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João Rock mistura os 50 anos da tropicália com o descontentamento político de hoje

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em Ribeirão Preto*

11/06/2018 10h47

A 17ª edição do João Rock rolou no último sábado (09) em Ribeirão Preto e reuniu alguns nomes da Tropicália, tema homenageado pelo festival neste ano. Junto com Gilberto Gil, Os Mutantes, Caetano Veloso e Tom Zé, atrações tradicionais do festival também marcaram presença como  Skank, Pitty, Criolo, Raimundos, Planet Hemp e Natiruts.

A Tropicália nunca ficou caracterizada como um movimento com mensagens diretas contra a política, mesmo surgida durante a ditadura militar, mas parece ter evoluído de tal forma que hoje é impossível pensar na dinâmica sem contestar tantos impropérios dos governantes.

O João Rock 2018 trouxe atrações que se manifestaram em cima do palco sobre questões sociais, de Gabriel, O Pensador versando sobre matar o presidente a Pitty jogando na cara a força das mulheres em um trio poderoso com Tássia Reis e Emmily Barreto.

Digão, vocalista do Raimundos, orquestrou um "Fora, Temer" com os 50 mil que lotaram o Parque Permanente de Exposições e pediu o fim dessas "velhas raposas da política brasileira". O coro teve início justamente por iniciativa da galera que se amontava para garantir a melhor visão do palco. E o resultado disso tudo foi uma versão raivosa de "Esporrei na Manivela".

Outros que não pouparam trabalho foram Marcelo D2 e BNegão, a dupla do Planet Hemp, que aconselhou a não votar no pré-candidato a presidência do PSC nas eleições deste ano em outubro.

"Não é possível que alguém vote no Bolsonaro", reclamou D2. O parceiro criativo completou: "Desejo boa sorte para o país, Quem quer que o país ande para frente, não vota Bolsonaro. Chega de tortura, racismo, esquadrão da morte".

Em entrevista ao UOL, Criolo analisou o que falta para o Brasil. "Antes de tudo, é necessário uma valorização extremamente séria com a educação do país, que todos possam ter acesso à educação de um modo digno".

50 anos da Tropicália

Os Mutantes, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Tom Zé se apresentaram para celebrar os 50 anos do movimento que quebrou arestas tradicionais da cultura.

O chute inicial foi dado por Sérgio Dias, o único remanescente do trio original formado ainda por Rita Lee e Arnaldo Batista, resgatando hinos do clássico álbum homônimo do grupo lançado em 1968, como "A Minha Menina" e "Panis et Circenses". O vocalista/guitarrista também criticou Michel Temer, e ainda pediu para o presidente um pouco de dignidade para o povo.

Em seguida, o Refavela 40 (projeto com Gilberto Gil, Moreno Veloso, Anelis Assumpção Chiara Civello, Bem Gil e Mestrinho) apareceu com a proposta tropicalista de unir tribos, culturas, gêneros musicais e regionalismo brasileiro.

Caetano e os filhos pouparam os discursos políticos, mas transformaram o palco Brasil na sala de estar da família Veloso, lembrando de hits antigos e explorando o talento na família no belo álbum "Ofertório".

Para encerrar o espetáculo, Tom Zé aprontou das suas desconstruindo a forma como se faz um show, brincando com palavras, driblando a própria sensatez, criando estripulias em cima do palco e colocando a boca no trombone: "Ordem e Progresso uma p****, é Ordem e Regresso".

*O jornalista viajou a convite do João Rock.