Saiba quem é a responsável por mudar a forma como se vê documentários na TV

"Você tem que ver esse documentário. Tem na Netflix". A frase se tornou comum seja numa roda de bar quanto nas redes sociais. É natural que o serviço de streaming tenha nascido com o foco em filmes e séries, mas os documentários têm ganhado espaço importante no feed da Netflix e nas rodas de conversa.
Muitas vezes rejeitados por grandes emissoras, é para lá onde as séries documentais, grandes reportagens e dramas inspirados em fatos reais correm. E uma pessoa tem grande parcela de responsabilidade por essa crescente: Lisa Nishimura.
Rainha dos documentários
Em julho de 2015, dois cineastas, Chapman e Maclain Way, fizeram uma reunião com Lisa Nishimura e sua equipe. A ideia era boa, mas já havia sido rejeitada em vários canais de TV: contar a história de Rajneeshpuram, comunidade rural no Oregon liderada pelo guru indiano Bhagwan Shree Rajneesh. Hoje já sabemos que o documentário "Wild Wild Country" é um sucesso. Na época, as TVs queriam um perfil de alguém mais conhecido ou com fãs mais consolidados.
"Nós já sabíamos quais eram os crimes, as pessoas já haviam se declaradas culpadas. Não havia muita investigação. Era mais sobre 'descascar essa pele' cultural e política e examinar o grupo que conduziu o maior ataque terrorista bioquímico dos Estados Unidos", afirmou Mclain à revista Vanity Fair.
Lisa Nishimura não sentiu falta de um nome mais importante e nem desmotivada pela dupla querer contar essa história em seis horas e meia. Ela viu que "Wild Wild Country" tinha potencial de mostrar figuras complexas e complicadas dignas de um drama de TV.
O faro apurado de da executiva já havia sido notado nos corredores da Netflix desde que "Making a Murderer" havia se tornado um sucesso.
Ritual matinal
Lisa Nishimura mora na região oeste de Los Angeles. Ela acorda antes de seu marido e do filho, e é neste período matinal que reserva tempo para assistir aos documentários enviados para sua avaliação. "Nas mãos de um bom documentarista, você consegue entender como aqueles indivíduos funcionam, sabe? E tem algo mágico sobre isso", afirmou.
A executiva cuida do departamento na Netflix desde 2013. E foi naquele ano que ela recebeu de Laura Ricciardi e Moira Demos a premissa de "Making a Murderer".
"Eu estava completamente absorvida na história. Pensar que são documentaristas de primeira viagem pode fazer sua pressão subir um pouco, mas não se você olhar nos olhos e ver o material que têm", continuou.
Quando o documentário que narra a condenção de Steven Avery foi lançado, a Netflix apostava em grandes produções exclusivas, como "House of Cards". Foi ali que ela percebeu que poderia desmembrar os documentários como as séries.
Bossa nova e a Netflix
Antes de entrar na gigante do streaming, Nishimura trabalhou com Chris Blackwell, fundador da Island Records, onde diz ter aprendido muito sobre negócios e música. "Estar perto dele me fez entender que o artista sempre vem em primeiro lugar. Isso muda a maneira que você funciona", disse.
Na época, era responsável pelo marketing de alguns gêneros bem específicos: música eletrônica alemã, reggae e bossa nova. E mais tarde começou a tomar conta da divisão de filmes, o que fez conhecer Ted Sarandos, atual chefe de conteúdo da Netflix, em uma conferência.
Mais tarde, ele a ofereceu um emprego que seria crucial para expandir o catálogo do serviço. "Eu comprava animes dos estúdios japoneses, programas de terros da Escandinávia, dramas franceses, filmes independentes norte-americanos. O que era empolgante é que foi meu primeiro trabalho global", explicou.
Com o tempo, seu foco ficou exclusivamente nos documentários.
Cindy Holland, vice-presidente de séries originais da Netflix, explica como funciona a abordagem de Lisa. "Contar histórias e entender o que está acontecendo no mundo de uma maneira bem particular. Lisa é realmente muito boa em apoiar as pessoas que estão cavando e iluminando essas especifidades", afirmou.
Crescimento do gênero
"Ano após ano você que vê que o nível do investimento e o compromisso com o espaço dos documentários têm crescido em um nível global", disse Nishimura.
A influência da Netflix para o investimento no gênero é nítida. Faça um exercício e procure lembrar alguns nomes de documentários que surgiram nas conversas nos últimos tempos.
"Making a Murderer", "Wild Wild Country", "Minimalism", "Jim & Andy: The Great Beyond", "Ícaro", "Kurt Cobain: Montage of Heck", "What Happened, Miss Simone" e "Blackfish" são só alguns disponíveis no serviço.
Para Nishimura, a melhor coisa que ela ouve quando é abordada por fãs é: "Eu vi esse filme incrível e quando eu estava na metade eu me dei conta de que era vida real".
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