Especialista destrói valor de obras de arte apenas com um olhar; e de graça
O misterioso mundo da atribuição histórica de objetos de arte teve um raro momento de destaque em novembro passado, quando uma pintura de Leonardo da Vinci foi leiloada por US$ 450 milhões.
O preço não foi o único fator que chamou a atenção.
Em contraste com o julgamento quase unânime dos verdadeiros especialistas, muitos críticos pouco familiarizados com o mundo dos grandes mestres levantaram dúvidas a respeito da autenticidade da pintura. A divisão ilustrou o abismo entre o mundo da arte convencional, muito pendente do dinheiro e da moda, e o dos estudos acadêmicos, sujeito a pressões muito diferentes.
Uma das poucas pessoas a superar esta divisão é Philippe Costamagna, o diretor do Museu de Belas Artes de Ajaccio, na Córsega, França, que se autodescreve como "Olho".
"A tarefa do que chamo de 'Olho' é estabelecer a autoria das pinturas apenas pela visão", escreveu Costamagna em seu próximo livro, "The Eye: An Insider's Memoir of Masterpieces, Money, and the Magnetism of Art", que sairá em agosto de 2018 pela editora New Vessel Press.
A alegação soa estranha, mas Costamagna ganhou fama como especialista de referência para pinturas italianas do século 16. Usando uma combinação de estudos, documentação histórica, análise formal e intuição, ele recebe pedidos regulares para julgar obras de arte de atribuição ambígua.
"Muitas vezes há questionamentos a respeito da autoria de uma pintura; ao longo dos séculos, muitas obras foram retocadas, modificadas e até tiveram as telas cortadas e remodeladas, o que torna a atribuição, na melhor das hipóteses, difícil."
O mais surpreendente é que Costamagna oferece seus serviços gratuitamente.
"Obviamente!", diz Costamagna, em entrevista por telefone. "Assim é muito fácil ser honesto e dizer exatamente o que se pensa. Se você acha que uma pintura não é do artista que querem, é fácil dizer não. E eu não me importo com o dinheiro."
Julgamentos surpreendentes
O livro de Costamagna está repleto de exemplos de seus julgamentos -- corroborados por outros especialistas, assegura -- que elevaram algumas obras de arte e demoliram o valor de muitas outras.
"As pessoas muitas vezes me detestam", diz. "Mas me respeitam."
Com frequência, escreve, negociantes e colecionadores -- intencionalmente ignorantes ou não -- pedem a ele a autenticação de uma falsificação óbvia.
"Sempre que me deparo com uma falsificação, percebo imediatamente", diz. "Um dia, em uma sala pouco iluminada na rua Faubourg Saint-Honoré, um negociante e colecionador estrangeiro com atuação em Paris pediu que eu autenticasse, diante de dois possíveis compradores, uma obra obviamente falsa."
A atribuição, continua, pode ser complicada. Já as falsificações são simples. "Uma falsificação sempre deixa uma impressão desagradável", explica. "Uma sensação de desconforto."
O conhecimento e a reputação, afirma Costamagna, são sua motivação. Mas ele aceita uma taça de champanhe, quando oferecida.
"Ou podem me convidar para almoçar no Four Seasons em Nova York", diz. "Mas não ligo para quem estou fazendo o trabalho, se rico ou pobre. Ficarei muito feliz em visitar qualquer um que queira uma opinião."
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