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Descobrimos o que a música brasileira tem para fazer tanto sucesso em Portugal

As amigas portuguesas Leonor Cardoso, 20, e Cristiane Leal, 21, curtem o Rock in Rio Lisboa 2018 - Felipe Branco Cruz/UOL
As amigas portuguesas Leonor Cardoso, 20, e Cristiane Leal, 21, curtem o Rock in Rio Lisboa 2018
Imagem: Felipe Branco Cruz/UOL

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em Lisboa (Portugal)*

24/06/2018 07h00

Não é preciso ir muito longe para perceber a imensa influência que a música brasileira tem em Portugal. Basta caminhar pelas avenidas de Lisboa para ouvir Anitta tocando em um radinho de pilha na esquina ou ver os outdoors anunciando discotecas com festas temáticas de baile funk. Nas listas portuguesas dos vídeos mais assistidos no YouTube e das músicas mais ouvidas no Spotify os brasileiros sempre ocupam as primeiras posições.

Artistas como MC Kekel, MC Kevinho, Simone & Simaria, Aldair Playboy e Thiago Brava são tão famosos por aqui quanto no Brasil. Anitta, Ivete Sangalo e Wesley Safadão, assim como no Brasil, em Portugal também ocupam o posto de celebridades.

O casal Ines Batista, 31, Renato Monteiro, 34, curte o Rock in Rio Lisboa 2018 - Felipe Branco Cruz/UOL - Felipe Branco Cruz/UOL
O casal Ines Batista, 31, Renato Monteiro, 34
Imagem: Felipe Branco Cruz/UOL
A proximidade linguística, obviamente, é um dos fatores determinantes, porém não explica completamente porque os portugueses gostam das nossas músicas mais populares. Para tentar entender, conversamos com o público português que estava no primeiro dia do Rock in Rio Lisboa e também com jornalistas da mídia especializada de Portugal.

Popular entre os jovens

As amigas lisboetas Leonor Cardoso, 20, e Cristiane Leal, 21, se esbaldavam em frente ao palco Music Valley minutos antes do show da dupla brasileira Anavitória. “Eu amo funk. Amo MC Kevinho, MC Livinho e Seu Jorge. Descobrimos eles pelo YouTube”, contou Leonor. “As músicas deles sempre tocam nas discotecas e a gente adora quando a festa é temática de Baile Funk”, completou Cristiane. Para as duas, os novos artistas brasileiros sabem como divertir a juventude, o que não acontece com os cantores portugueses.

O casal Inês Batista, 31, e Renato Monteiro, 34, gostam de ouvir Ivete e samba. “Nós também gostamos muito de Anitta. Até tentamos comprar ingressos para o show de amanhã, mas já estavam esgotados”, lamentou Inês. “Nós já estamos acostumados com o sotaque de vocês e já sabemos até imitá-lo”, brincou Renato de tanto ouvir música brasileira. Um dos shows que o casal mais gostou foi o de Anavitória. “A conhecemos depois que fizeram parceria com o cantor português Diogo Piçarra".

Tiago David, 24, ao centro de chapéu e óculos, curte o Rock in Rio Lisboa 2018 com os amigos - Felipe Branco Cruz/UOL - Felipe Branco Cruz/UOL
Tiago David, 24, ao centro de chapéu e óculos, curte o Rock in Rio Lisboa 2018 com os amigos
Imagem: Felipe Branco Cruz/UOL

“Guilty Pleasure”

O jornalista cultural Tiago David, 24, que trabalha para o portal Sapo, o maior de Portugal, acredita que a música brasileira está, aos poucos, moldando a cultura portuguesa. Ele aponta Anitta, Pabllo Vittar, Jão, Ludmilla e Mallu Magalhães como os nomes que mais têm se destacado por aqui.

O jornalista da Sapo Mag, Tiago David, 24, na sala de imprensa do Rock in Rio Lisboa - Felipe Branco Cruz/UOL - Felipe Branco Cruz/UOL
O jornalista da Sapo Mag, Tiago David, 24, na sala de imprensa do Rock in Rio Lisboa
Imagem: Felipe Branco Cruz/UOL
“O sertanejo ainda é um fenômeno que está no começo. Mas no final do ano vamos ter a festa Villa Mix por aqui. Duplas como Maiara & Maraísa e Naiara Azevedo já estão começando a fazer sucesso”, disse Tiago. Porém, assim como no Brasil, com vergonha, muitos portugueses não gostam de assumir que gostam desse tipo de música.

“Para mim, os portugueses têm sentimento de ‘guilty pleasure’ com relação à música brasileira. Nós gostamos, mas temos vergonha de assumir”, brincou.

De fato, foi possível notar esse sentimento em Daniel Martins, 24, e seus amigos, que vieram do Porto e de Póvoa de Varzim, ao norte do país. “Nós gostamos de heavy-metal e de rock”, disse enquanto ele e os amigos esperavam as namoradas voltarem do banheiro. Quando elas chegaram, no entanto, a história mudou e elas assumiram que gostavam de Anitta, MC Kevinho e Michel Teló.

“Está bem. Eu gosto de Gusttavo Lima”, contou Daniel. “Acho que as músicas brasileiras são muito fáceis de decorar e toda semana surge uma nova”, disse.

O jornalista Gonçalo Dourado, da 100% Deejay, na sala de imprensa do Rock in Rio Lisboa 2018 - Felipe Branco Cruz/UOL - Felipe Branco Cruz/UOL
O jornalista Gonçalo Dourado, da 100% Deejay
Imagem: Felipe Branco Cruz/UOL
Gonçalo Dourado, subeditor do portal 100% Deejay, um dos maiores de música eletrônica de Portugal, acha importantíssima a troca cultural promovida pela música brasileira.

“Qualquer influência é boa para nós. Precisamos dessa troca permanentemente”, disse. Ele citou como exemplo a funkeira luso-brasileira Blaya. "Ela está em primeiro lugar agora. Ela nasceu no Brasil mas foi criada em Portugal. A música dela é a mistura dos dois países", afirmou. Blaya será uma das atrações do segundo final de semana do Rock in Rio Lisboa.

Do Brasil, além dos nomes dos cantores já citados nesta reportagem, ele lembrou também dos DJs brasileiros, como Vintage Culture e Alok. “Temos muito interesse no trabalho deles”. Porém, na hora de apontar seus cantores brasileiros favoritos, ele ficou com os mais antigos, como Vanessa da Mata, Natiruts, O Rappa e Gabriel O Pensador. “A língua nos aproxima. Dá para sentir o clima tropical brasileiro em suas músicas. Vocês têm energia e nós gostamos muito disso”.