ghosts”, nome dado ao encontro de Kanye com Kid Cudi (cantor que já vinha desbravando outros gêneros além do hip-hop), brilha diferente. A mistura leva o hip-hop para outras direções, flertando com psicodelismo, rock progressivo e arranjos vocais ousados.

Iza, "Dona de Mim" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Iza, “Dona de Mim”

Iza conquistou seu espaço lançando singles a conta-gotas. Faltava o que é mais difícil no pop: um disco bom que traduzisse toda sua personalidade. Entre Anitta (que não conseguiu fazer seu “Bang” bombar como álbum) e Pabllo Vittar (com seu caminhão de hits chamado “Vai Passar Mal”), “Dona de Mim” é a prova de que Iza realmente está à vontade no papel de diva do pop. Se existe algum problema em seu trabalho de estreia é o excesso de músicas candidatas a hit. É difícil não ouvir os feats em “Bateu” (com Ruxell), “Corda Bamba” (Ivete Sangalo), “Rebola” (Carlinhos Brown e Gloria Groove) e “É Noix” (Thiaguinho) sem imaginar todas elas em uma festa ou bombando nas rádios. Boa notícia: A voz se mantém mesmo com um clímax atrás do outro.

Ghost, "Prequelle" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Ghost, “Prequelle”

“Prequelle” é o quarto disco do Ghost e chegou provando o novo status da banda de hard rock/metal, como um fenômeno mainstream. O sucesso está num combo: o disco traz músicas mais acessíveis e grudentas, como “Rats” e “Dance Macabre”, as apresentações ao vivo ganharam mais vida – diferentemente da pose mais estática do começo da carreira da banda – e a parte teatral segue deixando os fãs curiosos. A banda está apostando alto no mercado dos EUA, com direito a dois shows em arenas marcados para o fim do ano, para cravar seu pé entre os grandes. Além das faixas citadas, outros destaques são “Faith”, lembrando as guitarras do Iron Maiden, o refrão chiclete de “Witch Image” e as instrumentais “Miasma” e "Helvetesfönster". (Por Maurício Dehó)