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"This Is Acre": Youtubers acreanos bombam brincando com "lendas" do estado

Cena de "This is America (Versão Acre)", do canal do Youtube Lugar Inexistente - Reprodução
Cena de "This is America (Versão Acre)", do canal do Youtube Lugar Inexistente Imagem: Reprodução

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

15/06/2018 04h00

“Isso é o Acre / Se os homem branco (sic) invadir / Eu meto a flechada”. Nascer no Acre é ouvir um caminhão de piadas duvidando da existência do local, dizendo que por lá só tem índios e até que os dinossauros não foram extintos no estado. Um canal no Youtube vem aproveitando essa fama para rebater as “lendas” e retrucar as piadas, bombando seus vídeos com versões locais de temas como Mortal Kombat e o recente hit “This is America”.

O “Lugar Inexistente” foi criado em 2013, como uma brincadeira despretensiosa de alguns jovens que queriam justamente mostrar a identidade do Acre. Hoje, são sete garotos que têm entre 16 e 20 anos e se juntam no sítio do avô de um deles, no interior do Acre, para criar suas produções cômicas e um bocado toscas.

Recentemente, eles bombaram com a “versão Acre” de “This is America”, música de Childish Gambino que ficou famosa por seu clipe com críticas sociais. Em vez de falar de racismo, eles falam de dinossauros, flechas e índios. E, apesar de brincarem com a própria fama, sempre usam um tom em que dão poder aos próprios acreanos. O resultado foi que esta semana o vídeo passou de 1 milhão de visualizações.

“Eu tenho uma noção de quantas visualizações pode dar e achei que ia passar de 100 mil. Mas não sabia que seria esse tanto”, admite Uandry Andrade, que aparece no papel de Childish Gambino, cantando no clipe.

“Eu fiquei assistindo ao clipe várias vezes para pegar as referências, aí fizemos o roteiro, passei pros moleques e a gente fez aquelas danças lá. A gente tem que segurar muito pra não rir nas gravações”, conta o estudante de educação física.

O primeiro sucesso

Vindos de Mâncio Lima, cidade a 800 km da capital Rio Branco, próxima da fronteira do Peru e com menos de 15 mil habitantes, os youtubers começaram de forma modesta, sem roteiro e pensando nas piadas no ato, na hora de gravar.

“Já tinha essa piada de que Acre não existe, que aqui é pré-histórico. Eu e um amigo falamos: vamos criar um canal pra mostrar que a gente não liga pra essa zoeira. É aquela coisa, se você ficar com raiva, vão zoar mais, mas se você zoar junto, se diverte mais”, diz Uandry.

A coisa começou a crescer com o “Rap do Acre”. “Cola com nóis na aldeia, que o bagulho aqui é raro / Ostentação no Acre é ter um velociraptor”, diz a letra. Foi a primeira produção deles a passar de 100 mil visualizações. “É uma zoeira, mas falando 'eu sou foda'. Aqui tem dinossauro, e aí não. É sempre colocando para cima.”

Mas isso não quer dizer que entre os conterrâneos eles fizessem esse sucesso todo. A maioria dos espectadores vinham de fora, e muitas vezes os acreanos não entendiam as ironias e ficavam cabreiros com as brincadeiras. “Hoje em dia o pessoal gosta mais, mas teve época que achavam que a gente não era do Acre. Ainda tem gente que fica irritadinha, mas aí eu faço mais, porque dá mais view”, provoca Uandry, que diz que os acreanos são muito conectados com o estado e vão para a briga para defender sua terra.

Mortal Kombat

Uma das grandes paixões do pessoal do Lugar Inexistente são as lutas. Uandry, por exemplo, treinou kung fu e começou a colocar seu gosto por esse mundo nos vídeos, inspirado pelo canal do Youtube RackaRacka. O “Mortal Kombat Versão Acre” mostra os garotos lutando e fazendo piadas, enquanto efeitos especiais toscos aparecem para dar ênfase nos golpes e “fatalities”.

Acre - Reprodução - Reprodução
Uandry Andrade como Sub-Índio, versão acreana do Subzero
Imagem: Reprodução

“Esse foi o que bombou de verdade. Mas não direto. Em duas semanas, ele tinha só 500 views. Depois, o ‘Não Salvo’ compartilhou e bombou. Chegou em uns 300 mil. Um ano depois, do nada, subiu de novo e hoje está aí com 3 milhões. Nem a gente imaginava”, admite o youtuber.

Uandry conta que o canal é uma grande diversão. Por um lado, eles fazem tudo pelo prazer de darem risada juntos. Por outro, há uma vontade de que o que hoje parece tosco vire algo profissional e de ponta.

“Se fosse por dinheiro, já tinha desistido. Todo mundo pensa que a gente ganha muito dinheiro”, diz Uandry. O que o canal recebe vai para comprar equipamentos e figurinos. Por enquanto, ele ainda tem de lidar com computador que trava e não consegue fazer todos os efeitos especiais que gostaria. Mas sonha grande.

“O objetivo é sempre fazer vídeos melhores. Quero estar num nível de Netflix. Eu quero fazer produções bem feitas, quero elevar o nível da zoeira. Se for ver, os canais gringos fazem coisa melhor que muito filme. O problema é que dá muito trabalho e o computador que tenho é ruim, ruim. Trava, fecha, tenho que começar de novo...”, lamenta Uandry, confiante em aposentar logo o computador “pré-histórico” que tem lá em Mâncio Lima.

Descrito em seu perfil no Youtube como “mostrando que o Acre e os acreanos existem e como ele é lindo”, o canal totaliza, até hoje 25,3 milhões de visualizações em seus vídeos.